terça-feira, 21 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Entrevista Sílvio Tendler
Entrevista com o cineasta Silvio Tendler, realizada dia 25 de novembro, na sua visita a Juiz de Fora para a exibição e debate do seu filme no Encontro de Blogueiros Progressistas. Ele discorre sobre a importância das utopias para a produção artistica; das lições que a história nos deu; Da importância da arte alternativa para a renovação artistica do país; E também da genialidade do grande Galuber Rocha.
Carta aberta a Dilma Rousseff sobre Reforma do Direito Autoral
Para presidenta eleita Rousseff e cidadãos do Brasil
No debate brasileiro sobre a lei de direito autoral, uma melhoria importantíssima foi sugerida: a liberdade de compartilhar obras publicadas em troca de uma taxa cobrada dos usuários de Internet ao longo do tempo. Reconhecer a utilidade à sociedade do compartilhamento de arquivos via Internet entre os cidadãos será um grande avanço, mas esse plano levanta uma segunda questão: como utilizar o valor arrecadado? Se usado adequadamente, ele oferece a chance de um segundo grande avanço, em apoio à arte.
As editoras costumam propor usar o dinheiro para “recompensar” os “titulares dos direitos” — duas más ideias juntas. “Titulares dos direitos” é uma forma disfarçada de direcionar o dinheiro principalmente às editoras em vez de aos artistas. Quanto a “recompensar”, esse conceito é inadequado, pois significa pagar a alguém para fazer um trabalho, ou compensar essa pessoa por tirar algo dela. Nenhuma dessas descrições se aplica à prática do compartilhamento de arquivos, já que os ouvintes e espectadores não contrataram as empresas nem os artistas para realizarem um trabalho, e compartilhar mais cópias não lhes tira nada. (Quando eles alegam ser prejudicados, é em comparação com seus sonhos.) Editoras utilizam o termo “recompensar” para pressionar outros a verem a questão da forma como elas a vêem.
Richard Stallman
Não há necessidade de “recompensar” ninguém pelo compartilhamento de arquivos entre os cidadãos, mas apoiar os artistas é útil para a arte e para a sociedade. Se o Brasil adotar um sistema de taxa de licença para o compartilhamento, ele deve projetar o sistema para distribuir o dinheiro de forma a apoiar os artistas com eficiência. Com este sistema em funcionamento, os artistas se beneficiarão quando as pessoas compartilharem suas obras e incentivarão o compartilhamento.
Qual a forma eficiente de apoiar a arte com esse dinheiro?
Primeiramente, se o objetivo é apoiar os artistas, não dê a verba às editoras. Apoiar as editoras praticamente não apóia os artistas. Por exemplo, as gravadoras pagam aos músicos uma pequena parte ou nada do dinheiro que elas recebem pela venda de álbuns: os contratos de gravação dos músicos são minuciosamente projetados para que os músicos não recebam “seu” quinhão das vendas de álbuns a menos que um álbum venda um tremendo número de cópias. Se a arrecadação pelo compartilhamento de arquivos for distribuída às gravadoras, ela não alcançará os músicos. Contratos com escritores não são tão ultrajantes assim, mas até mesmo os autores de “best-sellers” podem receber pouco. O que a sociedade precisa é apoiar melhor estes artistas e autores.
Proponho, portanto, distribuir as verbas somente para os participantes criativos e garantir, por lei, que as editoras sejam impedidas de cobrá-las de volta ou deduzi-las do que devem ao autor.
A taxa seria cobrada inicialmente pelo provedor de conexão à Internet (prestador do Serviço de Comunicação Multimídia). Como ela deve chegar ao artista? Ela pode passar pelas mãos de uma agência estatal; ela pode passar por uma entidade arrecadadora, contanto que as entidades arrecadadoras sejam reformadas para que qualquer grupo de artistas possa iniciar a sua.
Entretanto, os artistas não podem ser compelidos a trabalhar para as entidades arrecadadoras já existentes, pois estas podem ter regras anti-sociais. Por exemplo, as entidades arrecadadoras de alguns países europeus proíbem que seus membros publiquem qualquer coisa sob lcienças que permitam o compartilhamento (por exemplo, usando qualquer uma das licenças “Creative Commons”). Se a verba do Brasil para apoiar artistas incluir artistas estrangeiros, eles não devem ser compelidos a fazer parte dessas entidades arrecadadoras para receberem sua fatia das verbas brasileiras.
Qualquer que seja o trajeto seguido pelo dinheiro, nenhuma das instituições desse trajeto (provedor, agência estatal ou entidade arrecadadora) pode ter qualquer autoridade para alterar quais fatias serão destinadas a quais artistas. Isso deve ser claramente definido pelas regras do sistema.
Mas quais devem ser essas regras? Qual a melhor forma de dividir o dinheiro entre todos os participantes criativos?
O método mais óbvio é calcular a fatia de cada artista em proporção direta à popularidade de sua obra. A popularidade pode ser medida convidando 100 mil pessoas escolhidas aleatoriamente a fornecer as listas de obras que executaram. É isso que propostas de “recompensar os titulares dos direitos” geralmente fazem. Mas esse método de distribuição não é muito eficaz para promover a arte, pois uma grande fração das verbas iria para as superestrelas, que já são ricas ou ao menos confortáveis, deixando pouco dinheiro para apoiar os artistas que realmente precisam delas.
Eu proponho que, em vez disso, se pague a cada artista de acordo com a raiz cúbica de sua popularidade. Mais precisamente, o sistema poderia medir a popularidade de cada obra, dividi-la pelos artistas da obra para obter um valor para cada artista, depois calcular a raiz cúbica disso e determinar a fatia dos artistas em proporção a estas raízes cúbicas.
O efeito disto seria aumentar a fatia dos artistas moderadamente populares por meio da redução da fatia das superestrelas. Cada superestrela ainda receberia mais do que cada não superestrela, até várias vezes mais, mas não centenas ou milhares de vezes mais. Com essa alteração, uma dada soma total de dinheiro conseguirá apoiar adequadamente um maior número de artistas.
Promover a arte e a autoria apoiando artistas e autores é o objetivo correto de uma taxa de licença para o compartilhamento porque é o objetivo correto dos próprios direitos autorais.
Uma última questão é se o sistema deve apoiar autores e artistas estrangeiros. Seria natural que o Brasil exigisse reciprocidade de outros países como condição para lhes dar apoio a autores e artistas, mas penso que isto seria um erro estratégico. A melhor forma de convencer outros países a adotarem um plano como este não é pressioná-los por meio de seus artistas — eles não sentirão falta desses pagamentos porque não estão acostumados a recebê-los — mas educar seus artistas quanto aos méritos deste sistema. Incluí-los no sistema é a forma de educá-los.
Outra opção é incluir artistas e autores estrangeiros, mas reduzir o pagamento a 1/10 quando seus países não cooperarem reciprocamente. Imagine dizer a um autor: “Você recebeu R$ 50 da taxa brasileira de licença para o compartilhamento. Se seu país tivesse uma taxa semelhante e fizesse um acordo recíproco com o Brasil, você agora teria recebido R$ 500 do Brasil, somado à quantia de seu próprio país.”
Conheço um dos possíveis obstáculos à adoção deste sistema no Brasil: Tratados de Livre Exploração como aquele que estabeleceu a Organização Mundial do Comércio. Eles são projetados para fazer os governos agirem em benefício das empresas, não das pessoas; eles são os inimigos da democracia e do bem-estar da maioria das pessoas. (Agradecemos ao Lula por salvar a América do Sul da ALCA.) Alguns deles exigem “recompensa para os titulares dos direitos” como parte de sua política geral de favoritismo das empresas.
Felizmente, este obstáculo pode ser transposto. Se o Brasil se vir compelido a pagar pelo objetivo equivocado de “recompensar os titulares dos direitos”, ele ainda pode adotar o sistema apresentado acima. Aqui está como.
O primeiro passo rumo ao fim de um domínio injusto é negar sua legitimidade. Se o Brasil for compelido a “recompensar os titulares dos direitos autorais”, deve denunciar essa imposição como errada e ceder temporariamente a ela. A denúncia poderia ser colocada no preâmbulo da própria lei, da seguinte forma:
Considerando que o Brasil deseja incentivar a útil e prestativa prática de compartilhar, na Internet, obras publicadas;
Considerando que o Brasil é compelido pela Organização Mundial do Comércio a pagar aos titulares dos direitos o resgate dessa liberdade, mesmo que esse dinheiro vá apenas enriquecer as editoras em vez de apoiar artistas e autores;
Considerando que o Brasil deseja, além dessa exigência imposta, apoiar artistas e autores melhor do que o sistema atual de direitos autorais faz;
Em seguida, após estabelecer uma taxa para fins de “recompensa”, estabelecer uma segunda taxa adicional (igual ou maior em valor) para apoiar os autores e artistas. O plano desperdiçador e equivocado da “recompensa” não deve ser um substituto para o plano útil e eficaz. Então, implemente-se o plano útil e eficaz para apoiar os artistas diretamente, pois isso é bom para a sociedade, e implemente-se a “recompensa” exigida pela OMC, mas somente enquanto a OMC mantenha o poder de impô-la.
Isto iniciará a transição para um novo sistema de direitos autorais adequado à era da Internet.
Obrigado por considerar estas sugestões.
Richard M. Stallman
No debate brasileiro sobre a lei de direito autoral, uma melhoria importantíssima foi sugerida: a liberdade de compartilhar obras publicadas em troca de uma taxa cobrada dos usuários de Internet ao longo do tempo. Reconhecer a utilidade à sociedade do compartilhamento de arquivos via Internet entre os cidadãos será um grande avanço, mas esse plano levanta uma segunda questão: como utilizar o valor arrecadado? Se usado adequadamente, ele oferece a chance de um segundo grande avanço, em apoio à arte.
As editoras costumam propor usar o dinheiro para “recompensar” os “titulares dos direitos” — duas más ideias juntas. “Titulares dos direitos” é uma forma disfarçada de direcionar o dinheiro principalmente às editoras em vez de aos artistas. Quanto a “recompensar”, esse conceito é inadequado, pois significa pagar a alguém para fazer um trabalho, ou compensar essa pessoa por tirar algo dela. Nenhuma dessas descrições se aplica à prática do compartilhamento de arquivos, já que os ouvintes e espectadores não contrataram as empresas nem os artistas para realizarem um trabalho, e compartilhar mais cópias não lhes tira nada. (Quando eles alegam ser prejudicados, é em comparação com seus sonhos.) Editoras utilizam o termo “recompensar” para pressionar outros a verem a questão da forma como elas a vêem.
Richard Stallman
Não há necessidade de “recompensar” ninguém pelo compartilhamento de arquivos entre os cidadãos, mas apoiar os artistas é útil para a arte e para a sociedade. Se o Brasil adotar um sistema de taxa de licença para o compartilhamento, ele deve projetar o sistema para distribuir o dinheiro de forma a apoiar os artistas com eficiência. Com este sistema em funcionamento, os artistas se beneficiarão quando as pessoas compartilharem suas obras e incentivarão o compartilhamento.
Qual a forma eficiente de apoiar a arte com esse dinheiro?
Primeiramente, se o objetivo é apoiar os artistas, não dê a verba às editoras. Apoiar as editoras praticamente não apóia os artistas. Por exemplo, as gravadoras pagam aos músicos uma pequena parte ou nada do dinheiro que elas recebem pela venda de álbuns: os contratos de gravação dos músicos são minuciosamente projetados para que os músicos não recebam “seu” quinhão das vendas de álbuns a menos que um álbum venda um tremendo número de cópias. Se a arrecadação pelo compartilhamento de arquivos for distribuída às gravadoras, ela não alcançará os músicos. Contratos com escritores não são tão ultrajantes assim, mas até mesmo os autores de “best-sellers” podem receber pouco. O que a sociedade precisa é apoiar melhor estes artistas e autores.
Proponho, portanto, distribuir as verbas somente para os participantes criativos e garantir, por lei, que as editoras sejam impedidas de cobrá-las de volta ou deduzi-las do que devem ao autor.
A taxa seria cobrada inicialmente pelo provedor de conexão à Internet (prestador do Serviço de Comunicação Multimídia). Como ela deve chegar ao artista? Ela pode passar pelas mãos de uma agência estatal; ela pode passar por uma entidade arrecadadora, contanto que as entidades arrecadadoras sejam reformadas para que qualquer grupo de artistas possa iniciar a sua.
Entretanto, os artistas não podem ser compelidos a trabalhar para as entidades arrecadadoras já existentes, pois estas podem ter regras anti-sociais. Por exemplo, as entidades arrecadadoras de alguns países europeus proíbem que seus membros publiquem qualquer coisa sob lcienças que permitam o compartilhamento (por exemplo, usando qualquer uma das licenças “Creative Commons”). Se a verba do Brasil para apoiar artistas incluir artistas estrangeiros, eles não devem ser compelidos a fazer parte dessas entidades arrecadadoras para receberem sua fatia das verbas brasileiras.
Qualquer que seja o trajeto seguido pelo dinheiro, nenhuma das instituições desse trajeto (provedor, agência estatal ou entidade arrecadadora) pode ter qualquer autoridade para alterar quais fatias serão destinadas a quais artistas. Isso deve ser claramente definido pelas regras do sistema.
Mas quais devem ser essas regras? Qual a melhor forma de dividir o dinheiro entre todos os participantes criativos?
O método mais óbvio é calcular a fatia de cada artista em proporção direta à popularidade de sua obra. A popularidade pode ser medida convidando 100 mil pessoas escolhidas aleatoriamente a fornecer as listas de obras que executaram. É isso que propostas de “recompensar os titulares dos direitos” geralmente fazem. Mas esse método de distribuição não é muito eficaz para promover a arte, pois uma grande fração das verbas iria para as superestrelas, que já são ricas ou ao menos confortáveis, deixando pouco dinheiro para apoiar os artistas que realmente precisam delas.
Eu proponho que, em vez disso, se pague a cada artista de acordo com a raiz cúbica de sua popularidade. Mais precisamente, o sistema poderia medir a popularidade de cada obra, dividi-la pelos artistas da obra para obter um valor para cada artista, depois calcular a raiz cúbica disso e determinar a fatia dos artistas em proporção a estas raízes cúbicas.
O efeito disto seria aumentar a fatia dos artistas moderadamente populares por meio da redução da fatia das superestrelas. Cada superestrela ainda receberia mais do que cada não superestrela, até várias vezes mais, mas não centenas ou milhares de vezes mais. Com essa alteração, uma dada soma total de dinheiro conseguirá apoiar adequadamente um maior número de artistas.
Promover a arte e a autoria apoiando artistas e autores é o objetivo correto de uma taxa de licença para o compartilhamento porque é o objetivo correto dos próprios direitos autorais.
Uma última questão é se o sistema deve apoiar autores e artistas estrangeiros. Seria natural que o Brasil exigisse reciprocidade de outros países como condição para lhes dar apoio a autores e artistas, mas penso que isto seria um erro estratégico. A melhor forma de convencer outros países a adotarem um plano como este não é pressioná-los por meio de seus artistas — eles não sentirão falta desses pagamentos porque não estão acostumados a recebê-los — mas educar seus artistas quanto aos méritos deste sistema. Incluí-los no sistema é a forma de educá-los.
Outra opção é incluir artistas e autores estrangeiros, mas reduzir o pagamento a 1/10 quando seus países não cooperarem reciprocamente. Imagine dizer a um autor: “Você recebeu R$ 50 da taxa brasileira de licença para o compartilhamento. Se seu país tivesse uma taxa semelhante e fizesse um acordo recíproco com o Brasil, você agora teria recebido R$ 500 do Brasil, somado à quantia de seu próprio país.”
Conheço um dos possíveis obstáculos à adoção deste sistema no Brasil: Tratados de Livre Exploração como aquele que estabeleceu a Organização Mundial do Comércio. Eles são projetados para fazer os governos agirem em benefício das empresas, não das pessoas; eles são os inimigos da democracia e do bem-estar da maioria das pessoas. (Agradecemos ao Lula por salvar a América do Sul da ALCA.) Alguns deles exigem “recompensa para os titulares dos direitos” como parte de sua política geral de favoritismo das empresas.
Felizmente, este obstáculo pode ser transposto. Se o Brasil se vir compelido a pagar pelo objetivo equivocado de “recompensar os titulares dos direitos”, ele ainda pode adotar o sistema apresentado acima. Aqui está como.
O primeiro passo rumo ao fim de um domínio injusto é negar sua legitimidade. Se o Brasil for compelido a “recompensar os titulares dos direitos autorais”, deve denunciar essa imposição como errada e ceder temporariamente a ela. A denúncia poderia ser colocada no preâmbulo da própria lei, da seguinte forma:
Considerando que o Brasil deseja incentivar a útil e prestativa prática de compartilhar, na Internet, obras publicadas;
Considerando que o Brasil é compelido pela Organização Mundial do Comércio a pagar aos titulares dos direitos o resgate dessa liberdade, mesmo que esse dinheiro vá apenas enriquecer as editoras em vez de apoiar artistas e autores;
Considerando que o Brasil deseja, além dessa exigência imposta, apoiar artistas e autores melhor do que o sistema atual de direitos autorais faz;
Em seguida, após estabelecer uma taxa para fins de “recompensa”, estabelecer uma segunda taxa adicional (igual ou maior em valor) para apoiar os autores e artistas. O plano desperdiçador e equivocado da “recompensa” não deve ser um substituto para o plano útil e eficaz. Então, implemente-se o plano útil e eficaz para apoiar os artistas diretamente, pois isso é bom para a sociedade, e implemente-se a “recompensa” exigida pela OMC, mas somente enquanto a OMC mantenha o poder de impô-la.
Isto iniciará a transição para um novo sistema de direitos autorais adequado à era da Internet.
Obrigado por considerar estas sugestões.
Richard M. Stallman
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
MANIFESTO DO CINEMA
Para vocês, o cinema é um espetáculo.
Para mim, é quase uma concepção do mundo.
O cinema é o veículo do movimento.
O cinema é a repulsa às literaturas.
O cinema é o destruidor da estética.
O cinema é um esporte.
O cinema é o princípio das idéias.
Mas o cinema está doente. O capitalismo cegou seus olhos com um punhado de pó de ouro.
Os hábeis empresários o levam às ruas pela mão.
Amontanham dinheiro comovendo os corações com argumentinhos chorosos.
Isto deve acabar.
Maiakovski. 1922.
Para mim, é quase uma concepção do mundo.
O cinema é o veículo do movimento.
O cinema é a repulsa às literaturas.
O cinema é o destruidor da estética.
O cinema é um esporte.
O cinema é o princípio das idéias.
Mas o cinema está doente. O capitalismo cegou seus olhos com um punhado de pó de ouro.
Os hábeis empresários o levam às ruas pela mão.
Amontanham dinheiro comovendo os corações com argumentinhos chorosos.
Isto deve acabar.
Maiakovski. 1922.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
The Rock Horror Picture Show
Em uma época em que rock´n roll era o estilo musical; em que travestis não era apenas uma opção sexual, e sim normal; em que o sexo e o prazer eram os mais deliciosos delírios – dá uma musical legal, não? – fora lançado um musical que retratava muito desta época de rebeldia: The Rocky Horror Picture Show – não fora traduzido aqui no Brasil – onde, do início ao fim, somos apresentados a um verdadeiro show.
Raramente, vemos um musical assim. Repleto de humor e músicas variadas, como a dança do tempo, a melhor das músicas, e muito mais... Quando o filme inicia somos apresentados a Janet (Sarandon) e Brad (Bostwick), um casal comum que se ama, porém ainda não provaram do fruto proibido. Chegando lá, são recebidos por Frank-N-Furter (Curry, a melhor atuação do filme), um transexual da Transilvânia. Lá, muitas surpresas irão por vir.
O talento de Tim Curry foi fundamental para o equilíbrio desta interessante produção, sem sua atuação o filme perderia a graça. São seus, os melhores momentos do filme. Temos também uma Susan Sarandon em início de carreira – e sexy também! – e talentosamente, ela interpreta Janet como uma inocente mulher que, ao longo do filme, descobre que pode ser muito mais que isso. Enquanto Barry Brostwick interpreta o noivo de Janet, o Brad, ele interpreta bem o personagem. O resto dos atores estão bons também no papel.
As músicas são bem amarradas e as melhores do filme, são, sem dúvida nenhuma, a interpretada por alguns travestis, a “Dance Warm” e também a interpretada por Meat Lof, cujo nome escapou agora e também tem a “Touch-Me”, quando Susan Sarandon tenta seduzir Eddie. Sim, os números musicais são legais, nada comparado a coreografia de Hair, mas são curiosas.
Embora o filme seja divertido e interessante, a fotografia deixa a desejar; os efeitos visuais são típicos da época, não digo ruins, mas também não digo ótimos – O Mágico de Oz, por exemplo, contando com aqueles efeitos impressionantes para a época, 1939... Mas não há como comparar, são histórias e épocas diferente – mas os raios desta produção são desenhos, por assim dizer, um desenho como Batman ou qualquer outro tem raios até melhores que este, mas deixa...
Por mais que The Rocky Horror Picture Show – sem tradução aqui no Brasil?! – representou uma mudança cinematográfica, e nos cinemas ele é exibido até hoje em sessões da meia-noite e todos o assistem de pé. Também, é um verdadeiro show cinematográfico. Um espetáculo do cinema.
QUARTA - 15/12 - 19H ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO
Eraserhead
Aparentemente, Eraserhead não tem significado algum. Eu acredito nisso. Escrever sobre esse filme é uma empreitada e tanto, já que, em determinado momento, a trama perde totalmente o controle, dando espaço a uma sucessão de imagens surrealistas dignas de comparação ao clássico Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel, ou a projetos experimentais de nomes consagrados do cinema como Bergman ou Fellini. Seu realizador, David Lynch (para mim, o maior cineasta em exercício no mundo), se nega até hoje a pronunciar uma única palavra sobre ele — cabe ao espectador elaborar a própria interpretação. Eraserhead não se encaixa a qualquer gênero; já foi chamado de terror, comédia de humor-negro, drama, neo-noir, ficção científica, etc. Num plano geral, trata-se de uma alucinante viagem ao universo imperfeito e cheio de arestas da condição humana, esboço daquilo que se transformaria no mote essencial da carreira de Lynch.
A primeira parte, apesar de estranhíssima, é muito precisa com relação ao enredo: Henry Spence, um homem solitário e dono de um penteado — digamos — exótico, recebe o convite da namorada, Mary, para jantar na casa dos pais dela. Lá, descobre que Mary teve um filho seu, porém a criança veio ao mundo “deformada”. Os dois se casam e vão morar no claustrofóbico quarto do rapaz, localizado num bairro industrial com cara de campo de concentração abandonado. Vemos aí a inquietante imagem do bebê, algo mais similar
a uma cabeça de bezerro ou a um filhote de cabra. Em vez de repousar num berço, como se supõe, a criatura permanece enrolada no cobertor sobre uma cômoda, como se fosse mais um adereço daquela decoração lúgubre e decadente.
O grande atrativo vem na segunda metade, quando Lynch passa a rechear o filme de seqüências oníricas e indecifráveis, mais do que na primeira parte. O público desavisado observa tudo com estranheza, talvez com um pouco de choque. Uma segunda conferida é sempre recomendada, inclusive aos fãs habituais do diretor. Existe aqui a possibilidade de ilimitadas facetas, tal como em 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (célebre admirador de Eraserhead), nítida inspiração para a abertura e o desfecho cósmicos da obra. A imagem inicial de um céu negro, pontilhado de estrelas, com um objeto ao fundo — um planeta? um meteoro? uma lua? —, com o reflexo do rosto de Henry no primeiro plano, parece fazer anúncio a uma viagem galáctica. Entretanto, no lugar de uma nave espacial, vemos um tipo de ameba ou minhoca alienígena se contorcer num solo pedregoso e cair numa poça d’água. Mais insólito, impossível!
A fotografia kafkiana reforça o pesadelo cinematográfico da fita. O elenco e os cenários são constantemente espreitados por uma luz incidente, quase estourada, fatiada por sombras duras e chapadas. O preto-e-branco é explorado com eficácia na elaboração de uma atmosfera sinistra, fazendo um casamento perfeito com os demais artifícios técnicos. Lynch jamais experimentaria efeitos visuais e sonoros com tanta segurança novamente. O zunido de uma luminária, o bramir do vento, o choro do “bebê”, enfim, todos os sons que escutamos ao longo da narração, aliados a uma trilha musical de idêntica bizarrice, convergem-se numa experiência singular.
É interessante comentar que o filme levou meia década para ficar pronto. O diretor não dispunha de muito dinheiro, era então desconhecido. Assim, o ator Jack Nance teve de agüentar aquelas madeixas à la Noiva de Frankenstein por anos, entre a primeira tomada e a última — tomadas que ficavam cada vez mais espaçadas, até a verba total ser obtida. Concluído, o trabalho fez relativo sucesso no mercado independente e logo virou cult, fato corriqueiro na filmografia de Lynch, que inclui, entre outros, O Homem Elefante, Veludo Azul e A Estrada Perdida.
Descrever as imagens mais hipnóticas de Eraserhead seria impensável, pois extrairia o vigor da obra. Basta uma breve advertência: não espere um filme com começo, meio e fim. Longe de ser uma peça de contestação ou escândalo, é antes de qualquer coisa um poema abstrato, a obra seminal de um artista inventivo, amado e odiado. E David Lynch segue fiel ao intuito de escrever personagens prisioneiros de sua condição humana, buscando uma saída, seja ela por meio da morte, da loucura, da amnésia, de investigações, de viagens, etc. Com Eraserhead, ele mostrou a que veio e arrematou um de seus trabalhos mais pessoais, brindando-nos com planos de espantosa originalidade.
QUARTA - 08/12 - 19h no Anfiteatro João Carriço
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Veludo Azul
Por Carlos Massari
Existem filmes que são impecáveis, com sintonia perfeita entre direção, roteiro, elenco, trilha sonora e outras partes. São filmes que costumam nos deixar por muito tempo felizes pelo simples fato de ter contemplado aquela obra-prima. `Veludo Azul` é um desses casos, trazendo uma direção arrebatadora de David Lynch, jogada por cima de um roteiro visceral e apreensivo, que resgata o clima noir do lixo que o envolve a tempo.
Esse suspense é de fazer inveja em Alfred Hitchcock, que deve ter aplaudido de pé quando viu. A história já tem um clima tenso ao extremo: Em uma cidade pequena e pacata, Jeffrey, um jovem estudante, acha uma orelha em um campo perto de sua casa. Então, ele resolve se envolver no caso, junto com a filha de um detetive. Então, entra na trama Dorothy, uma cantora de cabaré, a mulher mais desejada da cidade, que, por sua vez, é sadomasoquista, e guarda muitos segredos familiares. Junto com ela, entra as ligações de Frank, um traficante de drogas muito perigoso, que tem um caso com Dorothy. A partir desses quatro personagens básicos, a história começa a girar, e tecer uma rede de intrigas cada vez maior, e, o melhor de tudo, isso é feito com sutileza. Embora a trama seja um pouco pesada, o filme não se revela dessa maneira. Graças a direção espetacular de David Lynch.
Os detalhes apresentados, e os closes são sempre precisos, a câmera sempre focaliza de um ângulo inusitado, que a grande maioria dos espectadores não está acostumada a ver. É um estilo próprio de Lynch, que hoje já vem fazendo escola e ganhando mais adeptos. Só para se ter uma idéia, há cenas em que Lynch mostra o desfecho de alguma coisa, ou uma discussão ou briga, através da parede, mostrando as sombras dos personagens. Também há uma passagem que é mostrada sob a vista de dentro de um armário, na qual o personagem principal, Jeffrey, está dentro do armário da casa de Dorothy, observando atentamente as relações entre a dançarina e o traficante Frank. Esses padrões são anti-tradicionalistas para Hollywood, por isso Lynch nunca vez sucesso lá. E o diretor também escreveu o genial roteiro do filme. Quer dizer, tem o mesmo grau de maestria da direção. A rede de intrigas é intacta, não tem nem sombra de furo, o que deixa ua trama que, aparentemente é tão complicada, como uma coisa fácil de acompanhar. Além disso, tudo o que é apresentado tem seu lugar para ajudar a desenvolver a história. Acredito que, quando Lynch escreveu o filme, tinha como preocupação fugir dos clichês batidos do gênero. Tanto que tudo é original para a época em que o filme foi lançado, o romance ainda cola, e os personagens tem vida, ao contrário da situação capenga do cinema atual. A trilha sonora também tem ótimos momentos, a musiva `Blue Velvet`, que toca em boa parte do filme tem um impacto forte, e muita ligação com a história. Tanto que dá nome ao filme.
Já o elenco tem nomes fortíssimos, como Kyle Maclachilan, que na época em que o filme foi feito não era muito famoso. Assim como todos que tem um papel forte, ajudados pela complexidade que o roteiro dá aos personagens, Kyle está perfeito em cena. Transmite medo e apreensão ao espectador, e com muito carisma. Já Isabella Rosselini (Dizem que se separou do diretor David Lynch por cupla de um close em sua celullite) Dennis Hopper e Laura Dern também cumprem sues papéis, formando uma esquadra com total sintonia em cena. Ainda não se convenceu da força de `Veludo Azul`? Então saiba que não há sustos artificiais, e sim uma sub-trama policial bem montada, que pode servir de pano de fundo para críticas contra o sistema. Saiba que há um romance não-piegas, mas com facilidade para emocionar o espectador. Melhor que isso, só assistindo o filme, já que hoje em dia, está cada vez mais difícil ver filmes com esse nível fantástico.
QUARTA - 01/12/2010 - 19h ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
RECIFE: CAPITAL MUNDIAL DO CINECLUBISMO
Pelos Direitos do Público!
Na próxima semana, estaremos participando de um evento marcante para a história do cineclubismo no Brasil
Celebrar a consolidação da rearticulação do movimento cineclubista brasileiro, sua reconhecida
liderança e protagonismo no cenário mundial nas lutas pela democratização do acesso à cultura audiovisual, pelo fortalecimento das diversidades e identidades culturais e pelos direitos do público. Estes são os principais objetivos da 28ª Jornada Nacional de Cineclubes, da 3ª Conferência Mundial de Cineclubismo e da Assembléia Geral da FICC - Federação Internacional de Cineclubes que serão realizadas entre 5 e 11 de dezembro em Recife (PE).
Organizados pelo CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros em parceria com a FEPEC - Federação Pernambucana de Cineclubes e com a FICC - Federação Internacional de Cineclubes, os eventos já tem confirmadas as participações de delegados de mais de 250 cineclubes que
desenvolvem atividades de difusão audiovisual em todos os 27 estados brasileiros, de representantes
de federações nacionais cineclubistas filiadas à FICC - Federação Internacional de Cineclubes em mais 50 países do mundo, de lideranças das principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e das mais importantes autoridades governamentais da cultura do brasileiros.
Segundo Antonio Claudino de Jesus, presidente do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros e Vice Presidente da FICC - Federação Internacional de Cineclubes “neste período, Recife será momentaneamente a capital mundial do movimento cineclubista e neste sentido, todas as milhares de pessoas que no mundo inteiro lutam e militam pela democratização do acesso à informação, aos meios de acesso e aos instrumentos do fazer cultural, pelo respeito e fortalecimento das identidades e diversidades culturais e pelos direitos do público, estejam ou não presentes, estarão antenados e acompanhando os debates que acontecerão na capital pernambucana”.
Ainda segundo Claudino de Jesus, a realização destes eventos em Recife além de marcar a consolidação da rearticulação do movimento cineclubista brasileiro iniciada em 2003, fortalecerá ainda mais a liderança e protagonismo que vêm sendo desenvolvidos pelos cineclubistas brasileiros nos últimos anos, quer no cenários dos movimentos do audiovisual nacional ou internacional.
“Estaremos em Recife comemorando os resultados alcançados por um processo iniciado em 2003, numa situação na qual o movimento cineclubista brasileiro se encontrava completamente desorganizado e desarticulado nacional e internacionalmente. Lembro-me bem. Na primeira reunião que foi articulada com o objetivo de resgatar e reorganizar o movimento cineclubista brasileiro, organizada pelo companheiro Leopoldo Nunes, que na época era chefe de Gabinete do Ministro Gilberto Gil, éramos menos que uma dezena de cineclubistas. Tal reunião resultou na realização da 24ª Jornada Nacional de Cineclubes que aconteceu em 2004 durante o Festival de Brasília e que contou com a participação de representantes de cerca de 60 cineclubes brasileiros. Pois bem, sete anos depois, graças a militância de centenas de novos
militantes, do apoio e das políticas públicas implantadas pelo Governo Federal (e também de alguns governos estaduais e municipais) fico extremamente feliz em anunciar ao Brasil e ao mundo todo de que hoje o movimento cineclubista brasileiro está vivo e mais atuante como nunca se verificou na história. Prova disso é que nacionalmente, o CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros conta hoje com cerca de 500 cineclubes filiados e está presente em todos os 27 estados da federação, dentre os quais em pelo menos 5 já conseguimos nos rearticular institucionalmente em nível estadual. E isso ainda é pouco já que sabemos que
existem atualmente mais de 1000 cineclubes em atividade no país. Já do ponto de vista da participação e representação institucional junto às instâncias nacionais e internacionais do setor audiovisual temos também muito a comemorar, afinal, restabelecemos, fortalecemos e avançamos muito dentro da proposta inicial que era de apenas recuperar os espaços que tínhamos perdido. Prova disso é que hoje, através do CNC, o movimento cineclubista brasileiro ocupa a vice presidência da FICC - Federação Internacional de Cineclubes, vários cargos na Diretoria Executiva e no Conselho do CBC - Congresso Brasileiro de Cinema, restabeleceu parcerias com as principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e participa
de vários instâncias consultivas e deliberativas governamentais federais, estaduais e municipais.”
Finalizando, o Presidente do CNC declarou: “Temos sim muito a comemorar, mas sabemos que a luta continua e que portanto, precisamos nos manter unidos e molilizados. E este é o sentido e o objetivo maior destes eventos que realizaremos em Recife.”
de federações nacionais cineclubistas filiadas à FICC - Federação Internacional de Cineclubes em mais 50 países do mundo, de lideranças das principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e das mais importantes autoridades governamentais da cultura do brasileiros.
Segundo Antonio Claudino de Jesus, presidente do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros e Vice Presidente da FICC - Federação Internacional de Cineclubes “neste período, Recife será momentaneamente a capital mundial do movimento cineclubista e neste sentido, todas as milhares de pessoas que no mundo inteiro lutam e militam pela democratização do acesso à informação, aos meios de acesso e aos instrumentos do fazer cultural, pelo respeito e fortalecimento das identidades e diversidades culturais e pelos direitos do público, estejam ou não presentes, estarão antenados e acompanhando os debates que acontecerão na capital pernambucana”.
Ainda segundo Claudino de Jesus, a realização destes eventos em Recife além de marcar a consolidação da rearticulação do movimento cineclubista brasileiro iniciada em 2003, fortalecerá ainda mais a liderança e protagonismo que vêm sendo desenvolvidos pelos cineclubistas brasileiros nos últimos anos, quer no cenários dos movimentos do audiovisual nacional ou internacional.
“Estaremos em Recife comemorando os resultados alcançados por um processo iniciado em 2003, numa situação na qual o movimento cineclubista brasileiro se encontrava completamente desorganizado e desarticulado nacional e internacionalmente. Lembro-me bem. Na primeira reunião que foi articulada com o objetivo de resgatar e reorganizar o movimento cineclubista brasileiro, organizada pelo companheiro Leopoldo Nunes, que na época era chefe de Gabinete do Ministro Gilberto Gil, éramos menos que uma dezena de cineclubistas. Tal reunião resultou na realização da 24ª Jornada Nacional de Cineclubes que aconteceu em 2004 durante o Festival de Brasília e que contou com a participação de representantes de cerca de 60 cineclubes brasileiros. Pois bem, sete anos depois, graças a militância de centenas de novos
militantes, do apoio e das políticas públicas implantadas pelo Governo Federal (e também de alguns governos estaduais e municipais) fico extremamente feliz em anunciar ao Brasil e ao mundo todo de que hoje o movimento cineclubista brasileiro está vivo e mais atuante como nunca se verificou na história. Prova disso é que nacionalmente, o CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros conta hoje com cerca de 500 cineclubes filiados e está presente em todos os 27 estados da federação, dentre os quais em pelo menos 5 já conseguimos nos rearticular institucionalmente em nível estadual. E isso ainda é pouco já que sabemos que
existem atualmente mais de 1000 cineclubes em atividade no país. Já do ponto de vista da participação e representação institucional junto às instâncias nacionais e internacionais do setor audiovisual temos também muito a comemorar, afinal, restabelecemos, fortalecemos e avançamos muito dentro da proposta inicial que era de apenas recuperar os espaços que tínhamos perdido. Prova disso é que hoje, através do CNC, o movimento cineclubista brasileiro ocupa a vice presidência da FICC - Federação Internacional de Cineclubes, vários cargos na Diretoria Executiva e no Conselho do CBC - Congresso Brasileiro de Cinema, restabeleceu parcerias com as principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e participa
de vários instâncias consultivas e deliberativas governamentais federais, estaduais e municipais.”
Finalizando, o Presidente do CNC declarou: “Temos sim muito a comemorar, mas sabemos que a luta continua e que portanto, precisamos nos manter unidos e molilizados. E este é o sentido e o objetivo maior destes eventos que realizaremos em Recife.”
Política Cineclubista
Já o secretário geral e diretor de comunicação do CNC, João Baptista Pimentel Neto destacou a importância política das atividades que serão realizadas em Recife. “É verdade. Teremos muito a comemorar e celebrar em Recife. É importante porém que seja registrado que durante os eventos acontecerão as eleições para as novas diretorias do CNC - Conselho Nacional deCineclubes Brasileiros e da FICC - Federação Internacional de Cineclubes.”
Segundo Pimentel, apesar de tratarem-se de assuntos aparentemente de ordem interna no movimento, o resultado destas eleições são da maior importância para o cineclubismo brasileiro e mundial. “A escolha de novos dirigentes para o CNC e para FICC serão certamente um dos temas mais importantes dos eventos, já que serão determinantes para que o processo atual tenha continuidade. Acredito que diante dos resultados que serão apresentados, não encontraremos problemas quanto a continuidade e assim, o movimento cineclubista brasileiro acabará certamente consolidando sua liderança mundial, alicerçada na continuidade do processo que vêm sendo desenvolvido nacionalmente.”
Ainda segundo Pimentel, o maior indicativo disso é que pela primeira vez na história a FICC - Federação Internacional de Cineclubes realiza uma Assembléia Geral na América do Sul, sendo que durante seus 60 anos de existência, tal atividade aconteceu uma única vez fora da Europa. “A Assembléia Geral da FICC só aconteceu fora da Europa há 25 anos atrás, em Cuba. E isso é também um mote comemorativo. E indica que finalmente o Brasil e o movimento cineclubista brasileiro estão prontos e aptos para exercer a lidença mundial.”
Homenagens e atividades paralelas
Durante o evento acontecerão ainda várias atividades paralelas, dentre as quais merecem destaque a realização de várias mostras de cinema nacional e internacional. Como por exemplo a Mostra que reunirá os principais filmes do premiado cineasta iraniano Kamran Shirdel, praticamente inédita no Brasil.
Serão ainda prestadas várias homenagens a personalidades nacionais e internacionais que receberão do CNC o Prêmio “Paulo Emílio Salles Gomes e certificados de reconhecimento aos serviços prestados à cultura, ao audiovisual e ao cineclubismo.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Cidade dos Sonhos
Por Juliana Fausto
Ao assistir a Cidade dos Sonhos, tem-se a impressão de que tudo ali já foi visto antes, no cinema do próprio David Lynch; referências a Twin Peaks, Veludo Azul, Coração Selvagem e Estrada Perdida aparecem a todo momento e com uma tal profusão que, à primeira vista, pode-se pensar que o cineasta não fez senão repetir-se, reciclar seus próprios temas sem sair do lugar. Mas uma segunda olhada pode nos mostrar que Lynch sabia bem o que estava a fazer e que, ainda que seu ponto de partida seja o diálogo com a sua própria obra, que esse diálogo não é nunca estático.
Cidade dos Sonhos começa com um acidente de carro que salva uma mulher (Laura Elena Harring) de ser assassinada; com amnésia total, ela vaga por entre casas até resolver se alojar na residência de uma senhora que parte naquele momento para viajar. Acontece que a tal senhora havia emprestado seu apartamento para uma sobrinha vinda do interior para tentar a sorte como atriz ali, em Hollywood. Essa sobrinha, Betty (Naomi Watts), exemplo de boa moça, encontra a acidentada e, ao saber de sua história – isto é, daquilo que a outra se recorda, de que esteve envolvida em uma batida de carros – resolve ajudá-la a descobrir a sua verdadeira identidade. Uma cena antes, aparentemente desconectada do resto da ação, dá já o tom do filme: dois homens conversam em uma coffee shop; o primeiro narra ao segundo um sonho horrível que teve. Ali, naquela mesma lanchonete, ele via o amigo nervosíssimo a fitar o horizonte e acabava por se apavorar ele mesmo, ao descobrir a razão do sofrimento do outro: um homem horrível atrás de uma parede. Como que para se purgar de tal pesadelo, ele pede ao amigo que o acompanhe até essa parede, que fica do lado de fora da coffee shop; o amigo vai. Eles seguem lentamente até que surge, por detrás do muro, um rosto horrendo, que olha o homem do sonho. Esse olhar é suficiente para que ele caia no chão, terrificado. Alguns momentos antes, dizia ao amigo: "Espero não ver nunca aquela face fora do sonho". Cidade dos Sonhos é um sonho. E um pesadelo.
O filme como que se divide em duas partes - à maneira de Estrada Perdida: na primeira, a história da amnésica; na segunda, uma espécie de variação da primeira história, com as personagens em outros papéis. Em ambas, trata-se de um sonho. Mas não um sonho do tipo que pode ser explicado pela psicologia. Como sempre, em Lynch, os signos não fazem referência nunca a algo externo, mas existem em si, como signos, fundamentalmente; o sonho lynchiano não revela nenhum desejo oculto de personagem, não se baseia em experiência psicológica ou remete a algo fora de si mesmo. Para realizar esse tipo de sonho, neste filme, o cineasta se vale do superlativo: atuações exageradas e cores fortes dão o tom de seu sonho/pesadelo, que não é em relação com a realidade, mas funciona como um certo tipo de percepção. O seu exagero não faz de Mulholland Drive, porém, uma caricatura risível; antes, ele busca seriedade em cada clichê que lança – e são muitos, sendo esse mesmo o motivo pelo qual se pensa que o filme é somente uma repetição vazia do que o cineasta realizou até aqui, quando, em verdade, o diálogo que se trava é com todo um sentido de cinema – desde o momento em que decide se utilizar deles no sentido fundante que os transformou a cada um em clichês.
Mas aqui, ao contrário de Estrada Perdida – em que primeira e segunda parte, por se localizarem em uma mesma dimensão, não faziam nenhum sentido juntas – é a segunda parte que, alterando totalmente o sentido da primeira, põe em cena o destino do qual não se pode fugir, tema tão caro a Lynch. A segunda parte é o pesadelo da primeira e, ao mesmo tempo, a primeira parte, a fantasia da segunda. Mas nas duas há um ponto comum: o amor que Betty/Diane sente por Rita/Camilla, a acidentada da primeira parte. Ou seja, estamos sempre em território lynchiano, o terreno da paixão, terreno em que, não importa o que se faça, há que se sempre cumprir seu destino. A paixão aqui, leva até aquilo que os franceses chamam de effondrement, um tipo de afundamento, de desmoronamento. É o duplo desmoronamento de Betty/Diane que presenciamos.
Em determinado momento do filme, as duas amantes vão assistir a um espetáculo; nele, o mestre de cerimônias fala: "Não há orquestra. Não há orquestra. Está tudo gravado". Isso resume a intenção do diretor porque diz: está tudo gravado, tudo determinado já de antemão. Não importa o que se faça, há de se eternamente chegar ao mesmo lugar. Nesse sentido, o que importa é muito menos a conseqüência da ação do que ela, como percepção e experiência, em si. E se esse é o tema que vem perpassando todo trabalho de Lynch, ele aqui atinge, talvez, seu ponto mais alto: porque cada elemento do seu Cidade dos Sonhos converge univocamente para um lugar, o cinema.
QUARTA- 24/11 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Uma história real
Perturbante. É o que se pode dizer deste filme de David Lynch porque nos desarma com a sua simplicidade. Perturba essencialmente porque nos mostra a vida em todo o seu esplendor humano – algo a que não estamos realmente acostumados.
Baseada em fatos verídicos, esta é a história de um agricultor já idoso que atravessa, montado num cortador de grama, dois estados dos EUA para fazer as pazes com o seu irmão com quem já não falava há muitos anos. A sua determinação e coragem o levam a enfrentar e vencer todas as adversidades da viagem para concretizar o seu desejo. Simples e direto o confronto com a natureza humana: deixar para trás o orgulho ferido de um desentendimento antigo e dar o primeiro passo em busca da possível reconciliação.
QUARTA - 17/10/10 - 19H VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O "Coração Selvagem" de Lynch
A sessão do Cineclube Bordel Sem Paredes desta semana apresentou "Coração Selvagem", vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 1990, e reconhecido como um dos filmes mais acessíveis da carreira de David Lynch - nesse aspecto, talvez seja superado apenas por “O Homem Elefante”, de 1980, o qual foi exibido no dia 03/11 pelo Cineclube, iniciando a mostra "O belo mundo bizzaro de David Lynch".
Após "Coração Selvagem", foram sorteados o DVD do curta "O Móbile", e o livro “O Delírio de Apolo: sobre teatro e cinema” de Evandro Medeiros, ambos projetos patrocinados pela Lei Murilo Mendes de incentivo à cultura. O sorteio se deu através de uma ação promovida pelo twitter do cineclube.
Na próxima quarta, "Uma história real", longa de 1999 do belo bizarro cineasta americano, dando prosseguimento à mostra.
Siga o cineclube pelo twitter e acompanhe a programação e as promoções. http://twitter.com/cineclubebordel
Após "Coração Selvagem", foram sorteados o DVD do curta "O Móbile", e o livro “O Delírio de Apolo: sobre teatro e cinema” de Evandro Medeiros, ambos projetos patrocinados pela Lei Murilo Mendes de incentivo à cultura. O sorteio se deu através de uma ação promovida pelo twitter do cineclube.
Na próxima quarta, "Uma história real", longa de 1999 do belo bizarro cineasta americano, dando prosseguimento à mostra.
Siga o cineclube pelo twitter e acompanhe a programação e as promoções. http://twitter.com/cineclubebordel
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Coração Selvagem
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 1990, o road movie “Coração Selvagem” (Wild at Heart, EUA, 1990) é reconhecido como um dos filmes mais acessíveis da carreira de David Lynch (nesse aspecto, talvez seja superado apenas por “O Homem Elefante”, de 1980). Na época do lançamento original nos cinemas, os fãs mais radicais da obra pregressa de Lynch comentavam que o filme poderia marcar a rendição do diretor, então considerado um dos mais herméticos em atividade nos EUA, ao cinema mais comercial. Para os mais incrédulos, o cineasta provaria depois, com longas-metragens intrincados e delirantes como “Cidade dos Sonhos” (2001), que não havia se vendido ou coisa parecida.
Na verdade, não é necessário conferir filmes mais recentes para comprovar que o olhar bizarro e a sensibilidade pós-moderna do cineasta continuam intactos. Basta uma olhada mais atenta ao próprio longa de 1990 para confirmar isto. Violento, visceral e repleto de imagens oníricas, com textura de pesadelo, “Coração Selvagem” concentra todas as obsessões de David Lynch em uma galeria inesquecível de personagens carregados de símbolos da cultura pop: o casaco de pele de cobra de Sailor Ripley (Nicolas Cage), o chiclete eterno de Lula (Laura Dern), os dentes podres de Bobby Peru (Willem Dafoe), os cabelos loiros desgrenhados das gêmeas más vestidas de preto (Grace Zabriskie e Isabella Rossellini), o assassino negro da moeda de prata que usa terno púrpura (Calvin Lockhart).
Ligando os personagens, outra série interminável de motivos caros ao cineasta, como citações a Elvis Presley e Marilyn Monroe, além de referências múltiplas ao clássico infanto-juvenil “O Mágico de Oz” (1939). A trilha sonora, com trechos incidentais compostos pelo próprio Lynch, resume com perfeição a qualidade pós-moderna do trabalho, pois mistura indistintamente estilos aparentemente inconciliáveis, como rockabilly, ópera, trechos clássicos orquestrados e heavy metal brutal. Apesar de parecer uma salada indigesta, a fusão de todos esses elementos do imaginário pop se revela coesa e bem amarrada, graças ao talento de narrador de David Lynch, que constrói um road movie violento, sensual e repleto de humor negro.
A história acompanha uma viagem de carro empreendida por um jovem casal. Sailor (Cage) e Lula (Dern) não estão em busca de algo em particular. Apenas fogem da mãe dela, Marietta (Diane Ladd, mãe verdadeira de Laura Dern), uma perua histérica que tem a mania de se vestir como atrizes famosas do passado. Na estrada para o Texas, eles são perseguidos por um detetive (Harry Dean Stanton) e um matador (J.E. Freeman), e encontram personagens aterrorizantes, como o assaltante Bobby Peru (Willem Dafoe) e a figura sinistra de Juana Durango (Grace Zabriskie). A imagem desta última, com o rosto vincado de rugas, o cabelo loiro mal pintado e a bengala de metal, é aparição garantida nos piores pesadelos do espectador desavisado. Material de provocar arrepios.
Divertindo-se a valer, o elenco numeroso oferece performances exageradas e deliciosas. Não foram poucos os atores que desenvolveram neste filme maneirismos que os acompanhariam para sempre, caso tanto de Cage quanto de Dern. Mas o maior destaque vai provavelmente para Willem Dafoe, que protagoniza a seqüência mais espetacular, uma visitinha ao quarto imundo do hotel vagabundo do casal, quando encontra Lula sozinha e enjoada. Trata-se de um exemplo perfeito de como uma montagem adequada pode alterar suavemente a atmosfera de uma mesma cena, várias vezes, indo do bem-humorado ao aterrorizante, e daí ao sensual, e ainda assim permanecer completamente acreditável. “Coração Selvagem” não é para todo mundo, mas admiradores do cinema impressionista de David Lynch, e fãs de filmes absurdos de modo geral, vão amar.
QUARTA - 10/10/10 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO
O Belo Mundo Bizarro do Homem Elefante
O filme "O Homem Elefante" abriu a mostra "O Belo Mundo Bizarro de David Lynch". Cerca de 30 pessoas estiveram presentes para assistir ao segundo filme de David Lynch, que com esse filme passou a ficar conhecido do grande público, tendo inclusive sido indicado ao Oscar. Ao mostrar o drama de John Merrick, um homem deformado por elefantíase que é atração de um circo de bizarrices, o filme faz referencias ao clássico "Freaks" de 1932. Ao mostrar um homem com aparência de monstro e alma sensível se transformando em uma celebridade às avessas, o filme faz pensar em algumas questões muito atuais, como o circo da mídia sensacionalista que explora pessoas e situações. Segundo a professora Manuela Martins, o cineclube é uma ótima oportunidade de conhecer a obra de David Lynch, identificando em cada filme a marca do diretor.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Teaser David Lynch
Com filmes que deixam o convencional de lado e ultrapassam as barreiras da criatividade, David Lynch consegue causar medo com tomadas aparentemente banais e deixar dúvidas até onde não deveria
O Homem Elefante
Por Emílio Franco Jr.
O hoje consagrado diretor David Lynch dirigiu O Homem Elefante (The Elephant Man, 1980) no início de sua carreira. Com o filme indicado a oito prêmios Oscar, Lynch já se destacara desde então como um cineasta diferenciado. Filmada em preto-e-branco, a história real do homem de rosto e corpo desfigurados, que é usado como atração principal pelo dono de um circo na Inglaterra vitoriana, é uma bela lição sobre humanidade.
A trama é desenhada com clareza e a narrativa, simples e objetiva, contrasta com o Lynch de tramas complexas como o de Cidade dos Sonhos (Mullholand Drive, 2001). Contido, sem maneirismos inovadores, o diretor segue à risca a cartilha de filmagem do cinema clássico e se sai muito bem – anos mais tarde, pôde se arriscar com o abstrato que o consagrou entre os cinéfilos.
Logo de início, o circo apresenta seu show de bizarrices, no qual o homem elefante, interpretado por John Hurt, é a atração principal. Tratado como se fosse de fato um animal em razão de sua rara doença, o homem que posteriormente se apresenta como John Merrick sente-se coagido e parece não conseguir enxergar em si próprio um ser humano. Apenas quando o Dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) se revolta com a exploração que é feita de John e resolve tentar ajudá-lo de alguma forma, é que o próprio homem elefante começa a se descobrir com alguém tão normal como qualquer outro.
John Merrick pode parecer, a princípio, uma exceção em razão de seu físico, mas, na verdade, é a representação de algo/alguém que foge da normalidade cotidiana, daquilo que é classificado como comum, e por isso sente na pele o preconceito, já que tudo o que é diferente tende a ser visto com receio e medo pela sociedade. A situação enfrentada pelo homem elefante não difere de problemas pelos quais outras muitas pessoas com alguma deficiência ou diferença passam.
É assim, ao realizar essa identificação com o espectador, que a história se estabelece como uma narrativa atemporal – e faz sua mensagem ser compreendida e, acima de tudo, sentida. Sensível na construção do enredo, O Homem Elefante mostra a jornada de autodescobrimento de um homem que, por ser diferente, aceitava de forma passiva ser considerado uma aberração. O desenvolvimento do personagem e suas novas percepções de mundo emocionam.
Explorado durante muito tempo pelo responsável pelo circo, John sente-se sempre na defensiva e é incapaz de cometer um ato de maldade contra aqueles que ainda se aproveitam de sua imagem e o maltratam, justamente por ser, no fim das contas, um ser humano, expondo, ao mesmo tempo, o lado animal - e desumano - daqueles que se consideram normais. E é quando o próprio médico reflete sobre seu caráter, ao ponderar a hipótese de ter se tornado aquilo que condenava por ter alcançado fama e prestígio ao acolher e auxiliar John, que ele se diferencia dos demais. Esta é uma questão que o diretor entrega ao público, mas ao se questionar, o médico acaba mostrando que em seu ato nunca houve a intenção de se beneficiar da doença de John. A exposição que um dia foi maléfica para o homem passa a ser o que lhe garante o apoio da aristocracia inglesa e o resgata da condição de animal para a de um artista sensível sem condições físicas de demonstrar seu talento – e até por isso os minutos finais são tão emblemáticos.
O Homem Elefante marca o espectador com a construção de seu desfecho. A cena da estação de trem, por exemplo, na qual John se sente acuado e intimado pelo olhar reprovador dos demais, proporciona frases clássicas que, pelo contexto, tornam-se emocionantes: “não sou um elefante”, “não sou um animal”, “sou um ser humano”, “sou...um homem”. John Merrick foi um homem que conviveu boa parte de sua vida cercado por animais.
HOJE - 03/11 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO
O Belo Bizarro David Lynch
Com filmes que deixam o convencional de lado e ultrapassam as barreiras da criatividade, David Lynch consegue causar medo com tomadas aparentemente banais e deixar dúvidas até onde não deveria. O diretor gosta de personagens bizarros, seus encontros e desencontros são apresentados com um olhar vertiginoso, tenso. O experimentalismo sempre foi utilizado em sua obra, o lado obscuro do ser humano também. Pode-se gostar ou odiar, mas ficar indiferente, jamais. A estrada de Lynch é luminosa
Diz-se normalmente que Lynch transformou-se em um cineasta obscuro, destes que amam narrativas que se dissolvem em um emaranhado de labirintos e falsas pistas. Mas podemos dizer também que é alguém que deixa muito claras suas intenções. Preparem-se para sentir desconforto, rirem, chorarem ou sentirem repugnancia, o Cineclube Bordel sem Paredes te convida e adentrar pela mente sombria de um dos diretores mais originais do cinema moderno.
03/11
O Homem Elefante (1980)
118 minutos
Baseado em fatos reais, "O Homem Elefante" reconstitui a vida de um rapaz que nasceu com uma terrível deformidade física. No filme, John Merrick (John Hurt) sofre uma horrível deformação de nascença, provocada por uma doença rara. Seu rosto, horrivelmente desfigurado, manifesta traços de um elefante. Encurralado num cruel show itinerante e explorado como uma bizarra atração circense, Merrick sofre o tormento da exclusão da sociedade, até que um jovem cirurgião de nome Frederick Treves (Anthony Hopkins) resolve salvá-lo.
À medida em que o filme se desenvolve, vemos neste conto emocionante a descoberta que Treves faz da personalidade gentil e pacífica de Merrick, inerte sob sua desfigurada aparência. Contando com um ótimo elenco, "O Homem Elefante" é um filme comovente e tocante, considerado por muitos como um dos melhores trabalhos de David Lynch.
10/11
Coração Selvagem (1990)
98 minutos
Dois jovens amantes, Sailor e Lula, vivem uma intensa relação amorosa numa viagem cheia de surpresas. Lula tenta escapar da mãe louca e obsessiva. Sailor acaba de sair da prisão. não têm certeza para onde vão ou o que fazer. Seguem, estrada afora, numa exótica viagem pelo sul dos Estados Unidos, onde deparam-se com as mais estranhas pesonagens e com acontecimentos não menos curiosos. Um conto de fada contemporâneo em forma de filme de estrada.
17/11
Uma história Real (1999)
Perturbante. É o que se pode dizer deste filme de David Lynch porque nos desarma com a sua simplicidade. Perturba essencialmente porque nos mostra a vida em todo o seu esplendor humano – algo a que não estamos realmente acostumados.
Baseada em fatos verídicos, esta é a história de um agricultor já idoso que atravessa, montado num cortador de grama, dois estados dos EUA para fazer as pazes com o seu irmão com quem já não falava há muitos anos. A sua determinação e coragem o levam a enfrentar e vencer todas as adversidades da viagem para concretizar o seu desejo. Simples e direto o confronto com a natureza humana: deixar para trás o orgulho ferido de um desentendimento antigo e dar o primeiro passo em busca da possível reconciliação.
24/11
Cidade dos Sonhos (2001)
140 minutos
Um acidente automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Harring) escapa da colisão, mas perde a memória e sai do local rastejando para se esconder em um edifício residencial que é administrado por Coco (Ann Miller). É nesse mesmo prédio que vai morar Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à cidade que conhece Rita e tenta ajudar a nova amiga a descobrir sua identidade. Em outra parte da cidade o cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), após ser espancado pelo amante da esposa, é roubado pelos sinistros irmãos Castigliane.
01/12
Veludo Azul (1986)
120 minutos
Jeffrey Beaumont (MacLachlan) regressa da universidade à sua cidade natal para visitar o pai que está internado no hospital após um ataque cardíaco. Passeando pelo campo encontra uma orelha humana, que leva e entrega à polícia. Desejando saber mais pormenores sobre a sua lúgubre descoberta vai à casa do detective Williams (Dickerson), encarregue do caso, mas este mostra-se extremamente evasivo. A filha do polícia, Sandy (Dern) vem falar com ele, saindo das sombras, na rua. Mais tarde encontram-se e ambos combinam levar a curiosidade por diante, principalmente depois de Sandy referir um nome que ouviu o pai proferir: Dorothy Vallens (Rosselini), cantora num bar das proximidades e cujo marido foi raptado. A estratégia de ambos leva a que Jeffrey queira espiar a casa de Dorothy, e cedo se vê envolvido com um malfeitor da pior espécie - Frank Both (numa magnífica interpretação de Hopper), e poderá ser o destinatário de uma das suas "cartas de amor".
08/12
Eraserhead (1977)
89 minutos
Henry Spencer (Jack Nance) é um reservado operário de uma fábrica que se vê obrigado a casar com Mary X, uma antiga namorada que se diz grávida dele. O bebê nasce uma aberração, que faz com que Mary abandone Henry para ele cuidar da 'criatura' sozinho.
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