terça-feira, 25 de maio de 2010

Hilter IIIº Mundo - José Agrippino de Paula - Domingo 21h00



Difícil tarefa é enquadrar José Agrippino de Paula no panorama cultural brasileiro. Talvez seja nosso artista mais inóspito a esse tipo de cadastramento de que os bancos escolares, as enciclopédias e, por que não, os catálogos de mostras tanto necessitam.

Zé Agrippino está além de seu tempo e de seu país. Ele é uma espécie de Leonardo da Vinci do Terceiro Mundo. A comparação não é à toa. Esse artista escreveu livros absolutamente solitários dentro da tradicional literatura brasileira, propôs uma nova dramaturgia e fez um dos filmes mais inquietantes do nosso cinema: Hitler 3º Mundo.

Se Panamérica, seu romance mais conhecido, é uma espécie de Mona Lisa a rir cinicamente do universo pop, com Elvis perambulando por supermercados e beijos em Marilyns, Hitler 3º Mundo é sua Anunciação, uma obra para o futuro, visionária. Feito em caráter de urgência, no auge da repressão militar, o filme foi rodado na clandestinidade e suas imagens, vistas hoje, são de uma atualidade aterrorizante.

Basta lembrar de Jô Soares, atual apresentador de um programa de entrevistas na televisão, que é transformado em um samurai que tenta arranhar um aparelho de TV e, indignado, comete um haraquiri. Ou da seqüência em que o mesmo samurai coloca inúmeras crianças faveladas em uma Kombi. Ou mesmo da cena de um barco que não sai do lugar, com algumas pessoas remando e uma espécie de Cristo no comando.

Essas imagens, e todas as que compõem Hitler, chegam a ser perturbadoras, e a cada projeção (foram sempre muito poucas, pois o filme nunca foi lançado comercialmente) parecem revelar novas informações sobre a humanidade filmada por Zé Agrippino. Cada vez parecemos mais com esses estranhos seres que nosso Da Vinci registrou com seu olhar agudo.

Vitor Angelo

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