segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Matéria no site do Observatório da Diversidade Cultural


Diversidade na tela e na plateia

Como pensar os cineclubes como espaço para as expressões da diversidade cultural?
Cinemas e cineclubes partilham da mesma necessidade que os originaram: organizar o acesso e a distribuição dos filmes. Mas os clubes de cinema vieram com uma necessidade a mais: a participação e diálogo entre espectadores e criadores. Talvez seja isso o que ofereça ao movimento cineclubista um contexto próprio muito peculiar.
Há uma articulação que liga vários agentes, produtores e espectadores em rede; há um conselho nacional que promove ações e discute políticas para o segmento; há programas importantes e consolidados em territórios indígenas e comunidades mais distantes dos grandes centros etc. No Plano Nacional de Cultura, há diversas ações ligadas tanto para Cinema, quanto para Cineclube.
Como, afinal, podemos pensar o audiovisual e os cineclubes como linguagem e espaço que conseguem ser abrangentes tanto em termos de articulação e mobilização política, quanto em temos do encontro de singularidades?
Gilvan Dockhorn, secretário geral do Conselho Nacional de Cineclubes, lembra que, na era do que o escritor Giovanni Sartori chamou de “Homo Videns” somos “seres audiovisuais”. Isso quer dizer que nossa significação do mundo e criação de sentidos passa por conteúdos de áudio e imagem. Dockhorn também é professor de História e da área de Humanidades da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), e coordena o Cineclube Abelin Nas Nuvens de Silveira.
“Mesmo que atualmente possamos perceber que o público tenha se formado no processo de desenvolvimento e institucionalização do cinema, o público se ampliou ao conjunto das indústrias culturais, das linguagens, dos suportes e formas de relação entre a criação e a recepção, cuja intermediação é apropriada pelo capital”, explica Gilvan. Para ele, o público somos todos os que não dominam ou possuem os meios de produção e distribuição da informação/conhecimento ou o resultado da produção – sempre coletiva – da cultura.
Segundo ele, mais de 90% dos municípios do país não contam com salas comerciais de cinema. Nesse cenário, a onda crescente de cineclubes que se constituem como espaços não apenas culturais, mas de politização da cultura no sentido de entendê-la como direito fundamental, se soma às iniciativas de garantia de acesso e apropriação de sentidos que a obra audiovisual propicia.
Com isso, os cineclubes configuram-se como espaço para a diversidade cultural e se fortalecem ao se colocarem abertos às diferentes manifestações ideológicas, desde que não representem segregação, intolerância ou preconceitos. “Isso não acontece nas salas comerciais porque elas são inviáveis em municípios com menos de 100.00 habitantes, que não representam o lucro necessário, uma vez que elas ignoram áreas deste tipo e compreendem o público como consumidor”, explica o professor.

Organização
O Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – CNC comemora 50 anos congregando mais de 400 cineclubes de todo o país. A entidade representativa e sem caráter partidário, reúne cineclubes e cineclubistas e os organiza com características institucionais e estatutárias legais. “O CNC é a organização política dos cineclubes, assim, a participação efetiva fica condicionada à participação em alguma atividade cineclubista. No próximo mês, iniciaremos uma campanha de recadastramento em todo o país”, conta Gilvan.
O Secretário explica que o CNC e o cineclubismo organizado são espaços de debate e de mobilização em torno dos direitos do público no campo do audiovisual. “O movimento como instituição e como forma de organização específica de defesa do público não visa lucro ou remunera seus quadros, nem busca uma reforma criativa da gestão das leis de mercado, através de novos modelos de negócio. Não compreendemos a possibilidade inovação no mercado como forma de garantir a socialização bens culturais”, afirma Dockhorn.
Para acompanhar os trabalhos do CNC, é preciso pedir a inclusão da lista CNC Diálogo, que conta hoje com quase 2.000 participantes. O pedido pode ser feito por meio do site do CNC.

Sem paredes
Em Juiz de Fora (MG), Daiverson Machado é um dos idealizadores do cineclube “Bordel Sem Paredes”. Aluno do curso Desenvolvimento e Gestão Cultural oferecido pelo ODC/Pensar e Agir com a Cultura, naquela cidade, em 2010, Daiverson foi instigado a pensar nas necessidades culturais do município. “Apaixonado por cinema, logo expus a falta de um espaço de exibição de filmes fora do circuito comercial e de reflexão crítica”, lembra.
A partir disso, surgiu o Cineclube Bordel Sem Paredes, que já é filiado ao CNC, e conta com programação de mostras e exibições semanais, que acontecem às quintas-feiras, no Anfiteatro João Carriço/FUNALFA, às 19horas.
“O perfil dos participantes é bem eclético, contamos com senhores da terceira idade, donas de casa, estudantes, professores, artistas e cinéfilos etc. O que atende a um dos nossos principais desejos, que é trazer uma diversidade de público para difusão e democratização desse cinema”, conta Machado.
Para ele, o cineclubismo é uma atividade essencialmente coletiva e o contato com a arte cinematográfica proporcionado pelo cineclube vai totalmente ao contrário de toda onda digital e virtual vista hoje: pessoas preferindo fazer downloads dos filmes e assisti-los na tela do computador em suas casas, ou então assistir ao mais novo blockbuster no cinema do shopping, com a namorada e um saco de pipoca. “O que vejo como mais importante em um cineclube é a troca de idéias e o compartilhamento de emoções. É importante que todos nós sejamos leitores, espectadores e estejamos abertos para qualquer filme, é estar sem paredes no pensamento”, diz.

Para saber mais sobre o cineclubismo:
Observatório Cineclubista Brasileiro – http://www.culturadigital.br/cineclubes/
Conselho Nacional de Cineclubes – http://cncbrasil.wordpress.com/cnc-brasil/
Cineclube Bordel Sem Paredes – http://bordelsemparedes.blogspot.com/
Programa Cine Mais Cultura – http://www.cinemaiscultura.org.br/

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