segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Entrevista Sílvio Tendler

Entrevista com o cineasta Silvio Tendler, realizada dia 25 de novembro, na sua visita a Juiz de Fora para a exibição e debate do seu filme no Encontro de Blogueiros Progressistas. Ele discorre sobre a importância das utopias para a produção artistica; das lições que a história nos deu; Da importância da arte alternativa para a renovação artistica do país; E também da genialidade do grande Galuber Rocha.


Carta aberta a Dilma Rousseff sobre Reforma do Direito Autoral

Para presidenta eleita Rousseff e cidadãos do Brasil



No debate brasileiro sobre a lei de direito autoral, uma melhoria importantíssima foi sugerida: a liberdade de compartilhar obras publicadas em troca de uma taxa cobrada dos usuários de Internet ao longo do tempo. Reconhecer a utilidade à sociedade do compartilhamento de arquivos via Internet entre os cidadãos será um grande avanço, mas esse plano levanta uma segunda questão: como utilizar o valor arrecadado? Se usado adequadamente, ele oferece a chance de um segundo grande avanço, em apoio à arte.

As editoras costumam propor usar o dinheiro para “recompensar” os “titulares dos direitos” — duas más ideias juntas. “Titulares dos direitos” é uma forma disfarçada de direcionar o dinheiro principalmente às editoras em vez de aos artistas. Quanto a “recompensar”, esse conceito é inadequado, pois significa pagar a alguém para fazer um trabalho, ou compensar essa pessoa por tirar algo dela. Nenhuma dessas descrições se aplica à prática do compartilhamento de arquivos, já que os ouvintes e espectadores não contrataram as empresas nem os artistas para realizarem um trabalho, e compartilhar mais cópias não lhes tira nada. (Quando eles alegam ser prejudicados, é em comparação com seus sonhos.) Editoras utilizam o termo “recompensar” para pressionar outros a verem a questão da forma como elas a vêem.

Richard Stallman
Não há necessidade de “recompensar” ninguém pelo compartilhamento de arquivos entre os cidadãos, mas apoiar os artistas é útil para a arte e para a sociedade. Se o Brasil adotar um sistema de taxa de licença para o compartilhamento, ele deve projetar o sistema para distribuir o dinheiro de forma a apoiar os artistas com eficiência. Com este sistema em funcionamento, os artistas se beneficiarão quando as pessoas compartilharem suas obras e incentivarão o compartilhamento.

Qual a forma eficiente de apoiar a arte com esse dinheiro?

Primeiramente, se o objetivo é apoiar os artistas, não dê a verba às editoras. Apoiar as editoras praticamente não apóia os artistas. Por exemplo, as gravadoras pagam aos músicos uma pequena parte ou nada do dinheiro que elas recebem pela venda de álbuns: os contratos de gravação dos músicos são minuciosamente projetados para que os músicos não recebam “seu” quinhão das vendas de álbuns a menos que um álbum venda um tremendo número de cópias. Se a arrecadação pelo compartilhamento de arquivos for distribuída às gravadoras, ela não alcançará os músicos. Contratos com escritores não são tão ultrajantes assim, mas até mesmo os autores de “best-sellers” podem receber pouco. O que a sociedade precisa é apoiar melhor estes artistas e autores.

Proponho, portanto, distribuir as verbas somente para os participantes criativos e garantir, por lei, que as editoras sejam impedidas de cobrá-las de volta ou deduzi-las do que devem ao autor.

A taxa seria cobrada inicialmente pelo provedor de conexão à Internet (prestador do Serviço de Comunicação Multimídia). Como ela deve chegar ao artista? Ela pode passar pelas mãos de uma agência estatal; ela pode passar por uma entidade arrecadadora, contanto que as entidades arrecadadoras sejam reformadas para que qualquer grupo de artistas possa iniciar a sua.

Entretanto, os artistas não podem ser compelidos a trabalhar para as entidades arrecadadoras já existentes, pois estas podem ter regras anti-sociais. Por exemplo, as entidades arrecadadoras de alguns países europeus proíbem que seus membros publiquem qualquer coisa sob lcienças que permitam o compartilhamento (por exemplo, usando qualquer uma das licenças “Creative Commons”). Se a verba do Brasil para apoiar artistas incluir artistas estrangeiros, eles não devem ser compelidos a fazer parte dessas entidades arrecadadoras para receberem sua fatia das verbas brasileiras.

Qualquer que seja o trajeto seguido pelo dinheiro, nenhuma das instituições desse trajeto (provedor, agência estatal ou entidade arrecadadora) pode ter qualquer autoridade para alterar quais fatias serão destinadas a quais artistas. Isso deve ser claramente definido pelas regras do sistema.

Mas quais devem ser essas regras? Qual a melhor forma de dividir o dinheiro entre todos os participantes criativos?

O método mais óbvio é calcular a fatia de cada artista em proporção direta à popularidade de sua obra. A popularidade pode ser medida convidando 100 mil pessoas escolhidas aleatoriamente a fornecer as listas de obras que executaram. É isso que propostas de “recompensar os titulares dos direitos” geralmente fazem. Mas esse método de distribuição não é muito eficaz para promover a arte, pois uma grande fração das verbas iria para as superestrelas, que já são ricas ou ao menos confortáveis, deixando pouco dinheiro para apoiar os artistas que realmente precisam delas.

Eu proponho que, em vez disso, se pague a cada artista de acordo com a raiz cúbica de sua popularidade. Mais precisamente, o sistema poderia medir a popularidade de cada obra, dividi-la pelos artistas da obra para obter um valor para cada artista, depois calcular a raiz cúbica disso e determinar a fatia dos artistas em proporção a estas raízes cúbicas.

O efeito disto seria aumentar a fatia dos artistas moderadamente populares por meio da redução da fatia das superestrelas. Cada superestrela ainda receberia mais do que cada não superestrela, até várias vezes mais, mas não centenas ou milhares de vezes mais. Com essa alteração, uma dada soma total de dinheiro conseguirá apoiar adequadamente um maior número de artistas.

Promover a arte e a autoria apoiando artistas e autores é o objetivo correto de uma taxa de licença para o compartilhamento porque é o objetivo correto dos próprios direitos autorais.

Uma última questão é se o sistema deve apoiar autores e artistas estrangeiros. Seria natural que o Brasil exigisse reciprocidade de outros países como condição para lhes dar apoio a autores e artistas, mas penso que isto seria um erro estratégico. A melhor forma de convencer outros países a adotarem um plano como este não é pressioná-los por meio de seus artistas — eles não sentirão falta desses pagamentos porque não estão acostumados a recebê-los — mas educar seus artistas quanto aos méritos deste sistema. Incluí-los no sistema é a forma de educá-los.

Outra opção é incluir artistas e autores estrangeiros, mas reduzir o pagamento a 1/10 quando seus países não cooperarem reciprocamente. Imagine dizer a um autor: “Você recebeu R$ 50 da taxa brasileira de licença para o compartilhamento. Se seu país tivesse uma taxa semelhante e fizesse um acordo recíproco com o Brasil, você agora teria recebido R$ 500 do Brasil, somado à quantia de seu próprio país.”

Conheço um dos possíveis obstáculos à adoção deste sistema no Brasil: Tratados de Livre Exploração como aquele que estabeleceu a Organização Mundial do Comércio. Eles são projetados para fazer os governos agirem em benefício das empresas, não das pessoas; eles são os inimigos da democracia e do bem-estar da maioria das pessoas. (Agradecemos ao Lula por salvar a América do Sul da ALCA.) Alguns deles exigem “recompensa para os titulares dos direitos” como parte de sua política geral de favoritismo das empresas.

Felizmente, este obstáculo pode ser transposto. Se o Brasil se vir compelido a pagar pelo objetivo equivocado de “recompensar os titulares dos direitos”, ele ainda pode adotar o sistema apresentado acima. Aqui está como.

O primeiro passo rumo ao fim de um domínio injusto é negar sua legitimidade. Se o Brasil for compelido a “recompensar os titulares dos direitos autorais”, deve denunciar essa imposição como errada e ceder temporariamente a ela. A denúncia poderia ser colocada no preâmbulo da própria lei, da seguinte forma:

Considerando que o Brasil deseja incentivar a útil e prestativa prática de compartilhar, na Internet, obras publicadas;

Considerando que o Brasil é compelido pela Organização Mundial do Comércio a pagar aos titulares dos direitos o resgate dessa liberdade, mesmo que esse dinheiro vá apenas enriquecer as editoras em vez de apoiar artistas e autores;

Considerando que o Brasil deseja, além dessa exigência imposta, apoiar artistas e autores melhor do que o sistema atual de direitos autorais faz;

Em seguida, após estabelecer uma taxa para fins de “recompensa”, estabelecer uma segunda taxa adicional (igual ou maior em valor) para apoiar os autores e artistas. O plano desperdiçador e equivocado da “recompensa” não deve ser um substituto para o plano útil e eficaz. Então, implemente-se o plano útil e eficaz para apoiar os artistas diretamente, pois isso é bom para a sociedade, e implemente-se a “recompensa” exigida pela OMC, mas somente enquanto a OMC mantenha o poder de impô-la.

Isto iniciará a transição para um novo sistema de direitos autorais adequado à era da Internet.

Obrigado por considerar estas sugestões.

Richard M. Stallman

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

MANIFESTO DO CINEMA

Para vocês, o cinema é um espetáculo.
Para mim, é quase uma concepção do mundo.
O cinema é o veículo do movimento.
O cinema é a repulsa às literaturas.
O cinema é o destruidor da estética.
O cinema é um esporte.
O cinema é o princípio das idéias.
Mas o cinema está doente. O capitalismo cegou seus olhos com um punhado de pó de ouro.
Os hábeis empresários o levam às ruas pela mão.
Amontanham dinheiro comovendo os corações com argumentinhos chorosos. 
Isto deve acabar.

Maiakovski. 1922.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

The Rock Horror Picture Show



























Em uma época em que rock´n roll era o estilo musical; em que travestis não era apenas uma opção sexual, e sim normal; em que o sexo e o prazer eram os mais deliciosos delírios – dá uma musical legal, não? – fora lançado um musical que retratava muito desta época de rebeldia: The Rocky Horror Picture Show – não fora traduzido aqui no Brasil – onde, do início ao fim, somos apresentados a um verdadeiro show.

Raramente, vemos um musical assim. Repleto de humor e músicas variadas, como a dança do tempo, a melhor das músicas, e muito mais... Quando o filme inicia somos apresentados a Janet (Sarandon) e Brad (Bostwick), um casal comum que se ama, porém ainda não provaram do fruto proibido. Chegando lá, são recebidos por Frank-N-Furter (Curry, a melhor atuação do filme), um transexual da Transilvânia. Lá, muitas surpresas irão por vir.

O talento de Tim Curry foi fundamental para o equilíbrio desta interessante produção, sem sua atuação o filme perderia a graça. São seus, os melhores momentos do filme. Temos também uma Susan Sarandon em início de carreira – e sexy também! – e talentosamente, ela interpreta Janet como uma inocente mulher que, ao longo do filme, descobre que pode ser muito mais que isso. Enquanto Barry Brostwick interpreta o noivo de Janet, o Brad, ele interpreta bem o personagem. O resto dos atores estão bons também no papel.

As músicas são bem amarradas e as melhores do filme, são, sem dúvida nenhuma, a interpretada por alguns travestis, a “Dance Warm” e também a interpretada por Meat Lof, cujo nome escapou agora e também tem a “Touch-Me”, quando Susan Sarandon tenta seduzir Eddie. Sim, os números musicais são legais, nada comparado a coreografia de Hair, mas são curiosas.































Embora o filme seja divertido e interessante, a fotografia deixa a desejar; os efeitos visuais são típicos da época, não digo ruins, mas também não digo ótimos – O Mágico de Oz, por exemplo, contando com aqueles efeitos impressionantes para a época, 1939... Mas não há como comparar, são histórias e épocas diferente – mas os raios desta produção são desenhos, por assim dizer, um desenho como Batman ou qualquer outro tem raios até melhores que este, mas deixa...

Por mais que The Rocky Horror Picture Show – sem tradução aqui no Brasil?! – representou uma mudança cinematográfica, e nos cinemas ele é exibido até hoje em sessões da meia-noite e todos o assistem de pé. Também, é um verdadeiro show cinematográfico. Um espetáculo do cinema.

QUARTA - 15/12 - 19H ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO 

Eraserhead




















Aparentemente, Eraserhead não tem significado algum. Eu acredito nisso. Escrever sobre esse filme é uma empreitada e tanto, já que, em determinado momento, a trama perde totalmente o controle, dando espaço a uma sucessão de imagens surrealistas dignas de comparação ao clássico Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel, ou a projetos experimentais de nomes consagrados do cinema como Bergman ou Fellini. Seu realizador, David Lynch (para mim, o maior cineasta em exercício no mundo), se nega até hoje a pronunciar uma única palavra sobre ele — cabe ao espectador elaborar a própria interpretação. Eraserhead não se encaixa a qualquer gênero; já foi chamado de terror, comédia de humor-negro, drama, neo-noir, ficção científica, etc. Num plano geral, trata-se de uma alucinante viagem ao universo imperfeito e cheio de arestas da condição humana, esboço daquilo que se transformaria no mote essencial da carreira de Lynch.

A primeira parte, apesar de estranhíssima, é muito precisa com relação ao enredo: Henry Spence, um homem solitário e dono de um penteado — digamos — exótico, recebe o convite da namorada, Mary, para jantar na casa dos pais dela. Lá, descobre que Mary teve um filho seu, porém a criança veio ao mundo “deformada”. Os dois se casam e vão morar no claustrofóbico quarto do rapaz, localizado num bairro industrial com cara de campo de concentração abandonado. Vemos aí a inquietante imagem do bebê, algo mais similar
a uma cabeça de bezerro ou a um filhote de cabra. Em vez de repousar num berço, como se supõe, a criatura permanece enrolada no cobertor sobre uma cômoda, como se fosse mais um adereço daquela decoração lúgubre e decadente.

O grande atrativo vem na segunda metade, quando Lynch passa a rechear o filme de seqüências oníricas e indecifráveis, mais do que na primeira parte. O público desavisado observa tudo com estranheza, talvez com um pouco de choque. Uma segunda conferida é sempre recomendada, inclusive aos fãs habituais do diretor. Existe aqui a possibilidade de ilimitadas facetas, tal como em 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (célebre admirador de Eraserhead), nítida inspiração para a abertura e o desfecho cósmicos da obra. A imagem inicial de um céu negro, pontilhado de estrelas, com um objeto ao fundo — um planeta? um meteoro? uma lua? —, com o reflexo do rosto de Henry no primeiro plano, parece fazer anúncio a uma viagem galáctica. Entretanto, no lugar de uma nave espacial, vemos um tipo de ameba ou minhoca alienígena se contorcer num solo pedregoso e cair numa poça d’água. Mais insólito, impossível!

A fotografia kafkiana reforça o pesadelo cinematográfico da fita. O elenco e os cenários são constantemente espreitados por uma luz incidente, quase estourada, fatiada por sombras duras e chapadas. O preto-e-branco é explorado com eficácia na elaboração de uma atmosfera sinistra, fazendo um casamento perfeito com os demais artifícios técnicos. Lynch jamais experimentaria efeitos visuais e sonoros com tanta segurança novamente. O zunido de uma luminária, o bramir do vento, o choro do “bebê”, enfim, todos os sons que escutamos ao longo da narração, aliados a uma trilha musical de idêntica bizarrice, convergem-se numa experiência singular.

É interessante comentar que o filme levou meia década para ficar pronto. O diretor não dispunha de muito dinheiro, era então desconhecido. Assim, o ator Jack Nance teve de agüentar aquelas madeixas à la Noiva de Frankenstein por anos, entre a primeira tomada e a última — tomadas que ficavam cada vez mais espaçadas, até a verba total ser obtida. Concluído, o trabalho fez relativo sucesso no mercado independente e logo virou cult, fato corriqueiro na filmografia de Lynch, que inclui, entre outros, O Homem Elefante, Veludo Azul e A Estrada Perdida.

Descrever as imagens mais hipnóticas de Eraserhead seria impensável, pois extrairia o vigor da obra. Basta uma breve advertência: não espere um filme com começo, meio e fim. Longe de ser uma peça de contestação ou escândalo, é antes de qualquer coisa um poema abstrato, a obra seminal de um artista inventivo, amado e odiado. E David Lynch segue fiel ao intuito de escrever personagens prisioneiros de sua condição humana, buscando uma saída, seja ela por meio da morte, da loucura, da amnésia, de investigações, de viagens, etc. Com Eraserhead, ele mostrou a que veio e arrematou um de seus trabalhos mais pessoais, brindando-nos com planos de espantosa originalidade.

QUARTA - 08/12 - 19h no Anfiteatro João Carriço



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Veludo Azul




















Por Carlos Massari

Existem filmes que são impecáveis, com sintonia perfeita entre direção, roteiro, elenco, trilha sonora e outras partes. São filmes que costumam nos deixar por muito tempo felizes pelo simples fato de ter contemplado aquela obra-prima. `Veludo Azul` é um desses casos, trazendo uma direção arrebatadora de David Lynch, jogada por cima de um roteiro visceral e apreensivo, que resgata o clima noir do lixo que o envolve a tempo.

 Esse suspense é de fazer inveja em Alfred Hitchcock, que deve ter aplaudido de pé quando viu. A história já tem um clima tenso ao extremo: Em uma cidade pequena e pacata, Jeffrey, um jovem estudante, acha uma orelha em um campo perto de sua casa. Então, ele resolve se envolver no caso, junto com a filha de um detetive. Então, entra na trama Dorothy, uma cantora de cabaré, a mulher mais desejada da cidade, que, por sua vez, é sadomasoquista, e guarda muitos segredos familiares. Junto com ela, entra as ligações de Frank, um traficante de drogas muito perigoso, que tem um caso com Dorothy. A partir desses quatro personagens básicos, a história começa a girar, e tecer uma rede de intrigas cada vez maior, e, o melhor de tudo, isso é feito com sutileza. Embora a trama seja um pouco pesada, o filme não se revela dessa maneira. Graças a direção espetacular de David Lynch.

Os detalhes apresentados, e os closes são sempre precisos, a câmera sempre focaliza de um ângulo inusitado, que a grande maioria dos espectadores não está acostumada a ver. É um estilo próprio de Lynch, que hoje já vem fazendo escola e ganhando mais adeptos. Só para se ter uma idéia, há cenas em que Lynch mostra o desfecho de alguma coisa, ou uma discussão ou briga, através da parede, mostrando as sombras dos personagens. Também há uma passagem que é mostrada sob a vista de dentro de um armário, na qual o personagem principal, Jeffrey, está dentro do armário da casa de Dorothy, observando atentamente as relações entre a dançarina e o traficante Frank. Esses padrões são anti-tradicionalistas para Hollywood, por isso Lynch nunca vez sucesso lá. E o diretor também escreveu o genial roteiro do filme. Quer dizer, tem o mesmo grau de maestria da direção. A rede de intrigas é intacta, não tem nem sombra de furo, o que deixa ua trama que, aparentemente é tão complicada, como uma coisa fácil de acompanhar. Além disso, tudo o que é apresentado tem seu lugar para ajudar a desenvolver a história. Acredito que, quando Lynch escreveu o filme, tinha como preocupação fugir dos clichês batidos do gênero. Tanto que tudo é original para a época em que o filme foi lançado, o romance ainda cola, e os personagens tem vida, ao contrário da situação capenga do cinema atual. A trilha sonora também tem ótimos momentos, a musiva `Blue Velvet`, que toca em boa parte do filme tem um impacto forte, e muita ligação com a história. Tanto que dá nome ao filme.

















Já o elenco tem nomes fortíssimos, como Kyle Maclachilan, que na época em que o filme foi feito não era muito famoso. Assim como todos que tem um papel forte, ajudados pela complexidade que o roteiro dá aos personagens, Kyle está perfeito em cena. Transmite medo e apreensão ao espectador, e com muito carisma. Já Isabella Rosselini (Dizem que se separou do diretor David Lynch por cupla de um close em sua celullite) Dennis Hopper e Laura Dern também cumprem sues papéis, formando uma esquadra com total sintonia em cena. Ainda não se convenceu da força de `Veludo Azul`? Então saiba que não há sustos artificiais, e sim uma sub-trama policial bem montada, que pode servir de pano de fundo para críticas contra o sistema. Saiba que há um romance não-piegas, mas com facilidade para emocionar o espectador. Melhor que isso, só assistindo o filme, já que hoje em dia, está cada vez mais difícil ver filmes com esse nível fantástico.

QUARTA - 01/12/2010 - 19h ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO