terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Freaks




Censurado, impactante, único. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser facilmente veiculados ao filme de 1932. Tod Browning, que havia dirigido Drácula no ano anterior, realiza essa película baseada na estória “Spurs” de autoria de Tod Robbins, sobre um grupo de seres humanos deformados, expostos como aberrações num circo.

Segundo consta em sua biografia, o bem nascido Browning, teria fugido de sua casa no Kentucky aos 16 anos para se juntar a um circo, graças à paixão juvenil que nessa época, nutria por uma bailarina. Essa página de sua história é tão relevante que as experiências vivenciadas por ele reverberam nos seus filmes posteriores e claro, em Freaks, sua obra mais controversa.

Numa inversão de conceitos entre aberrações e “normais”, o que se acompanha é o interesse de Cleópatra, uma trapezista dotada de beleza e nenhuma riqueza moral, que tem em seu amante Hércules, o par perfeito para explorar o anão Hans, em busca dos níqueis herdados por ele. Cleópatra seduz, manipula, e envenena o pequeno pouco a pouco. Humilha-o durante um jantar de casamento perante os outros “monstros”, que até o momento a aceitava de braços abertos aos brados de “Nós a aceitamos, como uma de nós”. Mas como nos é revelado no prólogo do filme, entre as criaturas do circo, existe um código de proteção mútua sério, já que a união é a única forma de se defenderem das ofensas, maus tratos e da marginalidade, ao qual estão sujeitos desde o nascimento.

Quando lançado no início dos anos 30, a reação do público foi de repulsa e choque. Uma mulher chegou a acusar o filme de tê-la feita sofrer um aborto espontâneo durante sua exibição, e assim Freaks recebeu da MGM um corte de cerca de 30 minutos de sua duração total, tendo perdido trechos que nunca mais seriam recuperados, além de ser banido pelo mundo todo até os anos 60, quando foi redescoberto pelos cinéfilos.

Por toda essa bagagem que o filme possui, fica claro que Freaks não é para todo o espectador, infelizmente. Não são muitos os dotados de sensibilidade, os capazes de observar uma obra que carrega em si o preconceito que muitos de nós temos em relação ao que é normalmente tido como feio e diferente. Tendo incomodado por décadas, tanto o público quanto os censores, Freaks se tornou um espinho difícil de ser arrancado. E através de sua ousadia e humor negro e mordaz, sua contemporaneidade vai continuar instigando os cinéfilos e a sociedade, ainda que de forma modesta, por todo o mundo.

Por Rafaela Zampier

Dia 19/01 no Anfiteatro João Carriço - 19 horas