Quando as pessoas vão assistir à “O Bandido da Luz Vermelha” pensam que irá passar a sua frente toda a história da vida desta personalidade que saiu de Joinville para apavorar a alta sociedade paulistana na década de 60, um filme baseado em fatos reais, mostrando sua origem, ascensão e queda.
Conheço algumas pessoas que começaram a assistir esse filme e não conseguiram terminar, alegando que o filme é “um porre” ou “não tem nada a ver” ou “cinema brasileiro é sempre uma merda mesmo!” pois o título sugere algo popular, o que não é.
O que essas pessoas não sabem é que esse filme é tudo, menos sobre o tal bandido da luz vermelha.
Pra quem não sabe esse é um filme de Rogério Sganzerla, seu 1º filme, e se você já leu o que escrevi sobre “O Signo do Caos” deve estar por dentro do que se trata; um combate contra a ignorância e a mediocridade.
“O bandido da luz vermelha” é na verdade sobre o próprio Sganzerla, sobre como ele se via perante a sociedade da época, um artista vivendo à margem e incompreendido. Ele usa o personagem do bandido como alegoria para se jogar na tela, mas não de forma absoluta, trata-se de uma pessoa com dúvidas profundas sobre sua existência, “um gênio ou uma besta?”.
Um gênio por perceber que tinha uma visão própria sobre o cinema e sobre a sociedade, uma besta por fazer filmes sem abrir nenhuma consessão se afastando assim do grande público (arte pra quem?).
E falando dele mesmo, ele também fala de todas as pessoas que buscam outros ideais, que possuem visões diferentes do mundo, e esse é o seu público, bastante restrito.
Pessoas que não têm como meta principal na vida querer um carro importado, uma casa enorme com piscina e um emprego estável como essas pessoas comuns que consomem de forma inconsciente e buscam ideais comuns escolhidos pela publicidade e pelas mídias de massa.
Esse filme é o que melhor sintetiza o que se trata o cinema marginal. Não é marginal por ser feito com pouco dinheiro e ter distribuição bastante limitada, não é o marginal da questão econômica, esse não é o foco principal, ele é marginal da questão cultural e intelectual, quem está à margem são as pessoas que têm expectativas e visões diferentes da maioria, pois não se encaixa à ela, uma maioria que repudia o pensamento livre e não aceita o outro em sua forma original, precisa de mascaras, por isso esse outro está a margem.
Wesley Conrado
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