sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cinema Marginal






No final dos anos 60, o cinema brasileiro passava por um de seus momentos decisivos. O surgimento do cinema marginal e a expansão do super-oito foram, durante esse período, temas de debate entre diretores de diferentes gerações. Alimentando esses dilemas, estavam fatores como a expansão do seu mercado consumidor (salas de exibição e espectadores), a transformação paulatina da produção autoral do cinema novo em uma indústria cinematográfica e a fundação da Embrafilme em 1969.

O cinema marginal e as câmeras super-oito surgem nesse momento de impasses. Com a cisão do cinema brasileiro entre os remanescentes do cinema novo e o grupo chamado de cinema marginal, a nova câmera simbolizou o grito de independência dos diretores sem recursos. O super-oito é uma câmera – e uma técnica de filmagem – utilizada por vários cineastas e artistas nos anos 70. Seu uso e difusão surgiram como uma forma alternativa de produção cinematográfica. Os baixos custos e a agilidade na hora da realização e revelação do filme transformaram a câmera em uma das armas do cinema marginal brasileiro desse período.

O cinema marginal tem seu princípio com dois filmes rodados em São Paulo ainda no final dos anos 60: 
A Margem, de Ozualdo Candeias, e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. Após esses filmes, outros diretores lançam trabalhos na mesma linha estética, como Neville de Almeida, José Agripino de Paula, André Tonacci, Julio Bressane, Eliseu Visconti, Álvaro Guimarães, entre outros. A fundação da empresa Belair, por Sganzerla e Julio Bressane foi a confirmação dessa nova proposta cinematográfica, 
à margem dos rumos do cinema novo e das políticas da Embrafilme. Em um ano, produziram juntos seis filmes de baixo orçamento.

Uma das principais contribuições para a circulação do super-oito veio por meio da imprensa underground da época. A pioneira sobre o tema foi a coluna “Super frente super-oito”, escrita por Waly Salomão no suplemento Plug, do Correio da Manhã durante 1971. Essa coluna funcionou como a primeira tribuna dos novos cineastas, e um dos seus primeiros canais de participação nas discussões culturais da época. 
A coluna de Waly foi o impulso para que a prática passasse a ser uma forma legítima de se fazer cinema no País. Seu personagem, o “Magnata do super-oito”, estimulava as experiências com a nova tecnologia que revolucionava alguns tabus da prática cinematográfica.

Além de ser tema constante da imprensa, o cinema passava, a partir da difusão do super-oito, a fazer parte do cotidiano de muitos. Artistas plásticos como Rubens Gerchman, Carlos Vergara, Hélio Oiticica 
e Lygia Pape, compositores como Galvão, Capinan, Jorge Mautner e Jards Macalé, além de Waly Salomão 
e do próprio Oiticica, passavam a fazer filmes em super-oito (e outras bitolas) e a emitir suas opiniões 
e considerações sobre a produção cinematográfica brasileira.

Os principais trabalhos com cinema super-oito desse período foram feitos pelo cineasta carioca Ivan Cardoso. Alguns de seus filmes Nosferato no Brasil, Sentença de Deus e A Múmia volta a atacar (todos 
de 1972) foram exibidos em circuitos alternativos e cinematecas. A interpretação de Torquato Neto como 
o vampiro Nosferato é uma das imagens mais representativas da época. Além de atuar em alguns filmes, Torquato também era defensor e divulgador permanente do super-oito e dos filmes marginais em sua coluna “Geléia Geral”, e realizou em Teresina, em super-oito, o filme “Terror da Vermelha”.

Após o surgimento do videocassete e de outras tecnologias de filmagem, o super-oito passou a ser 
uma técnica ultrapassada. Nos anos 70, porém, seu uso democrático e inventivo foi fundamental para 
a ampliação da prática cinematográfica e para a manutenção do experimentalismo no cinema brasileiro.
 

Lixo, marginais e chanchadas por João Luiz Vieira




No final dos anos 60, a "redescoberta" da chanchada motivou caminhos para alguns dilemas enfrentados por nosso cinema, pelo menos em dois momentos simultâneos. O primeiro, dentro do próprio Cinema Novo, com a produção de Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. O segundo, como uma demonstração de reação ao próprio movimento, com a produção dos filmes que ficaram rotulados de marginais ou udigrúdi, apropriação paródica para o termo em inglês. Em ambos, um forte ponto em comum: a presença de humor corrosivo, às vezes anárquico, expondo um gosto pela crítica social encontrada com freqüência no próprio discurso paródico. Tanto no filme de Joaquim Pedro quanto nos marginais, há o que se caracteriza como a "estética do lixo", literal e metafórica.

Já apontado por Robert Stam, testemunhamos o surgimento de uma variedade enorme de neologismos estéticos na América Latina e Caribe, dos quais a estética do lixo é mais um entre vários projetos que, em geral, reavaliam, pelo caminho da inversão de sentido, o que era tido como negativo no discurso colonialista. Tais projetos compartilham, "como numa luta de jiu-jítsu, o desejo de transformar a fraqueza estratégica numa força tática". Assim, encontramos uma variedade estimulante de propostas e formulações, que passam pelo cine imperfecto, de Julio Garcia Espinoza, pela "criativa incapacidade de copiar", conceituada por Paulo Emílio Salles Gomes, pelo real maravilloso americano, de Alejo Carpentier, pela "estética da fome", de Glauber Rocha, pela antropofagia de nossos modernistas ou pelo "terrorismo dos cupins", do mexicano Guillermo Del Toro.

Dentro da estética do lixo, a paródia tem um papel estruturalizante. Torna-se um mecanismo de criação. Só que o alvo satírico não era apenas o cinema estrangeiro, como havia sido na chanchada, nos anos 50, mas o respeitável Cinema Novo. Claro que o fato deste ter se tornado alvo de torpedos indicava seu triunfo nacional e internacional. Mas, para o Udigrúdi, o Cinema Novo havia se aburguesado, virado mercadoria respeitável, cauteloso em relação aos temas tratados e à experimentação com a linguagem cinematográfica. Enquanto o Cinema Novo buscava um esquema de produção maior, calcado em melhor acabamento técnico, este Novo Cinema Novo exigia a radicalização da estética da fome, rejeitando um "cinema bem feito" em favor da "tela suja" da "estética do lixo". Seria um estilo mais apropriado a um país pós-colonial, que transitava entre os detritos da dominação capitalista do Primeiro Mundo.

Muitos desses filmes organizam uma espécie de colagem de materiais achados, promovendo a noção de que o Terceiro Mundo só herda as migalhas do Primeiro. É nessa ótica que O bandido alude a filmes B americanos, através de inserções de fragmentos de uma ficção-científica ordinária, enquanto Blá, Blá, Blá, de Andrea Tonacci, usa cinejornais com cenas de passeatas em Pequim e Paris. Em A herança, Candeias carnavaliza a tradição da alta cultura, transformando Hamlet em faroeste, com os diálogos substituídos por sons de pássaros e animais. O bandido explora uma estratégia de conflito de gêneros, comum ao Cinema Marginal. O noir, o musical, o documentário, o faroeste, a chanchada e a ficção-científica surgem numa compilação de pastiches, espécie de escritura cinematográfica entre parênteses.

Segundo Ismail Xavier e Stam, o Udigrúdi demonstrou uma hostilidade edipiana em relação ao "pai", o Cinema Novo, identificado com clareza no filme de Júlio Bressane, Matou a família e foi ao cinema. Também O bandido adota recurso semelhante, como o fogo ateado à imagem de São Jorge que abre O dragão da maldade contra o santo guerreiro, de Glauber Rocha. O bandido ecoa, de forma irônica, a iconografia do cinema de Glauber. Na primeira seqüência, vemos crianças faveladas dançando em volta de fogueiras num lixão da periferia paulistana, ao som repetido do tema de candomblé de Terra em transe (1967). Sua narrativa também recicla materiais heterogêneos da "baixa" cultura popular, como programas de noticiário policial de rádio – com a voz estilizada e grotesca do locutor – misturado a matérias da imprensa escrita, programas de televisão e filmes B americanos. Resulta uma celebração-pastiche debochada. Tais produtos híbridos da cultura periférica e colonizada falam mais ao brasileiro urbano, maioria do público desses filmes, do que a cultura popular folclórica memorializada em muitos dos filmes do Cinema Novo. Sganzerla celebra a estratégia pós-moderna da bricolagem, em sintonia com o que defendia Bakhtin: a redenção do que era tido como menor, baixo, desprezado, imperfeito e lixo como parte de uma estratégia de subversão.

A hostilidade ao Cinema Novo pelo Cinema Marginal acabou por ressuscitar certos códigos da chanchada – desconsiderada pelos diretores do Cinema Novo. Talvez um questionamento consciente ao que era exaltado por este: a busca intelectualizada dos valores nacionais da alta cultura literária, como Vidas secas, de Graciliano Ramos, ou Menino de engenho, de José Lins do Rego. Não escapou também desse crivo o visual meio documental europeu, em preto e branco, câmera na mão, montagem elíptica, cheia de jump-cuts, como em Godard, Lindsay Anderson, Karel Reisz, Bertolucci ou Pasolini. Nem tampouco o estilo frio e distanciado de Antonioni – utopia máxima do cinema militante e socialmente consciente. Para o Udigrúdi, os pingos nos iis são colocados na declaração anárquica de que "quando você não pode mudar, você avacalha", no dizer do tal Bandido da luz vermelha.

Programação do "Corredor Cultural 2010"

Juiz de Fora vai bombar neste final de semana com inúmeras atrações artíticas! Fique de olho na programação e saia de casa!
E lembrando que o nosso CineClube está dentro da programação, sábado e domingo sessões às 19h e 21h no Anfiteatro João Carriço no prédio da Funalfa com uma pequena mostra do mais fino cinema produzido neste país no final da década de 60. Veja nossa programação na barra do lado direito deste blog.

Abaixo a programação completa, clique na figura para aumenta-la!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Exibição de "Amaxon" de José Sette em Juiz de Fora



Hoje no MaMM 20hs
Rua Benjamin Constant, 790 Centro
Juiz de Fora
Entrada Gratuita

Laura Marques é uma escritora de sucesso. Ela é casada com um apresentador de tevê chamado Lourenço Marques. Laura sai da grande cidade e se refugia em sua casa de veraneio para escrever um novo livro. De lá ela pode observar a imensidão do mar e nele buscar a inspiração para toda a sua obra, aclamada pelo público e pela crítica. A história começa quando ela escreve o final do último capítulo de “Os Homens que não Tive” e finaliza toda a escrita, feita a mão, com sua caneta tinteiro. Digitalizado o texto ela remete para o seu editor. Antes de voltar para cidade, uma série de acontecimentos sinistros na natureza transforma o seu universo existencial. 

O que é prosa torna-se poesia e depois ficção. Realismo fantástico. Um mundo dual e agressivo. Mundo onde o sentir se apresenta como sendo um novo texto. Onde o ver, maquiando a criação em uma nova roupagem, propõe uma nova imagem, um novo som, nunca ainda experimentado. É o despertar desse novo momento da criação que a história conta. O renascer pela verdade mágica da arte oculta na poesia e em prosa cinematográfica - Entre a prosa e a poesia, tudo é novo! Tudo é verdade! Tudo é mentira! Tudo são sonhos e às vezes pesadelos. Esses são os processos criativos em que ela se envolve: A escrita fala, narra e dialoga com ela. A memória é viva, sem limite e se expressa por imagens cinematográficas, citações perdidas no tempo. 

Essa nova roupagem quer buscar no entendimento dos fatos, na lucidez dos seus últimos dias, o barco, a fuga, que leva a sua personagem para o transmutado e tempestuoso mar, sofrendo, no desespero do conhecimento, uma profunda solidão. É preciso que o mar novamente invada a terra, transformando a paisagem do grande continente em uma ilha, para que o equilíbrio, justo e universal do ser criador, possa ser reconquistado. 

É nesta ilha habitada por Calibã, que Laura, filha de Próspero, nasce uma nova mulher, uma deusa - Amaxon! Uma guerreira. - O filme é um manifesto poético sobre a arte da criação em um mundo desequilibrado, perdido, sufocado e desesperado. É um filme dos significados e dos significantes mais profundos do ser e do não ser.

http://amaxon.blogspot.com/

Imperdível!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os Monstros de Babaloo - Elyseu Visconti - Sábado 19 horas



Quando você pensa em família qual a primeira idéia que lhe vem à cabeça? Amor? União? Laços eternos? Natal?

“Os Monstros de Babaloo” de 1970, escrito, produzido e dirigido por Elyseu Visconti pode abrir os seus olhos para esta instituição sagrada. Esse é sem dúvida alguma o melhor filme sobre família que já vi.

Os monstros do título são as pessoas que habitam Babaloo, ilha mítica onde há uma mansão erguida com o dinheiro de Badu, o pai. Num primeiro momento o filme parece ser uma mera fantasia absurda saída da cabeça de um cineasta no final dos anos 60, mas basta você olhar mais atentamente e perceber que nada do que se vê é tão fantasioso quanto parece.

Elyseu não escolheu atores atraentes para viver os papéis principais, ele preferiu uma atriz gorda, feia, passionalmente exagera e egoísta para viver a mãe. O pai é feio, banguela e egoísta. O irmão parece um macaco mendigo, visivelmente louco com algum retardo e egoísta. E tem ainda a irmã mais velha (Helena Ignez) essa é diferente, ela é linda, um pitéuzinho, loira, engraçada, inteligente e egoísta também. Em Babaloo todos são representações visuais autênticas de nós mesmos.

Mas porque todo mundo nessa casa é tão medonho menos a irmã? Oras, o filme é narrado por ela, tudo se passa através do ponto de vista desta garota, ela sempre está por cima da carne seca, além de ser linda ela é a única que se dá bem no final. Se o filme fosse narrado por outro membro da família a história teria outro desenlace.

Elyseu Visconti filmou na total ausência de moralismo a natureza egoísta que está intrínseca em nós. O cara estava livre! É lindo de ver. Inspirador. Para ele o único fator que une a família é o dinheiro e o espaço para morar, quando esses cogitam desaparecer também desaparece o interesse de permanecer juntos.

Um exemplo. Badu é muito rico, por isso tem todos a sua volta. Tanto ele quanto sua mulher têm casos extraconjugais, mas isso em momento algum parece ser um problema enquanto ainda há dinheiro. A partir do momento em que a grana acaba a traição é motivo de brigas e até morte.

Cada ser humano vive o seu universo independente da família. Elyseu coloca seus personagens neste ambiente apenas para nos mostrar que a família não passa de uma ilusão e que há de se quebrar o signo marcado do PAI, da MÃE e do IRMÃO para viver melhor e sem culpa. Tanto o pai, como a mãe e o irmão são como qualquer outra pessoa existente no mundo.

Claro que há pelo menos um momento de coexistência pacífica e harmônica entre essas pessoas, onde todos se conciliam; estão todos dentro do carro passeando e cantando o Hino da Copa de 70 , “90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção...” Puro engodo!

Wesley Conrado

Sem Essa Aranha - Rogério Sganzerla - Sábado 21horas





“Já fiz tudo que um branco podia fazer”, confessa o personagem principal de Sem essa Aranha. Depois de colocar os paulistas em transe, desencadeando uma nova onda de esquizofrenia paraindustrial entre cinéfilos e seguidores mais radicais — sem falar dos fãs de vanguarda e dos diluidores de carteirinha —, Rogério Sganzerla vem ao Rio mostrar que é realmente o melhor de todos.

Os três filmes dirigidos para a produtora Belair — a nossa Atlântida udigrúdi —, no primeiro semestre de 1970, precisam ser revistos. Da Boca do Lixo paulista para o Beco da Fome carioca, Rogério Sganzerla chegou tocando o terror:“sempre tive a impressão que o diabo ia com a nossa cara!”.

Sem essa Aranha foi o último filme da série carioca — e não deve nada às produções paulistas do diretor. O cineasta teve que sair do país às pressas, com as latas na mão. Os negativos foram levados a Paris e revelados no laboratório da Éclair. A associação entre Sganzerla e o ator Jorge Loredo é um dos maiores achados do cinema brasileiro.

O personagem Zé Bonitinho — tipo criado por Loredo para a TV, caricatura genial do cafajeste local, cafona e colonizado, o galã fracassado que no fim das contas se dá bem, resumindo: o picareta — se mistura tão bem com o Aranha do filme que parece até uma invenção do próprio Rogério.

Números musicais com Moreira da Silva e Luiz Gonzaga, stripteases, um pacto com o demônio, artistas de circo, masturbação e morte completam essa eletrizante chanchada psicodélica, apresentada em quinze planos-seqüência de tirar o fôlego e enquadrados com estilo pela câmera-na-mão de Edson Santos.

Estilhaços de Joyce, Rimbaud e — principal-mente — Oswald de Andrade ex plodem na tela:“reconheço e identifico o homem recalcado do Brasil, produto do clima, da economia escrava e da moral desumana que faz milhões de onanistas desesperados e de pe-derastas”. Um raio X do Rio e da tragicomédia brasileira.“O cinema não me interessa, mas a profecia”, dizia Rogério Sganzerla em 1968.

Remier Lion

terça-feira, 25 de maio de 2010

"O Bandido da Luz Vermelha" Domingo 19 horas



Quando as pessoas vão assistir à “O Bandido da Luz Vermelha” pensam que irá passar a sua frente toda a história da vida desta personalidade que saiu de Joinville para apavorar a alta sociedade paulistana na década de 60, um filme baseado em fatos reais, mostrando sua origem, ascensão e queda.

Conheço algumas pessoas que começaram a assistir esse filme e não conseguiram terminar, alegando que o filme é “um porre” ou “não tem nada a ver” ou “cinema brasileiro é sempre uma merda mesmo!” pois o título sugere algo popular, o que não é.

O que essas pessoas não sabem é que esse filme é tudo, menos sobre o tal bandido da luz vermelha.

Pra quem não sabe esse é um filme de Rogério Sganzerla, seu 1º filme, e se você já leu o que escrevi sobre “O Signo do Caos” deve estar por dentro do que se trata; um combate contra a ignorância e a mediocridade.

“O bandido da luz vermelha” é na verdade sobre o próprio Sganzerla, sobre como ele se via perante a sociedade da época, um artista vivendo à margem e incompreendido. Ele usa o personagem do bandido como alegoria para se jogar na tela, mas não de forma absoluta, trata-se de uma pessoa com dúvidas profundas sobre sua existência,  “um gênio ou uma besta?”.

Um gênio por perceber que tinha uma visão própria sobre o cinema e sobre a sociedade, uma besta por fazer filmes sem abrir nenhuma consessão se afastando assim do grande público (arte pra quem?).

E falando dele mesmo, ele também fala de todas as pessoas que buscam outros ideais, que possuem visões diferentes do mundo, e esse é o seu público, bastante restrito.

Pessoas que não têm como meta principal na vida querer um carro importado, uma casa enorme com piscina e um emprego estável como essas pessoas comuns que consomem de forma inconsciente e buscam ideais comuns escolhidos pela publicidade e pelas mídias de massa.

Esse filme é o que melhor sintetiza o que se trata o cinema marginal. Não é marginal por ser feito com pouco dinheiro e ter distribuição bastante limitada, não é o marginal da questão econômica, esse não é o foco principal, ele é marginal da questão cultural e intelectual, quem está à margem são as pessoas que têm expectativas e visões diferentes da maioria, pois não se encaixa à ela, uma maioria que repudia o pensamento livre e não aceita o outro em sua forma original, precisa de mascaras, por isso esse outro está a margem.

Wesley Conrado

Hilter IIIº Mundo - José Agrippino de Paula - Domingo 21h00



Difícil tarefa é enquadrar José Agrippino de Paula no panorama cultural brasileiro. Talvez seja nosso artista mais inóspito a esse tipo de cadastramento de que os bancos escolares, as enciclopédias e, por que não, os catálogos de mostras tanto necessitam.

Zé Agrippino está além de seu tempo e de seu país. Ele é uma espécie de Leonardo da Vinci do Terceiro Mundo. A comparação não é à toa. Esse artista escreveu livros absolutamente solitários dentro da tradicional literatura brasileira, propôs uma nova dramaturgia e fez um dos filmes mais inquietantes do nosso cinema: Hitler 3º Mundo.

Se Panamérica, seu romance mais conhecido, é uma espécie de Mona Lisa a rir cinicamente do universo pop, com Elvis perambulando por supermercados e beijos em Marilyns, Hitler 3º Mundo é sua Anunciação, uma obra para o futuro, visionária. Feito em caráter de urgência, no auge da repressão militar, o filme foi rodado na clandestinidade e suas imagens, vistas hoje, são de uma atualidade aterrorizante.

Basta lembrar de Jô Soares, atual apresentador de um programa de entrevistas na televisão, que é transformado em um samurai que tenta arranhar um aparelho de TV e, indignado, comete um haraquiri. Ou da seqüência em que o mesmo samurai coloca inúmeras crianças faveladas em uma Kombi. Ou mesmo da cena de um barco que não sai do lugar, com algumas pessoas remando e uma espécie de Cristo no comando.

Essas imagens, e todas as que compõem Hitler, chegam a ser perturbadoras, e a cada projeção (foram sempre muito poucas, pois o filme nunca foi lançado comercialmente) parecem revelar novas informações sobre a humanidade filmada por Zé Agrippino. Cada vez parecemos mais com esses estranhos seres que nosso Da Vinci registrou com seu olhar agudo.

Vitor Angelo

segunda-feira, 24 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

Esse é o começo



Olá Juiz de Fora!
A partir desta semana entrará em circuito o CineClube Bordel Sem Paredes. Toda a semana apresentaremos filmes pouco conhecidos do grande público no Anfiteatro João Carriço no prédio da Funalfa (antiga prefeitura), sempre às 19hs e com sessões gratuitas.

Para começar este projeto entramos no Corredor Cultural 2010 com a Mostra de Cinema Marginal, veja nossa programação:

__Sábado, 29 de maio__
19h "Os Monstros de Babaloo"
21h "Sem Essa, Aranha" (antes desta sessão haverá a exibição do curta "A Miss e o Dinossauro" de Helena Ignez)

Aviso Importante! Houve uma falha na comunicação durante o fechamento da programação da mostra, e por isso a programação de domingo lançanda nos "releases" da Funalfa está incorreta, abaixo a programação oficial:

__Domingo, 30 de maio__
19h "O Bandido da Luz Vermelha"
21h "Hitler IIIº Mundo" (Raro)

Vídeos dos Filmes:


"Os Monstros de Babaloo"


"Sem Essa, Aranha"


O Bandido da Luz Vermelha