Um dos melhores filmes de 1997, "Baile Perfumado" mostra à relação do fotógrafo Benjamim Abrahão (Duda Mamberti) com o notório cangaceiro Lampião(Luís Carlos Vasconcelos), quando o libanês se embrenhou no sertão nordestino para revelar, em um documentário, a rotina do bando do temido e admirado Virgulino Ferreira. O fato histórico gera uma película de cores vivas, na qual a audácia e tino comercial de um homem conduzem-no a uma aventura repleta de perigos e seduções. O documentário de Abrahão capta Lampião em momentos comuns de fé e demonstração de liderança e confraternização com os outros bandoleiros.
No entanto, o filme de Lírio Ferreira e Paulo Caldas focaliza um Lampião cruel, severo, mas capaz de simpatia e deleitamento com a beleza e a música.
O envolvimento de Benjamim e de Lampião possui uma certa cumplicadade, ambos sabem o que podem obter do outro. Porém, o sonho do libanês transforma-se em pesadelo quando ele esbarra no poder institucional e no poder paralelo, pois Lampião não era o único perigo num nordeste árido de muitos "figurões "políticos.O filme, enfoca um Lampião que se deslumbra com os primeiros rasgos de modernidade no sertão, coisas como o uísque escocês, a máquina fotográfica e o perfume francês, que utilizava em grandes bailes. Um personagem diferente daquele lembrado por tiros e emboscadas.
"Baile Perfumado" traduz um Brasil de sonhos,de lutas e de disputa pelo poder . O Nordeste que abriga Lampião é o signo de um país que se constitui sobre o anátema da beleza e do perigo constante (leia-se o temor da violência).
QUINTA-FEIRA - 15/12 - ANFITEATRO JOÃO CARRIÇO - 19 HORAS
Remanescente do movimento do Free Cinema, na Inglaterra, LIndsay Anderson dirigiu e co-produziu “If...”, em 1968. Filme este que o consagrou, levou a Palma de ouro em 69 e será exibido dia 08 de dezembro no Bordel Sem Paredes. “If...” é também a estreia de Malcolm McDowell no cinema, como Mick Travis. Esse personagem ainda aparece em mais outros 2 filmes de Lindsay, “O Lucky Man”, de 1973 e “Britannia Hospital”, de 1982, completando assim a trilogia que marca a parceria de Anderson e McDowell.
Abaixo, a tradução livre de uma review de 2000 sobre o filme, que mostra um pouco da produção e do contexto da época em que o filme foi lançado.
Às vezes eu queria que o filme “If...”, que foi um grande marco na carreira de Lindsay Anderson, não tivesse alcançado o status de ícone - que ofusca outros filmes do diretor que refletem sua relação amor-ódio escocesa com a Grã-Bretanha. Britannia Hospital é hoje uma verdade da Grã-Bretanha no auge de um colapso coletivo assim como era em 1982 - ainda mais verdadeira, já que a Grã-Bretanha de Blair confirma a crença de Lindsay de que nada muda nesta sociedade, só se repete de maneira pior.
Lindsay Anderson e Malcolm McDowell
Mas o sucesso de “If...” é o que você tem quando fala para uma geração, mesmo que não seja sua própria geração, e o momento é uma coincidência, não é intencional. Lindsay tinha 45 quando dirigiu e co-produziu essa história de revolução anti-establishment em um elegante internato para meninos, com Malcolm McDowell como o líder de um bando de estudantes terroristas disparando balas de verdade nos pais, governantes, funcionários e diretor em dia de discurso.
O filme estreou em 1968, justamente quando os adolescentes radicais da Europa estavam aterrorizando chefes de Estado de vários países. Embora os jovens europeus tenham feito mais barulho do que sentido, eles tinham a juventude do seu lado - e juventude livre é o que “If...” celebra em toda a sua impulsiva e violenta chamada às armas.
O filme de Jean Vigo de 1930, “Zero de conduit”, que tem um tema similar, embora aconteça em uma instituição de ensino muito mais bizarra, foi o modelo reconhecido por “If...” e Anderson deixa sua ação correr em pequenas manchas de surrealismo ou, como ele a chamava, "realidade poética", como "homenagem" a Vigo. (...)
Cheltenham College, escola pública do próprio Lindsay Anderson, foi a localização da escola fictícia do filme. Não é do conhecimento geral que a "vingança" de Lindsay sobre o regime brutal dos prefeitos e do regime autoritário da sala de professores em seu tempo foi temperada pela nostalgia anos mais tarde - na verdade ele se juntou ao conselho da faculdade, as terríveis pessoas do dia do discurso vistas no filme. Fiquei surpreso, também, ao saber da semelhança entre o rebelde McDowell e um velho menino real de Cheltenham, Anthony Perry, que estava lá um ou dois anos depois de Lindsay.
Perry escreveu-me recentemente: "Eu e outro rapaz, que era um amigo, fomos expulsos por roubar granadas, dinamite e outras coisas úteis do galpão da Guarda Principal e também para a abertura do museu abandonado e trazer à luz alguns dos itens vistos no filme. Nós nos comportávamos mal nos tempos de Treinamento em Campo (?) e possuíamos armas de fogo.
Quando meu irmão foi para a faculdade, minhas façanhas um tanto quanto pobres tinham crescido com o fato de eu ter roubado um Spitfire (avião de guerra britânico usado na segunda guerra mundial) de um campo de pouso e metralhado a escola." Perry conclui: "Se não a base para o roteiro de David Sherwin, a minha própria experiência foi pelo menos a sua validação.”
Foi a sessão mais cheia na casa do Cineclube Bordel Sem paredes, um giro de mais ou menos 50 pessoas, que aguardavam ansiosamente a exibição do ousado documentário, Cortina de Fumaça. Foram 88 minutos de projeção, que antecederam um rico debate sobre a atual política de drogas vigente no mundo.
A mesa foi composta por Rodrigo Mac Niven – diretor do filme, André Gaio – Professor da UFJF -, Alexandre Freitas – Advogado, Dr Mário Sérgio Ribeiro – Psiquiatra e Sueli Netto – Organizadora do evento. Foram inúmeras as perguntas, curiosidades e reflexões. Os assuntos do debate passaram por temas como: Caso USP, preconceito moral, Fernando Henrique Cardoso, desconstrução de paradigmas, Crack entre outros.
Ao final de tantas perguntas e colocações, que poderiam durar a noite toda, ficou claro que é preciso manter o diálogo sobre o assunto. Proibir o consumo de drogas é uma ação que não evita o aumento do números de adeptos e não diminui a violência. As mídias convencionais tratam até hoje o assunto drogas como tabu, e sem ao menos discutimos, não há como avançar o debate. Os primeiros passos estão sendo dados, é preciso rever nossos conceitos e tentar achar uma solução para o problema. Como bem colocado por Rodrigo Mac Niven: “é preciso instigar os indivíduos a repensarem a sociedade porque ela está em constante mutação. As pessoas desconhecem informações fundamentais que determinam uma política de drogas que interfere diretamente na vida delas, na liberdade delas, na segurança delas. Uma política que ignora princípios e direitos universais de liberdade e soberania. Muita gente está lucrando com isso e quem sofre é a sociedade que não consegue enxergar tamanha é a desinformação”.