Amanhã (30/11) as 20h, o Cineclube Bordel Sem Paredes exibe o documentário Cortina de Fumaça. O polêmico filme, coloca em questão a política de drogas vigente no mundo, dando atenção às suas conseqüências político-sociais em países como o Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro.
Através de entrevistas nacionais e internacionais com médicos, pesquisadores, advogados, líderes, policiais e representantes de movimentos civis, o jornalista Rodrigo Mac Niven traz a nova visão do início do século 21 que rompe o silêncio e questiona o discurso proibicionista.
A exibição conta com a presença já confirmada do diretor do filme, Rodrigo Mac Niven, Dr Mario Sérgio Ribeiro, psiquiatra, professor da UFJF e líder do grupo de estudos e pesquisas sobre álcool e drogas, Dr André Moisés Gaio, professor da UFJF e pesquisador que estuda sobre violência urbana e também o advogado Alexandre Freitas. Pós filme, será realizado um debate com todos os convidados.
O cineclube se locaiza no anfiteatro João Carriço/Prédio da Funalfa e a entrada é franca.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
O dia foi especial ontem no Cineclube Bordel Sem Paredes. A sessão contou com a participação de 30 pessoas que sairam do anfitrato João Carriço maravilhadas com o filme sobre a coreógrafa Pina Bausch. O longa é tocante, imprevisível, e entre cenas e danças impecáveis, depoimentos de bailarinos que trabalharam diretamente com a dançarina. A exibição deixou muita gente emocionada e com vontade de rever o filme. Foi uma experiência incrível poder compartilhar de emoções tão sublimes através das coreografias da artista. O filme é inédito nos cinemas de Juiz de Fora, entre o público estavam muitos artistas ligados a dança.
Há um certo incômodo inicial ao se ver Pina, documentário de Wim Wenders sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch, uma das maiores da história da dança. Morta em junho de 2009, sua obra monumental estaria, com sua morte, condenada a desaparecer. É com pesar que se começa a ver o filme: aquela beleza toda prestes a perecer. Mas Pina, o documentário, porém está longe, muito longe de ser um grande funeral da artista. Termina como uma boa parte de suas peças, com humor e nenhum traço de amargura. Alguns dançarinos entrevistados afirmam que, após trabalhar com Pina Bausch por 22 anos, não sabem o que vai ser de suas vidas sem ela; Wenders captura as imagens, todas carregadas de emoção.
Como Pina morreu no auge da carreira, o que vemos na tela é o que há melhor na dança contemporânea do final do século 20 e início do 21. Da primeira fase da carreira da artista, mais sombria, vemos duas obras seminais, Café Müller, de 1978 (que Pedro Almodóvar usou na abertura de seu Fale com Ela [Hable Com Ella, 2002]), e Le Sacre du Printemps, de 1975 (versão de Pina para um clássico A Sagração da Primavera, com música de Igor Stravinsky). Da segunda fase da carreira da coreógrafa, Konthakthof, de 2000, e Vollmond, de 2006. São escolhas acertadas por parte do diretor alemão: não só vemos as duas fases da carreira da artista (e a prova de que a sua arte não envelheceu em absolutamente nada desde os anos 70, quando as peças foram criadas) como duas peças mais tradicionais, "dança pura" (Le Sacre du Printemps e Konthakhof), e duas com estruturas que só têm razão de ser nas peças de Pina Bausch.
Wenders filma tudo com requinte e bom gosto, fazendo leves e irônicos comentários das peças, bem ao estilo de Pina, como ao usar atores de verdade nas encenações de Konthakthof, e principalmente ao usar a cidade da companhia, a industrial Wuppertal, ela mesmo uma parte do filme. Explica-se: Pina e seus dançarinos buscavam inspiração no cotidiano, no dia-a-dia das pessoas comuns, gestos inusitados que qualquer um pode ver no metrô indo para o trabalho. Nada mais natural que, num filme, devolver o material ao seu lugar de origem.
Wenders, realmente inspirado nessa sua homenagem a uma artista tão especial, ousou usar a mesma estrutura das peças de Pina para criar seu documentário. Pina não criava as coreografias e depois fazia seus dançarinos repeti-la: ela a tirava deles, usando a bagagem pessoal de cada um deles para criar suas peças. A Wuppertal Tanztheater é seus bailarinos. As coreografias de Pina Bausch são criações de seus bailarinos. Pina as extraía, as montava e lhes dava corpo. O resultado é ao mesmo tempo extrovertido e confessional. Wenders fez a mesma coisa e usou depoimentos dos dançarinos entrecortados de suas atuações. Cada dançarino falou no seu próprio idioma, e sim, ouvimos Regina Advento falar em português, depoimento esse que vai resumir o filme inteiro: uma homenagem densa, porém bem humorada, como a coreógrafa gostaria.
Além das escolhas certas sobre o que filmar e de como fazê-lo, Wenders também acertou pelo que deixou de fora, como a infrutífera discussão se o que Pina Bausch faz é dança ou teatro - o assunto, motivo de discussões inócuas há décadas, é sugerido no trailer, mas felizmente o diretor não caiu nessa armadilha (é óbvio que é dança, a dramaturgia que está ali não é a mesma do teatro tradicional, o que interessa a Pina é o movimento, os gestos, não contar histórias e diálogos). Além disso, Wenders passou ao largo das eternas polêmicas envolvendo a obra de Pina nos EUA, onde foi e continua sendo atacada (hoje, menos). Em especial nas páginas das revista New Yorker, quando a reacionária crítica Arlene Croce e sua substituta Joan Acocella acusam Pina de não ter técnica para dançar, de fazer peças violentas, com estupros e toda sorte de ataques às mulheres, do fato de os homens serem constantemente humilhados em cena, da falta de consistência de suas peças (seriam apenas um amontoado de esquetes unidos apenas pelo tema) e, claro, da duração excessiva, de ter sexo misturado com crueldade e absurdo, e um interminável etc.
Há também entrevistas de arquivo (bem poucas) em que Pina, sempre com um cigarro na mão, dizia não servirem as palavras para descrever a dança, de forma que Wenders nem vai usar muito a palavra, logo ele, tão prolixo, para descrever o trabalho da coreógrafa. É no entanto triste ver Pina fumando tanto (ela pedia vôos com escala quando viajava da Alemanha para os EUA justamente para fumar durante as trocas de avião), sabendo que será um câncer a causa da sua morte aos 68 anos.
Toda essa sofisticação do documentário é o que a gente espera mesmo de Wim Wenders. Wenders era considerado um grande diretor até o final dos anos 80, principalmente depois que venceu o Festival de Cannes com Paris, Texas (idem, 1984) ou com os anjos cruzando o então em pé Muro de Berlim de Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin,1987). De lá para cá, só fez filme ruins, alguns brutalmente horrorosos, que nem o sucesso de outro documentário, o indicado ao Oscar Buena Vista Social Club (idem, 1999), conseguiu aplacar sua má fama de espanta-bilheteria (seria Wenders melhor documentarista que diretor?). Em Pina ele soube ser detalhista, bem humorado, fez inserções realmente esclarecedoras, filmou tudo de maneira elegante e plástica, aproveitando-se dos figurinos de Marion Cito e da música de Thomas Hanreich, colaboradores de Bausch. Sua pesquisa foi densa e muito bem informada, vê-se que o diretor está falando de um assunto que domina bastante e aparentemente lhe é caro. Há momentos geniais, como os dos dançarinos praticamente contracenando com as engrenagens do metrô.
Pina abriu o deslumbrado Festival de Toronto e é a indicação da Alemanha para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Muito difícil afirmar que o filme conseguirá atingir uma plateia mais ampla daquela que conhece dança contemporânea ou mesmo os inúmeros fãs de Pina Bausch. De qualquer forma, Pina é muito mais elaborado e melhor de se ver que 90% dos documentários de dança que passam na TV a cabo, como o (mais uma vez...) indicado ao Oscar Dancemaker (1998), de Matthew Diamond, sobre o coreógrafo americano Paul Taylor, ou o aclamado La Danse: The Paris Opera Ballet (2009), de Frederick Wiseman, para citar dois dos mais bem sucedidos da área feitos recentemente, no qual o didatismo arruina qualquer possibilidade de excitação em frente à obra que está sendo analisada. Pina estaria mais próximo de Crumb (1994), de Terry Zwigoff, semi biografia, semi documentário sobre a obra do desenhista americano Robert Crumb: são obras que, para dar conta do universo dos seus artistas retratados, vão além da simples narração biográfica, exposição das obras mais importantes e depoimentos dos principais atores na vida do artista em questão.
Talvez por ter feito uma obra para público restrito, em tese aberto a inovação, Wenders foi mais longe do que o habitual. Tomara que a experiência ajude o diretor a encontrar um rumo em sua carreira comercial.
24/11 - ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO - 19 HORAS (Av. Rio Branco, 2234 (Prédio da Funalfa) - Centro)
Depois de intrigantes e instigantes filmes de Glauber Rocha durante as últimas semanas, chega ao fim, nesta quinta-feira, a mostra que leva seu nome.
Passando por produções como o “Programa Abertura”, “Di Cavalcanti Di Glauber” e “Jorjamado no cinema”, o fechamento da mostra será com o longa “Barravento”, lançado em 1962. O filme conta a história de uma aldeia de pescadores do xeréu, cujos antepassados vieram da África como escravos e permaneceram com antigos cultos místicos ligados ao candomblé com implicações até em desenlaces românticos que ocorrem na aldeia.
"Alguns elementos do filme fazem parte de minhas preocupações: o fatalismo mítico, a agitação política e as relações entre a poesia e o lirismo, uma relação complexa num mundo bárbaro. Um ensaio cinematográfico, uma experiência de iniciante." Glauber Rocha
“Barravento” é um dos filmes de grande repercussão de Glauber Rocha, tendo sido exibido no Festival de Veneza de 2003.
"Qual o mistério desse filme em preto-e-branco, de mais de 40 anos, cujo diretor morreu há mais de 20, que consegue, no meio de um festival monstruoso como o de Veneza, atrair mais de mil pessoas à maior sala do festival? O segredo se desvela nos créditos de apresentação quando aparece o nome de Glauber Rocha e é aplaudido em cena aberta. A mística continua intacta e Glauber, no exterior, ainda é sinônimo de cinema de vanguarda. Seu primeiro longa, Barravento, de 1961, em cópia apenas passável, foi exibido para um platéia muito interessada, que aplaudiu no final. O filme encerrou a Semana da Crítica de Veneza e mereceu comentário do crítico Anton Giulio Mancino, no boletim Film Daily: "Ver Barravento, hoje, não significa olhar para o passado, mas para o futuro... É já exemplo maduro de um estilo que transcende os limites entre documentário e ficção, narração e análise etnográfica, fabulação e manifesto político." LUIZ ZANIN ORICCHIO
Enviado especial do Jornal “O Estado de S.Paulo” ao Festival de Veneza
A mostra Glauber Rocha que ocupou parte das exibições de outubro e novembro do Cineclube Sem Paredes, terminará nesta quinta-feira, às 19 horas no anfiteatro João Carriço, no atual prédio da Funalfa.
A "Mostra Glauber Sem Paredes", exibiu nessa quinta-feira o "Programa Abertura", o público teve contato com o programa que foi emblemático em um momento político do Brasil, quando o país saia da ditadura e começava sua redemocratização. O cineasta Glauber Rocha tinha um espaço no programa onde falava da atual conjuntura política da época, além da situação do mercado audiovisual brasileiro, que passava por um momento onde a pornochanchada invadia as telas e as idéias difundidas pelo grupo de cineastas do Cinema Novo eram deixadas de lado.
Em um bate-papo antes da exibição, a importância de Glauber Rocha para a história do cinema brasileiro foi enfatizada, quando Glauber trata de questões como a situação de distribuição dos filmes brasileiros, parece que nada mudou desde aquela época, pois o nosso cinema ainda sofre com esse problema e mais de 30 anos depois do programa "Abertura", a colonização cultural é cada vez mais forte.
Na semana que vem, a "Mostra Glauber Sem Paredes" se encerra com "Barravento" primeiro longa-metragem do cineasta.
Há duas semanas o Cineclube Bordel Sem Paredes vem fazendo sessões especiais com as obras do inquietante Glauber Rocha. Nesta semana, a Mostra Glauber Sem Paredes apresenta o “Programa Abertura”. O Programa Abertura foi ao ar de Fevereiro de 1979 até Julho de 1980, quando a TV Tupi fechou suas portas. Fernando Barbosa colocou no ar uma equipe de intelectuais, jornalistas, artistas e personalidades de primeira linha.
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A participação de Glauber, em princípio, ocorreu de Fevereiro a Outubro de 1979. Em 8 meses, com 4 inserções ( quadros ) semanais, a estimativa é que Glauber tenha aparecido mais de 32 vezes no programa, que teve ao todo, 60 edições.
As intervenções de Glauber neste programa foram significativas na relação histórica dos cineastas brasileiros com o vídeo, em uma época na qual muitos artistas assumiram uma posição adversa em face dessa nova tecnologia.
Glauber experimentava esteticamente o meio, assumindo-se como um formador de opinião, atuando politicamente e fazendo agitação cultural.
"O cinema brasileiro não tem uma estrutura industrial, o cinema brasileiro é realizado por amadores ou por profissionais improvisados, por empresários que pegam dinheiro em banco com juros, de forma que é uma coisa artesanal."
"O cinema estrangeiro, que já chega aqui pago, sobretudo os filmes americanos, esse cinema estrangeiro quer o baixo preço [das entradas], porque o que ele busca na verdade é a penetração cultural, é o domínio ideológico do mercado, do público brasileiro. (...) Porque inclusive a vanguarda da intelectualidade brasileira é colonizada."
"O movimento do Cinema Novo, que era um movimento internacionalmente importante nos anos 60 e 70 e que criou o cinema brasileiro, esse movimento do Cinema Novo foi destruído por vários porretes (...) importantes cineastas brasileiros que se entregam à pornochanchada ou ao subcinema comercial (...) e falam mal do cinema novo, prato no qual comeram e se fizeram"
Você assiste ao Programa Abertura nesta quinta, 19h, no anfiteatro João Carriço – Prédio da Funalfa - Entrada Franca.
Aconteceu ontem no Anfiteatro João Carriço, mais um dia da mostra Glauber Sem Paredes. A sessão foi marcada por curtas experimentais, polêmicos e documentários do diretor.
Antes de iniciar a exibição, foi aberto um rápido bate papo contando a história dos filmes a serem passados e explicou-se algumas curiosidades sobre a vida do cineasta.
Exibição do documentário Jorjamado no cinema (1977).
Dentre os 5 filmes que foram exibidos, o último curta foi: “Di Cavalcanti Di Glauber”, o filme tornou-se polêmico por ter sido gravado durante o enterro de Di Cavalcanti, o que causou mal estar na família do pintor que proíbiu sua veiculação. Esses filmes que não estão no circuito midiático são exemplares dificílimos de encontrar; você só consegue assití-los em iniciativas como as do Cineclube.
O Cineclube Bordel Sem Paredes continua a exibir Glauber Rocha nas próximas semanas e, na quinta feira, você assiste ao Programa Abertura, que reuniu uma equipe de intelectuais antes da TV Tupi fechar suas portas.
O Cineclube funciona todas as quintas-feiras, no teatro João Carriço/Prédio da Funalfa e a entrada é gratuita.