Um dos melhores filmes de 1997, "Baile Perfumado" mostra à relação do fotógrafo Benjamim Abrahão (Duda Mamberti) com o notório cangaceiro Lampião(Luís Carlos Vasconcelos), quando o libanês se embrenhou no sertão nordestino para revelar, em um documentário, a rotina do bando do temido e admirado Virgulino Ferreira. O fato histórico gera uma película de cores vivas, na qual a audácia e tino comercial de um homem conduzem-no a uma aventura repleta de perigos e seduções. O documentário de Abrahão capta Lampião em momentos comuns de fé e demonstração de liderança e confraternização com os outros bandoleiros.
No entanto, o filme de Lírio Ferreira e Paulo Caldas focaliza um Lampião cruel, severo, mas capaz de simpatia e deleitamento com a beleza e a música.
O envolvimento de Benjamim e de Lampião possui uma certa cumplicadade, ambos sabem o que podem obter do outro. Porém, o sonho do libanês transforma-se em pesadelo quando ele esbarra no poder institucional e no poder paralelo, pois Lampião não era o único perigo num nordeste árido de muitos "figurões "políticos.O filme, enfoca um Lampião que se deslumbra com os primeiros rasgos de modernidade no sertão, coisas como o uísque escocês, a máquina fotográfica e o perfume francês, que utilizava em grandes bailes. Um personagem diferente daquele lembrado por tiros e emboscadas.
"Baile Perfumado" traduz um Brasil de sonhos,de lutas e de disputa pelo poder . O Nordeste que abriga Lampião é o signo de um país que se constitui sobre o anátema da beleza e do perigo constante (leia-se o temor da violência).
QUINTA-FEIRA - 15/12 - ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO - 19 HORAS
Remanescente do movimento do Free Cinema, na Inglaterra, LIndsay Anderson dirigiu e co-produziu “If...”, em 1968. Filme este que o consagrou, levou a Palma de ouro em 69 e será exibido dia 08 de dezembro no Bordel Sem Paredes. “If...” é também a estreia de Malcolm McDowell no cinema, como Mick Travis. Esse personagem ainda aparece em mais outros 2 filmes de Lindsay, “O Lucky Man”, de 1973 e “Britannia Hospital”, de 1982, completando assim a trilogia que marca a parceria de Anderson e McDowell.
Abaixo, a tradução livre de uma review de 2000 sobre o filme, que mostra um pouco da produção e do contexto da época em que o filme foi lançado.
Às vezes eu queria que o filme “If...”, que foi um grande marco na carreira de Lindsay Anderson, não tivesse alcançado o status de ícone - que ofusca outros filmes do diretor que refletem sua relação amor-ódio escocesa com a Grã-Bretanha. Britannia Hospital é hoje uma verdade da Grã-Bretanha no auge de um colapso coletivo assim como era em 1982 - ainda mais verdadeira, já que a Grã-Bretanha de Blair confirma a crença de Lindsay de que nada muda nesta sociedade, só se repete de maneira pior.
Lindsay Anderson e Malcolm McDowell
Mas o sucesso de “If...” é o que você tem quando fala para uma geração, mesmo que não seja sua própria geração, e o momento é uma coincidência, não é intencional. Lindsay tinha 45 quando dirigiu e co-produziu essa história de revolução anti-establishment em um elegante internato para meninos, com Malcolm McDowell como o líder de um bando de estudantes terroristas disparando balas de verdade nos pais, governantes, funcionários e diretor em dia de discurso.
O filme estreou em 1968, justamente quando os adolescentes radicais da Europa estavam aterrorizando chefes de Estado de vários países. Embora os jovens europeus tenham feito mais barulho do que sentido, eles tinham a juventude do seu lado - e juventude livre é o que “If...” celebra em toda a sua impulsiva e violenta chamada às armas.
O filme de Jean Vigo de 1930, “Zero de conduit”, que tem um tema similar, embora aconteça em uma instituição de ensino muito mais bizarra, foi o modelo reconhecido por “If...” e Anderson deixa sua ação correr em pequenas manchas de surrealismo ou, como ele a chamava, "realidade poética", como "homenagem" a Vigo. (...)
Cheltenham College, escola pública do próprio Lindsay Anderson, foi a localização da escola fictícia do filme. Não é do conhecimento geral que a "vingança" de Lindsay sobre o regime brutal dos prefeitos e do regime autoritário da sala de professores em seu tempo foi temperada pela nostalgia anos mais tarde - na verdade ele se juntou ao conselho da faculdade, as terríveis pessoas do dia do discurso vistas no filme. Fiquei surpreso, também, ao saber da semelhança entre o rebelde McDowell e um velho menino real de Cheltenham, Anthony Perry, que estava lá um ou dois anos depois de Lindsay.
Perry escreveu-me recentemente: "Eu e outro rapaz, que era um amigo, fomos expulsos por roubar granadas, dinamite e outras coisas úteis do galpão da Guarda Principal e também para a abertura do museu abandonado e trazer à luz alguns dos itens vistos no filme. Nós nos comportávamos mal nos tempos de Treinamento em Campo (?) e possuíamos armas de fogo.
Quando meu irmão foi para a faculdade, minhas façanhas um tanto quanto pobres tinham crescido com o fato de eu ter roubado um Spitfire (avião de guerra britânico usado na segunda guerra mundial) de um campo de pouso e metralhado a escola." Perry conclui: "Se não a base para o roteiro de David Sherwin, a minha própria experiência foi pelo menos a sua validação.”
Foi a sessão mais cheia na casa do Cineclube Bordel Sem paredes, um giro de mais ou menos 50 pessoas, que aguardavam ansiosamente a exibição do ousado documentário, Cortina de Fumaça. Foram 88 minutos de projeção, que antecederam um rico debate sobre a atual política de drogas vigente no mundo.
A mesa foi composta por Rodrigo Mac Niven – diretor do filme, André Gaio – Professor da UFJF -, Alexandre Freitas – Advogado, Dr Mário Sérgio Ribeiro – Psiquiatra e Sueli Netto – Organizadora do evento. Foram inúmeras as perguntas, curiosidades e reflexões. Os assuntos do debate passaram por temas como: Caso USP, preconceito moral, Fernando Henrique Cardoso, desconstrução de paradigmas, Crack entre outros.
Ao final de tantas perguntas e colocações, que poderiam durar a noite toda, ficou claro que é preciso manter o diálogo sobre o assunto. Proibir o consumo de drogas é uma ação que não evita o aumento do números de adeptos e não diminui a violência. As mídias convencionais tratam até hoje o assunto drogas como tabu, e sem ao menos discutimos, não há como avançar o debate. Os primeiros passos estão sendo dados, é preciso rever nossos conceitos e tentar achar uma solução para o problema. Como bem colocado por Rodrigo Mac Niven: “é preciso instigar os indivíduos a repensarem a sociedade porque ela está em constante mutação. As pessoas desconhecem informações fundamentais que determinam uma política de drogas que interfere diretamente na vida delas, na liberdade delas, na segurança delas. Uma política que ignora princípios e direitos universais de liberdade e soberania. Muita gente está lucrando com isso e quem sofre é a sociedade que não consegue enxergar tamanha é a desinformação”.
Amanhã (30/11) as 20h, o Cineclube Bordel Sem Paredes exibe o documentário Cortina de Fumaça. O polêmico filme, coloca em questão a política de drogas vigente no mundo, dando atenção às suas conseqüências político-sociais em países como o Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro.
Através de entrevistas nacionais e internacionais com médicos, pesquisadores, advogados, líderes, policiais e representantes de movimentos civis, o jornalista Rodrigo Mac Niven traz a nova visão do início do século 21 que rompe o silêncio e questiona o discurso proibicionista.
A exibição conta com a presença já confirmada do diretor do filme, Rodrigo Mac Niven, Dr Mario Sérgio Ribeiro, psiquiatra, professor da UFJF e líder do grupo de estudos e pesquisas sobre álcool e drogas, Dr André Moisés Gaio, professor da UFJF e pesquisador que estuda sobre violência urbana e também o advogado Alexandre Freitas. Pós filme, será realizado um debate com todos os convidados.
O cineclube se locaiza no anfiteatro João Carriço/Prédio da Funalfa e a entrada é franca.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
O dia foi especial ontem no Cineclube Bordel Sem Paredes. A sessão contou com a participação de 30 pessoas que sairam do anfitrato João Carriço maravilhadas com o filme sobre a coreógrafa Pina Bausch. O longa é tocante, imprevisível, e entre cenas e danças impecáveis, depoimentos de bailarinos que trabalharam diretamente com a dançarina. A exibição deixou muita gente emocionada e com vontade de rever o filme. Foi uma experiência incrível poder compartilhar de emoções tão sublimes através das coreografias da artista. O filme é inédito nos cinemas de Juiz de Fora, entre o público estavam muitos artistas ligados a dança.
Há um certo incômodo inicial ao se ver Pina, documentário de Wim Wenders sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch, uma das maiores da história da dança. Morta em junho de 2009, sua obra monumental estaria, com sua morte, condenada a desaparecer. É com pesar que se começa a ver o filme: aquela beleza toda prestes a perecer. Mas Pina, o documentário, porém está longe, muito longe de ser um grande funeral da artista. Termina como uma boa parte de suas peças, com humor e nenhum traço de amargura. Alguns dançarinos entrevistados afirmam que, após trabalhar com Pina Bausch por 22 anos, não sabem o que vai ser de suas vidas sem ela; Wenders captura as imagens, todas carregadas de emoção.
Como Pina morreu no auge da carreira, o que vemos na tela é o que há melhor na dança contemporânea do final do século 20 e início do 21. Da primeira fase da carreira da artista, mais sombria, vemos duas obras seminais, Café Müller, de 1978 (que Pedro Almodóvar usou na abertura de seu Fale com Ela [Hable Com Ella, 2002]), e Le Sacre du Printemps, de 1975 (versão de Pina para um clássico A Sagração da Primavera, com música de Igor Stravinsky). Da segunda fase da carreira da coreógrafa, Konthakthof, de 2000, e Vollmond, de 2006. São escolhas acertadas por parte do diretor alemão: não só vemos as duas fases da carreira da artista (e a prova de que a sua arte não envelheceu em absolutamente nada desde os anos 70, quando as peças foram criadas) como duas peças mais tradicionais, "dança pura" (Le Sacre du Printemps e Konthakhof), e duas com estruturas que só têm razão de ser nas peças de Pina Bausch.
Wenders filma tudo com requinte e bom gosto, fazendo leves e irônicos comentários das peças, bem ao estilo de Pina, como ao usar atores de verdade nas encenações de Konthakthof, e principalmente ao usar a cidade da companhia, a industrial Wuppertal, ela mesmo uma parte do filme. Explica-se: Pina e seus dançarinos buscavam inspiração no cotidiano, no dia-a-dia das pessoas comuns, gestos inusitados que qualquer um pode ver no metrô indo para o trabalho. Nada mais natural que, num filme, devolver o material ao seu lugar de origem.
Wenders, realmente inspirado nessa sua homenagem a uma artista tão especial, ousou usar a mesma estrutura das peças de Pina para criar seu documentário. Pina não criava as coreografias e depois fazia seus dançarinos repeti-la: ela a tirava deles, usando a bagagem pessoal de cada um deles para criar suas peças. A Wuppertal Tanztheater é seus bailarinos. As coreografias de Pina Bausch são criações de seus bailarinos. Pina as extraía, as montava e lhes dava corpo. O resultado é ao mesmo tempo extrovertido e confessional. Wenders fez a mesma coisa e usou depoimentos dos dançarinos entrecortados de suas atuações. Cada dançarino falou no seu próprio idioma, e sim, ouvimos Regina Advento falar em português, depoimento esse que vai resumir o filme inteiro: uma homenagem densa, porém bem humorada, como a coreógrafa gostaria.
Além das escolhas certas sobre o que filmar e de como fazê-lo, Wenders também acertou pelo que deixou de fora, como a infrutífera discussão se o que Pina Bausch faz é dança ou teatro - o assunto, motivo de discussões inócuas há décadas, é sugerido no trailer, mas felizmente o diretor não caiu nessa armadilha (é óbvio que é dança, a dramaturgia que está ali não é a mesma do teatro tradicional, o que interessa a Pina é o movimento, os gestos, não contar histórias e diálogos). Além disso, Wenders passou ao largo das eternas polêmicas envolvendo a obra de Pina nos EUA, onde foi e continua sendo atacada (hoje, menos). Em especial nas páginas das revista New Yorker, quando a reacionária crítica Arlene Croce e sua substituta Joan Acocella acusam Pina de não ter técnica para dançar, de fazer peças violentas, com estupros e toda sorte de ataques às mulheres, do fato de os homens serem constantemente humilhados em cena, da falta de consistência de suas peças (seriam apenas um amontoado de esquetes unidos apenas pelo tema) e, claro, da duração excessiva, de ter sexo misturado com crueldade e absurdo, e um interminável etc.
Há também entrevistas de arquivo (bem poucas) em que Pina, sempre com um cigarro na mão, dizia não servirem as palavras para descrever a dança, de forma que Wenders nem vai usar muito a palavra, logo ele, tão prolixo, para descrever o trabalho da coreógrafa. É no entanto triste ver Pina fumando tanto (ela pedia vôos com escala quando viajava da Alemanha para os EUA justamente para fumar durante as trocas de avião), sabendo que será um câncer a causa da sua morte aos 68 anos.
Toda essa sofisticação do documentário é o que a gente espera mesmo de Wim Wenders. Wenders era considerado um grande diretor até o final dos anos 80, principalmente depois que venceu o Festival de Cannes com Paris, Texas (idem, 1984) ou com os anjos cruzando o então em pé Muro de Berlim de Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin,1987). De lá para cá, só fez filme ruins, alguns brutalmente horrorosos, que nem o sucesso de outro documentário, o indicado ao Oscar Buena Vista Social Club (idem, 1999), conseguiu aplacar sua má fama de espanta-bilheteria (seria Wenders melhor documentarista que diretor?). Em Pina ele soube ser detalhista, bem humorado, fez inserções realmente esclarecedoras, filmou tudo de maneira elegante e plástica, aproveitando-se dos figurinos de Marion Cito e da música de Thomas Hanreich, colaboradores de Bausch. Sua pesquisa foi densa e muito bem informada, vê-se que o diretor está falando de um assunto que domina bastante e aparentemente lhe é caro. Há momentos geniais, como os dos dançarinos praticamente contracenando com as engrenagens do metrô.
Pina abriu o deslumbrado Festival de Toronto e é a indicação da Alemanha para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Muito difícil afirmar que o filme conseguirá atingir uma plateia mais ampla daquela que conhece dança contemporânea ou mesmo os inúmeros fãs de Pina Bausch. De qualquer forma, Pina é muito mais elaborado e melhor de se ver que 90% dos documentários de dança que passam na TV a cabo, como o (mais uma vez...) indicado ao Oscar Dancemaker (1998), de Matthew Diamond, sobre o coreógrafo americano Paul Taylor, ou o aclamado La Danse: The Paris Opera Ballet (2009), de Frederick Wiseman, para citar dois dos mais bem sucedidos da área feitos recentemente, no qual o didatismo arruina qualquer possibilidade de excitação em frente à obra que está sendo analisada. Pina estaria mais próximo de Crumb (1994), de Terry Zwigoff, semi biografia, semi documentário sobre a obra do desenhista americano Robert Crumb: são obras que, para dar conta do universo dos seus artistas retratados, vão além da simples narração biográfica, exposição das obras mais importantes e depoimentos dos principais atores na vida do artista em questão.
Talvez por ter feito uma obra para público restrito, em tese aberto a inovação, Wenders foi mais longe do que o habitual. Tomara que a experiência ajude o diretor a encontrar um rumo em sua carreira comercial.
24/11 - ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO - 19 HORAS (Av. Rio Branco, 2234 (Prédio da Funalfa) - Centro)
Depois de intrigantes e instigantes filmes de Glauber Rocha durante as últimas semanas, chega ao fim, nesta quinta-feira, a mostra que leva seu nome.
Passando por produções como o “Programa Abertura”, “Di Cavalcanti Di Glauber” e “Jorjamado no cinema”, o fechamento da mostra será com o longa “Barravento”, lançado em 1962. O filme conta a história de uma aldeia de pescadores do xeréu, cujos antepassados vieram da África como escravos e permaneceram com antigos cultos místicos ligados ao candomblé com implicações até em desenlaces românticos que ocorrem na aldeia.
"Alguns elementos do filme fazem parte de minhas preocupações: o fatalismo mítico, a agitação política e as relações entre a poesia e o lirismo, uma relação complexa num mundo bárbaro. Um ensaio cinematográfico, uma experiência de iniciante." Glauber Rocha
“Barravento” é um dos filmes de grande repercussão de Glauber Rocha, tendo sido exibido no Festival de Veneza de 2003.
"Qual o mistério desse filme em preto-e-branco, de mais de 40 anos, cujo diretor morreu há mais de 20, que consegue, no meio de um festival monstruoso como o de Veneza, atrair mais de mil pessoas à maior sala do festival? O segredo se desvela nos créditos de apresentação quando aparece o nome de Glauber Rocha e é aplaudido em cena aberta. A mística continua intacta e Glauber, no exterior, ainda é sinônimo de cinema de vanguarda. Seu primeiro longa, Barravento, de 1961, em cópia apenas passável, foi exibido para um platéia muito interessada, que aplaudiu no final. O filme encerrou a Semana da Crítica de Veneza e mereceu comentário do crítico Anton Giulio Mancino, no boletim Film Daily: "Ver Barravento, hoje, não significa olhar para o passado, mas para o futuro... É já exemplo maduro de um estilo que transcende os limites entre documentário e ficção, narração e análise etnográfica, fabulação e manifesto político." LUIZ ZANIN ORICCHIO
Enviado especial do Jornal “O Estado de S.Paulo” ao Festival de Veneza
A mostra Glauber Rocha que ocupou parte das exibições de outubro e novembro do Cineclube Sem Paredes, terminará nesta quinta-feira, às 19 horas no anfiteatro João Carriço, no atual prédio da Funalfa.
A "Mostra Glauber Sem Paredes", exibiu nessa quinta-feira o "Programa Abertura", o público teve contato com o programa que foi emblemático em um momento político do Brasil, quando o país saia da ditadura e começava sua redemocratização. O cineasta Glauber Rocha tinha um espaço no programa onde falava da atual conjuntura política da época, além da situação do mercado audiovisual brasileiro, que passava por um momento onde a pornochanchada invadia as telas e as idéias difundidas pelo grupo de cineastas do Cinema Novo eram deixadas de lado.
Em um bate-papo antes da exibição, a importância de Glauber Rocha para a história do cinema brasileiro foi enfatizada, quando Glauber trata de questões como a situação de distribuição dos filmes brasileiros, parece que nada mudou desde aquela época, pois o nosso cinema ainda sofre com esse problema e mais de 30 anos depois do programa "Abertura", a colonização cultural é cada vez mais forte.
Na semana que vem, a "Mostra Glauber Sem Paredes" se encerra com "Barravento" primeiro longa-metragem do cineasta.
Há duas semanas o Cineclube Bordel Sem Paredes vem fazendo sessões especiais com as obras do inquietante Glauber Rocha. Nesta semana, a Mostra Glauber Sem Paredes apresenta o “Programa Abertura”. O Programa Abertura foi ao ar de Fevereiro de 1979 até Julho de 1980, quando a TV Tupi fechou suas portas. Fernando Barbosa colocou no ar uma equipe de intelectuais, jornalistas, artistas e personalidades de primeira linha.
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A participação de Glauber, em princípio, ocorreu de Fevereiro a Outubro de 1979. Em 8 meses, com 4 inserções ( quadros ) semanais, a estimativa é que Glauber tenha aparecido mais de 32 vezes no programa, que teve ao todo, 60 edições.
As intervenções de Glauber neste programa foram significativas na relação histórica dos cineastas brasileiros com o vídeo, em uma época na qual muitos artistas assumiram uma posição adversa em face dessa nova tecnologia.
Glauber experimentava esteticamente o meio, assumindo-se como um formador de opinião, atuando politicamente e fazendo agitação cultural.
"O cinema brasileiro não tem uma estrutura industrial, o cinema brasileiro é realizado por amadores ou por profissionais improvisados, por empresários que pegam dinheiro em banco com juros, de forma que é uma coisa artesanal."
"O cinema estrangeiro, que já chega aqui pago, sobretudo os filmes americanos, esse cinema estrangeiro quer o baixo preço [das entradas], porque o que ele busca na verdade é a penetração cultural, é o domínio ideológico do mercado, do público brasileiro. (...) Porque inclusive a vanguarda da intelectualidade brasileira é colonizada."
"O movimento do Cinema Novo, que era um movimento internacionalmente importante nos anos 60 e 70 e que criou o cinema brasileiro, esse movimento do Cinema Novo foi destruído por vários porretes (...) importantes cineastas brasileiros que se entregam à pornochanchada ou ao subcinema comercial (...) e falam mal do cinema novo, prato no qual comeram e se fizeram"
Você assiste ao Programa Abertura nesta quinta, 19h, no anfiteatro João Carriço – Prédio da Funalfa - Entrada Franca.
Aconteceu ontem no Anfiteatro João Carriço, mais um dia da mostra Glauber Sem Paredes. A sessão foi marcada por curtas experimentais, polêmicos e documentários do diretor.
Antes de iniciar a exibição, foi aberto um rápido bate papo contando a história dos filmes a serem passados e explicou-se algumas curiosidades sobre a vida do cineasta.
Exibição do documentário Jorjamado no cinema (1977).
Dentre os 5 filmes que foram exibidos, o último curta foi: “Di Cavalcanti Di Glauber”, o filme tornou-se polêmico por ter sido gravado durante o enterro de Di Cavalcanti, o que causou mal estar na família do pintor que proíbiu sua veiculação. Esses filmes que não estão no circuito midiático são exemplares dificílimos de encontrar; você só consegue assití-los em iniciativas como as do Cineclube.
O Cineclube Bordel Sem Paredes continua a exibir Glauber Rocha nas próximas semanas e, na quinta feira, você assiste ao Programa Abertura, que reuniu uma equipe de intelectuais antes da TV Tupi fechar suas portas.
O Cineclube funciona todas as quintas-feiras, no teatro João Carriço/Prédio da Funalfa e a entrada é gratuita.
A Mostra Glauber Sem Paredes, apresenta nesta quinta-feira uma seleção de alguns curtas e média metragens produzidos por Glauber Rocha. Os curtas que serão exibidos, refletem um pouco de todas as fases do universo glauberiano. Em um tempo onde a arte virou algo totalmente superficial, é uma bela experiência ter contato com a estética revolucionária do cinema de Glauber Rocha. O mais impressionante é que esses filmes permanecem atuais, as idéias de Glauber continuam pulsando, vivas, gritando na nossa cara e nos causando náusea diante da realidade.
O PÁTIO (1959) - 11 minutos
“Procuramos, humildemente, fugir das facilidades “criativas” que a literatura e as artes plásticas (como também a música) poderiam nos oferecer e procurar o que se julgaria difícil ou impossível: organizar um universo fílmico que vivesse por si mesmo, sem saber, de princípio, a problemática humana que surgiria daí. O processo de trabalho foi simples: como duas figuras humanas – macho e fêmea -, jogadas sobre um pátio em preto e branco com vista par o mar e céu e cercado por folhagem, partimos como a câmara, utilizada como instrumento, em busca do visual mais limpo, mais depurado, e que sairia do seu estado real para o estado de poeticidade, através unicamente da solução de enquadramento, do ponto-de-vista seletivo do cineasta em busca de elementos válidos que, na sala de montagem, lhe propusessem o problema de “criar” o organismo rítmico, o filme em seu estado de cinema enquanto cinema. É certo que a utilização de figuras humanas criou, dentro da lógica fílmica, uma pequena anedota. Todavia cremos que esta fica isolada em segundo plano desde quando o que imporá, fundamentalmente, é o clima fílmico, a nova dimensão de poeticidade que a peça cria. “Pátio” não quer “dizer” nada, não quer “discursar ou narrar’ essa ou aquela atitude humana, mas tão-somente criar em seu próprio âmbito aquilo que encontraríamos no grego Cacoyanis e no Kubrick de “A Morte Passou por Perto”: “estados” que só podem ser criados pelo enquadramento e pela montagem, os materiais de trabalho do cineasta consciente do seu ofício. A afirmação pode parecer pretensiosa, mas é apenas uma atitude honesta frente ao cinema que, no certo dizer do crítico Cláudio Bueno Rocha, não passa, hoje em dia, de simples arte de entretenimento. (Glauber Rocha, in “Jornal do Brasil, RJ, 29 de março de 1959, Suplemento Dominical)
Di GLAUBER (1977) - 19 minutos
"Filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista-surrealista que se permite entre artistas renascentes: Fênix/Di nunca morreu. No caso o filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição. A Festa, o Quarup - a ressurreição que transcende a burocracia do cemitério. Por que enterrar as pessoas com lágrimas e flores comerciais? Meu filme, cujo título, dado por Alex Viany, é Di-Glauber, expõe duas fases do ritual: o velório no Museu de Arte Moderna e o sepultamento no Cemitério São João Batista. É assim que sepultamos nossos mortos.
Chocado pela tristeza de um ato que deveria ser festivo em todos os casos (e sobretudo no caso de um gênio popular como Emiliano di Cavalcanti) projetei o Ritual Alternativo; Meu Funeral Poético, como Di gostaria que fosse, lui.... o símbolo da Vida... No campo metafórico transpsicanalítico materializo a vitória de São Jorge sobre o Dragão. E, no caso de uma produção independente, por falta de tempo e dinheiro, e dada a urgência do trabalho, eu interpreto São Jorge (desdobrado em Joel Barcelos e Antônio Pitanga) e Di-O Dragão. Mas curiosamente Eu Sou Orfeu Negro (Pitanga) e Marina Montini, dublemente Eurídice (musa de Di), é a Morte. Meus flash-backs são meu espelho e o espelho ocupa a segunda parte do filme, inspirado pelo Reflexos do Baile, de Antônio Callado, e Mayra, de Darcy Ribeiro. Celebrando Di recupero o seu cadáver, e o filme, que não é didático, contribui para perpetuar a mensagem do Grande Pintor e do Grande Pajé Tupan Ará, Babaraúna Ponta-de-Lança Africano, Glória da Raça Brazyleira! A descoberta poética do final do século será a materialização da Eternidade." Di (Das) Mortes, GlauberRocha, texto mimeografado, distribuído na sessão do filme em 11 de março de 1977 na Cinemateca do MAM.
AMAZONAS AMAZONAS (1966) - 15 minutos
Primeiro filme a cores de Glauber Rocha, a produção feita por encomenda começa como um documentário clássico sobre as belezas e riquezas da região amazônica. Até que a verve glauberiana irrompe tanto na conformação do quadro quanto na locução abertamente nacionalista.
“Cheguei no Amazonas com uma idéia pré-concebida e descobri que não existia a Amazônia lendária e mágica, a Amazônia dos crocodilos, dos tigres, dos índios, etc...(“Revolução do Cinema Novo”, pg 79).
Obs: primeiro ensaio a cores de Glauber, rodado entre “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”.
JORJAMADO NO CINEMA (1979) - 37 minutos
Jorjamado no Cinema foi feito para um programa de televisão consagrado ao escritor Jorge Amado. Nesse documentário, Jorge Amado é filmado em sua casa, rodeado por sua numerosa família; numa livraria, durante uma sessão de autógrafos de um de seus livros, em um cinema em Salvador, na avant-première do filme Tenda dos Milagres, de Nelson Pereira dos Santos, adaptação do livro homônimo de Jorge Amado. Glauber filma seu amigo com muito humor e carinho. A câmera vai evoluindo lentamente, sem cessar e com rapidez sobre o escritor, seus familiares, atores e atrizes do filme de Nelson, além de passar por objetos de rituais de candomblé que constituem o museu de Jorge Amado.
MARANHÃO 66 (1966) - 11 minutos
Documentário que registra a posse de José Sarney como governador do Maranhão. Foi financiado pelo próprio evento que marcou o início do domínio político da família Sarney no Estado, que perdura até hoje. Em contraponto ao discurso de posse e da multidão em celebração, o filme mostra a miséria da população a ser governada.
“É uma reportagem sobre as eleições de um governador (José Sarney) no Maranhão; é muito importante para mim, porque o filmei com som direto e foi uma experiência muito útil para “Terra em Transe” porque participei das etapas de uma campanha eleitoral”. Glauber Rocha - “O Estado de Minas” – 13/05/1980.
QUINTA - 03/11 - 19 HORAS NO ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO - (Av. Rio Branco, 2234 (Prédio da Funalfa) - Centro)
Como pensar os cineclubes como espaço para as expressões da diversidade cultural?
Cinemas e cineclubes partilham da mesma necessidade que os originaram: organizar o acesso e a distribuição dos filmes. Mas os clubes de cinema vieram com uma necessidade a mais: a participação e diálogo entre espectadores e criadores. Talvez seja isso o que ofereça ao movimento cineclubista um contexto próprio muito peculiar.
Há uma articulação que liga vários agentes, produtores e espectadores em rede; há um conselho nacional que promove ações e discute políticas para o segmento; há programas importantes e consolidados em territórios indígenas e comunidades mais distantes dos grandes centros etc. No Plano Nacional de Cultura, há diversas ações ligadas tanto para Cinema, quanto para Cineclube.
Como, afinal, podemos pensar o audiovisual e os cineclubes como linguagem e espaço que conseguem ser abrangentes tanto em termos de articulação e mobilização política, quanto em temos do encontro de singularidades?
Gilvan Dockhorn, secretário geral do Conselho Nacional de Cineclubes, lembra que, na era do que o escritor Giovanni Sartori chamou de “Homo Videns” somos “seres audiovisuais”. Isso quer dizer que nossa significação do mundo e criação de sentidos passa por conteúdos de áudio e imagem. Dockhorn também é professor de História e da área de Humanidades da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), e coordena o Cineclube Abelin Nas Nuvens de Silveira.
“Mesmo que atualmente possamos perceber que o público tenha se formado no processo de desenvolvimento e institucionalização do cinema, o público se ampliou ao conjunto das indústrias culturais, das linguagens, dos suportes e formas de relação entre a criação e a recepção, cuja intermediação é apropriada pelo capital”, explica Gilvan. Para ele, o público somos todos os que não dominam ou possuem os meios de produção e distribuição da informação/conhecimento ou o resultado da produção – sempre coletiva – da cultura.
Segundo ele, mais de 90% dos municípios do país não contam com salas comerciais de cinema. Nesse cenário, a onda crescente de cineclubes que se constituem como espaços não apenas culturais, mas de politização da cultura no sentido de entendê-la como direito fundamental, se soma às iniciativas de garantia de acesso e apropriação de sentidos que a obra audiovisual propicia.
Com isso, os cineclubes configuram-se como espaço para a diversidade cultural e se fortalecem ao se colocarem abertos às diferentes manifestações ideológicas, desde que não representem segregação, intolerância ou preconceitos. “Isso não acontece nas salas comerciais porque elas são inviáveis em municípios com menos de 100.00 habitantes, que não representam o lucro necessário, uma vez que elas ignoram áreas deste tipo e compreendem o público como consumidor”, explica o professor.
Organização
O Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – CNC comemora 50 anos congregando mais de 400 cineclubes de todo o país. A entidade representativa e sem caráter partidário, reúne cineclubes e cineclubistas e os organiza com características institucionais e estatutárias legais. “O CNC é a organização política dos cineclubes, assim, a participação efetiva fica condicionada à participação em alguma atividade cineclubista. No próximo mês, iniciaremos uma campanha de recadastramento em todo o país”, conta Gilvan.
O Secretário explica que o CNC e o cineclubismo organizado são espaços de debate e de mobilização em torno dos direitos do público no campo do audiovisual. “O movimento como instituição e como forma de organização específica de defesa do público não visa lucro ou remunera seus quadros, nem busca uma reforma criativa da gestão das leis de mercado, através de novos modelos de negócio. Não compreendemos a possibilidade inovação no mercado como forma de garantir a socialização bens culturais”, afirma Dockhorn.
Para acompanhar os trabalhos do CNC, é preciso pedir a inclusão da lista CNC Diálogo, que conta hoje com quase 2.000 participantes. O pedido pode ser feito por meio do site do CNC.
Sem paredes
Em Juiz de Fora (MG), Daiverson Machado é um dos idealizadores do cineclube “Bordel Sem Paredes”. Aluno do curso Desenvolvimento e Gestão Cultural oferecido pelo ODC/Pensar e Agir com a Cultura, naquela cidade, em 2010, Daiverson foi instigado a pensar nas necessidades culturais do município. “Apaixonado por cinema, logo expus a falta de um espaço de exibição de filmes fora do circuito comercial e de reflexão crítica”, lembra.
A partir disso, surgiu o Cineclube Bordel Sem Paredes, que já é filiado ao CNC, e conta com programação de mostras e exibições semanais, que acontecem às quintas-feiras, no Anfiteatro João Carriço/FUNALFA, às 19horas.
“O perfil dos participantes é bem eclético, contamos com senhores da terceira idade, donas de casa, estudantes, professores, artistas e cinéfilos etc. O que atende a um dos nossos principais desejos, que é trazer uma diversidade de público para difusão e democratização desse cinema”, conta Machado.
Para ele, o cineclubismo é uma atividade essencialmente coletiva e o contato com a arte cinematográfica proporcionado pelo cineclube vai totalmente ao contrário de toda onda digital e virtual vista hoje: pessoas preferindo fazer downloads dos filmes e assisti-los na tela do computador em suas casas, ou então assistir ao mais novo blockbuster no cinema do shopping, com a namorada e um saco de pipoca. “O que vejo como mais importante em um cineclube é a troca de idéias e o compartilhamento de emoções. É importante que todos nós sejamos leitores, espectadores e estejamos abertos para qualquer filme, é estar sem paredes no pensamento”, diz.
O Cineclube Bordel sem Paredes, tem o orgulho de apresentar a mostra "Glauber sem Paredes", para celebrar um dos personagens mais intrigantes da história brasileira recente. O cineasta Glauber Rocha, trinta anos após sua morte continua a provocar reflexões sobre o cinema, tanto pela qualidade e inovação, quanto pelas propostas revolucionárias que se mantém atuais. A mostra começa nesta quinta-feira com o filme "A Idade da Terra" as 19 horas no Anfiteatro João Carriço com entrada franca.
A mostra segue no dia 03/11, com a exibição dos principais curtas-metragens produzidos pelo cineasta: "Di Glauber" filme polêmico filmado no funeral do pintor modernista Di Cavalcanti, "Maranhão 66" produzido durante a campanha eleitoral de José Sarney ao governo do Maranhão, "Jorjamado no Cinema" sobre o escritor baiano e "O Pátio" primeiro filme experimental do cineasta. No dia 10/11 a participação de Glauber Rocha no Programa Abertura da TV Tupi, será exibida em imagens inéditas e raras e pra finalizar "Barravento", primeiro longa-metragem de Glauber Rocha será exibido no dia 17/11, todos no Anfiteatro João Carriço, sempre as 19 horas.
Dono de uma produção extensa e singular, Glauber Rocha foi uma figura importantíssima dentro da história recente do país, trazendo discussões e debates acerca da arte, da cultura, da política e da sociedade. Tanto do ponto de vista estético e formal, quanto do ponto de vista da problemática social, suas obras nunca se conformaram com um padrão pré-estabelecido de criação, trazendo diversas reflexões e problematizando o cinema, a organização social brasileira e o papel do intelectual e artista dentro do processo de transformação dessa realidade.
Foi um artista atuante, que nunca parou de pensar, discutir e tentar transformar a realidade do país. Como porta-voz do Cinema Novo, Glauber Rocha influenciou cineastas latino-americanos e foi um dos precursores do conceito de mostrar na tela a realidade política, indo contra a censura, a comercialização e a exploração.
O diretor brasileiro foi capaz de lidar com a experimentação estética de vanguarda em diversos níveis – do roteiro e da fotografia ao trabalho literário com a palavra e experiências de montagem radicais – chocando com suas imagens da pobreza e da fome.
A IDADE DA TERRA - QUINTA-FEIRA - 27/10 - 19 HORAS
"Mosaico sinfônico. A Idade da Terra se insere solidamente dentro da tradição artística latino-americana. A proposta de aprisionar o espírito de uma nacionalidade numa só obra remete direto aos muralistas mexicanos. A imagem de Rivera - ou seria Siqueiros? - em cima de uma escada, pincel na mão, diante de uma superfície imensa que reduzia a bem pouco o tamanho do artista, compondo em figuras toda a história de seu povo evoca a de Glauber Rocha envolvido anos a fio nos quilômetros de fita que ele mesmo gerou na fadiga quixotesca (ou dantesca?) de contar seu país. O exacerbamento nacionalista de sua obra, despido agora de qualquer compromisso narrativo, encontra enfim seu estado puro. Como se não existisse a dimensão do tempo "só o real é eterno” - o filmemural dispõe seus blocos de significados espacialmente, numa estrutura atonal que avança por rupturas entre a Bahia, Brasília e Rio. Nascimento de Cristo, Cristo-povo e Cristo-Rei, Cristo guerreiro e Cristo profeta, o mundo sem Cristo e por toda a parte, Brahms, o anti-Cristo. Esta parábola, em si mesmo uma sucessão de parábolas, e disposta como num quadro de batalha em que há varias ações simultâneas e o olho passeia dentro dele, ordenando-as. (...)"
Deus e o Diabo na Idade da Terra em Transe, de Gustavo Dahl