segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O que eu fiz para merecer isto? por Felipe Tolci



Ao assistir a uma obra do diretor Pedro Almodóvar, é preciso estar sempre preparado para a imprevisibilidade. Um filme neo-realista tragicômico, Que Fiz Eu Para Merecer Isto? - original de 1984 e relançado agora nos cinemas brasileiros - apresenta de maneira bem característica o estilo que o cineasta modelou ao decorrer da carreira.

Apesar de polêmico por chocar alguns amantes do cinema mais puritanos, é inegável o talento do diretor para agrupar diversos gêneros num só instante, criar situações arrebatadoras e dar vida aos seus personagens, por menor que seja sua participação na trama. Em Que Fiz Eu Para Merecer Isto?, Almodóvar não tem pudor e já abre a película com uma cena de sexo. Aos poucos, vai expelindo suas doses de sarcasmo, insanidade e bom humor.

A protagonista é Gloria, vivida dignamente por Carmem Maura, parceira de trabalho do cineasta, tendo protagonizado outros de seus filmes, como Matador (1986) e, o mais conhecido, Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos (1988). Insatisfeita com a vida que está levando, quase na miséria e em crise no casamento com o bruto taxista Antônio (Angel de Andres Lopez), a faxineira perde as estribeiras. A situação só piora quando é obrigada a passar por uma fase de abstinência sem poder comprar seu remédio para dormir. A escolha de Carmem foi fundamental, pois ela consegue transmitir perfeitamente a condição forte e impulsiva que sua personagem necessita.

No pequeno apartamento onde vive, Gloria divide a casa com seus dois filhos pré-adolescentes com tendências marginais e a sogra, avarenta e enxerida. Completa o núcleo da trama Cristal (Verônica Forqué), a vizinha que trabalha como prostituta e não deixa a protagonista em situações menos embaraçosas.

Almodóvar mostra já ter um bom domínio das câmeras neste filme, o segundo de sua carreira. Apesar do roteiro e a construção final imaturos, não faltam boas idéias e experimentações, as mesmas que o diretor aprendeu a lapidar com o tempo, fazendo com que o tornasse o principal representante do cinema espanhol.

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