Ótima, e antiga, campanha da Revista Moviola "Fotografe o seu Cinema antes que ele vire uma igreja" continua rolando. Não existe premiação, apenas é uma forma de registro de Cinemas de Rua para que não entrem no esquecimento caso virem estacionamento, estoque, entrem para o limbo da reforma eterna ou pior, igreja!
Se a sua cidade tem um Cinema de rua, não perca tempo, tire uma foto e mande para a Revista.
Essa foto abaixo é do Cine Palace aqui de Juiz de Fora, que recentemente recebeu uma revitalização externa e interna, porém a qualidade da projeção e do som continuam muito ruins, existe a promessa de uma troca no maquinário para projeção digital. Aguardo com ansiedade.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Visões do Documentário - João Moreira Salles
A Casa do Saber do Rio de Janeiro organizou um debate com grandes nomes do documentário brasileiro e colocou tudo na Youtube pra galera! Esse é o tipo de coisa que vale muito a pena fazer download e grava num dvd, pra guardar, é o que eu fiz. Já postei os vídeos do Coutinho, agora é a vez do João Moreira Salles. Aproveitem!
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Entrevista Exclusiva com José Sette
Conheci José Sette quanto vim morar em Juiz de Fora este ano. Até então nunca tinha ouvido falar de seu nome ou de seus filmes. Ele é mineiro, morou muitos anos em Juiz de Fora, produziu aqui também. Despontou para o cinema durante os anos 70 com o filme “Bandalheira Infernal”, exibido recentemente no CineClube Bordel Sem Paredes, longa que entrou para lista do chamado “Cinema Marginal Brasileiro”, seu filme de maior notoriedade chama-se “Um filme 100% brazileiro” de 1985 que teve cópia restaurada este ano para a Mostra do Filme Livre, onde José Sette foi o grande homenageado com uma retrospectiva de seu trabalho.
Recentemente José Sette veio à Juiz de Fora exibir seu mais novo longa, “Amaxon” e participar de uma gravação para os arquivos do MaMM, por isso tive a oportunidade de me encontrar com o cineasta, que logo me concederia esta entrevista via email, onde fala sobre sua trajetória, sua forma de trabalhar, sua visão do cinema autoral, da atual condição do cinema brasileiro, downloads ilegais e muito mais!
Como se faz um filme sem Roteiro?
- Quando fiz o filme Bandalheira Infernal, não tinha roteiro escrito, mas tinha muitas idéias na cabeça em relação a um simples mote da época de 1975 (vivíamos a ditadura militar): Presa e Predador. Perseguição e rebeldia. Inocente versus facínora. Vício ou virtude. Preto no branco. Um sujeito escroto, inconseqüente, moralista corre atrás de um jovem solitário alheio a sua realidade. A partir desse mote, fui construindo e depois dramatizando os personagens em cena. Armada a ação eu escrevia, com caneta, os diálogos-monólogos da cena. Escrevia entre uma e outra filmagem. Depois de uma semana de filmagem fui para a antiga moviola Prevost, 6 pratos, do Roberto Bataglim, uma ilha de edição das antigas nos fundos da casa-produtora situada na Álvaro Ramos, no bairro de Botafogo, onde eu e Rogério Sganzerla, passamos noites assistindo, rolo a rolo, plano a plano, em 35mm, indo e voltando, o Cidadão Kane do Orson Welles. Uma semana depois eu já estava editando, com meu amigo americano Robert Feinberg, os 100 minutos do copião filmado. Sincronizávamos o som direto e depois, o mais difícil, era cortar a imagem/som, colar com fita, plano a plano, para fazer ao final uma obra de 75 minutos. Talvez, hoje, eu nada cortaria e faria um filme de 100 minutos. O verdadeiro Cinema, como dizia Eisenstein, se faz na montagem. Montar o quebra cabeça pareceria difícil sem um roteiro! Demorou 90 dias, mas foi fácil!
Você faria um filme sem roteiro nos dias de hoje?
- Se as circunstâncias me permitissem, é claro que faria. Em verdade os meus roteiros, que ficaram na gaveta e que ando publicando na internet, se filmados fossem, seriam, de mil maneiras, modificados na confecção das ações, nos sets, em cada uma das locações, nos diálogos, nas inflexões dos atores em cena, nos movimento de câmera, na iluminação, não há como imaginar o que pode acontecer durante as filmagens de um cinema que se quer livre e poético. O que eu poderia lhe dizer é que talvez o único trabalho que mantive a coerência do roteiro com o resultado final foi Amaxon.
Quando você está criando uma história ou um personagem, você busca à priori criar algo essencialmente novo, sempre? Como você vê e trabalha com o lugar comum e os estereótipos no cinema?
- Se você prestar atenção vai ver que todos os meus filmes, com exceção de Amaxon e Bandalheira, contam fatos que me foram significativos, me emocionaram, na vida dos personagens que estavam esquecidos, ocultos na nossa história artística e cultural e que verdadeiramente existiram – Goeldi, Cendrars, P.W.Lund, Guarnieri, Nava, Nunes, Murilo, Geraldo Pereira, Tancredo, Krajcberg, Daibert, Augusto dos Anjos, etc., ou seja: nada de novo, apenas segredos nunca contados. A personagem Laura do Amaxon, embora velha, é nova na maneira que é retratada, no desenho da construção da sua personalidade, e nova como proposta de linguagem cinematográfica, um trabalho muito mais verbal que visual, pois foi capitado com vídeo e tratado em toda a sua edição como cinema. Não trabalho com um cinema realista, novelesco como clichê da coisa fácil, apegado ao cinemão de roliude, filho bastardo do entretenimento, querendo agradar/enganar o grande público. O meu cinema tenta mergulhar em mar mais profundo e por isso mais perigoso.
Porque o cinema brasileiro se parece com um filho debilitado?
Depende de como ele é visto. A história do nosso cinema é única e sadia até o golpe militar de 64, ali se iniciou a devassa. Após a anistia e as eleições diretas, o que restava do bom cinema foi dizimado na era Color, perdemos a nossa identidade, hoje o cinema brasileiro retornou as telas, timidamente, com as nossas “grandes” produções que nada nos diz respeito, em termo de linguagem visual e menos ainda na estética do texto, importado do que pior faz o cinema americano que são hoje as novelas brasileiras. O cinema de arte no Brasil infelizmente está à míngua. Se existe não está sendo exibido e nem mais é produzido. Todos os jovens estão sendo robotizados por uma linguagem e uma estética que não é nossa. Massacre cultural. Tudo pela ignorância de todos. Já deveríamos ter nos reabilitados, mas para isso é preciso dar o primeiro passo, o mais difícil de todos, que é conquistar os nossos direitos a tela e a telinha, a exibição dos nossos filmes.
2010 está sendo um bom ano comercial para o cinema nacional com muitos lançamentos. Você foi ver “Chico Xavier”?
- Faz muito tempo que não vou ao cinema, a ultima vez fui assistir o último filme do Bressane com minha amiga Maria Gladys. Fui rever o velho amigo. Penso que ultimamente não tenho mais tempo a perder com coisas que não me dizem nada. Ando me divertindo lendo e escrevendo.
No Brasil dezenas de longas são produzidos todos os anos, mas talvez nem 20% do que foi produzido chegue às salas comerciais e os outros 80% acabam entrando para o esquecimento. Porque acontece isso?
Porque toda a rede de exibição está nas mãos das empresas estrangeiras e de seus representantes fantoches no Brasil, que nada sabem de arte, que não tem comprometimento com a cultura do cinema brasileiro, ainda mais sendo produções independentes, não importa se são criativos, mas é que falam de coisas que a eles não interessam divulgar, muito menos prestigiar. E como a imprensa esta comprometida, toda essa loucura, esse massacre cultural, cai no esquecimento.
Quando você está trabalhando num filme, quais suas expectativas para ele? Você se vê em Cannes, Berlin, Oscar...?
- Quando eu consigo fazer um filme, ultimamente, ele é tão experimental, tão desprovido de verba, e tão pouco visto no meu país, que só mesmo um fato relevante fará ele reconhecido em qualquer festival de cinema aqui ou lá fora. Não faço o meu cinema com alguma perspectiva de público e prêmios. Faço o cinema que sei fazer e que gosto de experimentar. Faço cinema como escrevo poesia, como imagino um quadro, um conto, um sarro, uma mulher. Faço cinema porque sou impelido a fazê-lo por forças que não domino. Nunca ganhei dinheiro com os meus filmes, mesmo aqueles que foram premiados, mal foram exibidos, um absurdo histórico contra a minha arte e de muitos outros grandes artistas brasileiros da imagem que permanecem desconhecidos do público.
Como vai ser a distribuição de “Amaxon”? Vai ter lançamento em dvd, passar na tv?
- Essa é a batalha que Hercules não desejaria ter. Tenho exibido o filme em pré-estréias aqui e ali. Vou tentar convertê-lo em sistema digital (Ran) para exibi-lo nos cinemas. Estou traduzindo os poéticos diálogos para o inglês. Quero exibi-lo ainda, para os amigos, em São Paulo e Belo Horizonte. Depois vem a tevê e no fim o DVD. Precisava de uma distribuidora que se interessasse..., mas essa figura de mercado, para esse tipo de cinema, não existe.
Eu só consegui assistir aos filmes do chamado “Cinema Marginal Brasileiro” porque baixei esses filmes da Internet, de outra forma é muito difícil ter acesso a esses filmes. Como você vê o negócio dos “downloads” ilegais? Já pensou disponibilizar seus filmes para “download” no seu blog?
- Seja marginal, seja herói! Essa frase pautou o movimento concretista das artes plásticas, do final dos anos sessenta, liderado por Hélio Oiticica, compondo com o cinema, a poesia, o teatro, uma explosão criativa de contestação aos padrões estéticos da época. Não fiz parte desse movimento, meu primeiro filme Bandalheira é de 75, mas todos que dele participaram eram meus conhecidos. Posso dizer que deles sofri uma grande influência na maneira de ver a nossa realidade, mas não ao retratá-la. Sou marginalizado, mas não sou um marginal, muito menos um herói. Não sou contra nem a favor a pirataria. Por um lado eu acho que a arte pertence a todos, é universal, mas no mundo capitalista para você ter acesso a ela é preciso pagar um preço absurdo. O que fazer? A arte e a cultura do povo é um dever do estado que deve incentivá-la, preservá-la e difundi-la. Isso acontece?
Antes de dirigir seu 1º longa você passou um tempo exilado na Europa. Ter ido para a Europa com 20 e poucos anos fez muita diferença na sua vida? O que você sugou da Europa naquela época?
- Não foi fácil deixar a família ,os amigos, o Brasil.Tinha 22 anos. Lá rodei o meu primeiro filme: um estudo cinematográfico de uma viagem a África do Norte que chamei de Misterius. Nunca finalizei o material. Usei trechos na edição do Amaxon. A Europa nada me deu a não ser o sentimento indescritível de estar livre, de viver com liberdade. Vi e revi alguns clássicos na cinemateca francesa. Visitei alguns museus. Conheci pessoas maravilhosas. Sobrevivi naquele mundo que com o passar dos dias tornava-se insuportável de saudades do Brasil.
No seu blog tem o roteiro de 6 filmes que ainda não foram produzidos. Escrever um roteiro é o suficiente para acalmar as ansiedades e as angustias do artista?
- O roteiro é um escrito em forma cinematográfica de algum texto que já existia anteriormente. Meus filmes nascem de projetos literários exercitados por mim: romances, contos, poesias, escritas avulsas, crônicas, etc., compõem o baú da criação de onde jorra diariamente água limpa. Depois vou sujando-a com as fontes da escrita. Do texto romanceado surge o roteiro e finalmente o filme. Mas confesso que muitas vezes pensei em parar no escritor. Seria mais fácil, embora escrever é mais difícil do que fazer cinema.
De onde vem o interesse por ciência e astrologia? Isso influencia sei trabalho?
- Sou um apaixonado pelo cosmo, pelas estrelas, galáxias, pelo universo e todo mistério nele contido. É preciso abstrair-se dos conceitos físicos da terra para abrir os olhos para o futuro. É quando eu observo o passado e entender que só o futuro é moderníssimo. Entender um é descortinar o outro. Amaxon é de certa maneira um filme futurista.
Quais suas maiores influências nas artes, na vida, no cinema?
- Minha avó paterna Luisa, me apresentou a poesia e os instrumentos musicais, piano e bandolim, ela abriu-me, quando ainda era uma criança, o coração para arte. Ativou a minha sensibilidade criativa que foi sendo consolidada por minha avó materna, Emília, professora,que me ensinou a estudar... Posso arriscar uma audácia e dizer que quem mais me influenciou foi o eu mesmo, sim! Não me lembro nos filmes que fiz que dissesse: Vou rodar esse plano a maneira daquele plano do Mario Peixoto no seu extraordinário filme O Limite. Não me lembro de ter pensado em Glauber Rocha quando filmei Um Filme 100% Brazileiro e nem em Julio Bressane quando filmei o Goeldi, muito menos em Rogério Sganzerla quando fiz o Bandalheira, menos ainda em Humberto Mauro quando filmei Labirinto.Pensei em Hitchcock, mas o meu Vertigem, por mais que esforcei,não tem nada do Vertigo original.O cinema nasceu em mim. Brotou com vontade própria, rebelde e sem medo. Posso dizer que a literatura foi um fator preponderante no meu universo cinematográfico. Li o primeiro livro sobre cinema aos quinze anos, em 1963,
“Elementos de Cinestética” do Padre Guido Logger, um professor que conheci q uando mudei do Rio para Belo Horizonte. Editora AGIR. Precisa aprender o que era fazer um filme. Estava escrevendo uma história sobre Belo Horizonte que depois transformei em Roteiro com o título de Cidade Sem Mar. Aos 16 anos já queria fazer cinema. Outros livros que me influenciaram definitivamente em relação a linguagem cinematográfica que depois iria praticar, foi do gênio Serguei Eisenstein “Reflexões de um cineasta” Editora ZAHAR.Fechando o ciclo eu mergulhei no livro do Haroldo de Campos, “Ideograma” Editora CULTRIX e descobri as bases do meu enigmático trabalho nas artes do cinema cultura, experimental e poético que tanto eu queria fazer.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Revista de Cinema Brasileiro para ler On-line
Descobri isso hoje, a conhecida Revista de Cinema Brasileiro, publicação específica sobre a produção audiovisual brasileira, além de ter um site (pouco atualizado, é verdade) disponibiliza sua versão impressa integral para ser lida gratuitamente, só não dá para fazer download. Estão no ar as últimas 9 edições, esta imagem acima é a capa da última edição, também disponível para leitura.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Viajo porque preciso, volto porque te amo
“Viajo porque preciso, volto porque te amo” é a obra de cinema mais intimista e ousada hoje em cartaz aqui em Juiz de Fora.
Aviso aos receosos à qualquer forma diferente de cinema que fuja ao clássico hollywoodiano, este filme não apresenta formalmente seu personagem principal, nós não o vemos, posso dizer que somos esse personagem. Todo o filme é composto por câmera subjetiva, vemos e ouvimos o que o personagem vê e ouve, nada além disso. O personagem é um geólogo em viagem de trabalho analisando terrenos áridos do nordeste que acabou de romper uma relação amorosa, durante todo seu trajeto não consegue parar de pensar na amada, sofrer, sonhar.
Na sessão que fui não havia mais de 10 pessoas na sala, durante a projeção 5 pessoas foram embora, li observação idêntica em outro blog, o que me chateou é que “Viajo...” não é um filme chato, daqueles difíceis para o público, com narrativa hermética e distinguível por poucos, pelo contrário, é um filme bastante simples sobre solidão, abandono, sentimentos tão comuns. Mostra o nordeste sem floreios ou distorções, apenas como o pior lugar para se estar quando se está mal consigo.
Difícil ás vezes é saber onde termina o diretor/roteirista e começa o personagem, por causa da forma usada há momentos em que ambos se fundem criando uma sensação especial, como na hora em que uma prostituta é entrevista. Alíás, quantas prostitutas! O nordeste parece estar cheia delas, todas as mulheres são prostitutas, ou tristes, ou prostitutas tristes, e para equilibrar, o único homem mais ou menos apresentado no filme é apontado como talvez alguém que nunca tenha brochado. Seres humanos como bichos prestes a explodir em uma suruba de 1 homem para 9 mulheres, mas essa é a visão alucinada do personagem carente de sexo e/ou atenção.
Cheio de belos planos e sons de estrada ao entardecer, o novo longa de Karin Aïnouz e Marcelo Gomes é o tipo de filme que já passou pela minha cabeça ter feito, não esta história, claro, mas na utilização de certas imagens. Sempre me senti bem em ver e ouvir o anoitecer e o amanhecer nas estradas, seja dentro de um carro ou de ônibus, esses momentos são para mim instantes gelados, muito reais e ao mesmo tempo misteriosos, hora mágica e rara perdida e de certa forma estagnada e eterna.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Sobre a experiência de iniciar um cineclube
Desde quando cheguei à Juiz de Fora, há 5 meses, tinha em mente pôr em prática um projeto de cineclube (na verdade o projeto se tratava de um ciclo de cinema francês, plano ainda não descartado). Os fatores foram se juntando e eis que neste final de semana, durante as comemorações de 160 anos da cidade, iniciamos as atividades do CineClube Bordel Sem Paredes.
Uma semana antes das exibições houve muita correria para formatar este blog e criar o 1º pôster/flyer para divulgação. Do próprio bolso imprimimos 10 pôsteres p/b tamanho A3, colorindo o título “Cinema Marginal Brasileiro” com giz a óleo vermelho para dar destaque, e imprimimos 400 flyers, também em p/b, e distribuímos esse material em algumas universidades e ambientes que julgamos possuir apelo cultural como livrarias, locadoras, cinemas, bibliotecas, museus, cafés, teatros, sebos, etc... E esperamos pelo sábado.
Sábado de estréia
Como trabalho num restaurante à noite não pude comparecer neste dia, mas o Daiverson (tão apaixonado por cinema como eu) estava lá para a 1ª sessão junto do Daniel, técnico de som da Funalfa e responsável pelo Anfiteatro João Carriço e mais 12 espectadores para a exibição de “Os Monstros de Babaloo” de Elyseu Visconti. Confesso que queria muito ter ido nesta sessão e ter visto este filme na tela grande, pois tenho consciência de que nesta situação, tamanho faz, sim, diferença.
Logo após, às 21hs, “Sem essa Aranha” de Rogério Sganzerla, provavelmente “O” grande filme do cinema brasileiro, sessão essa que também tive o desprazer de perder! O Daiverson disse que na tela grande o filme se transformou numa obra assustadoramente avassaladora, e que após essa sessão dupla ele ficou completamente extasiado de alegria tamanha a grandeza das imagens e movimentos que essas obras exalam. Essa mesma sensação descrita por Daiverson só tive, que eu me lembre, uma vez quando assisti ao longa “Japan, Japan”, filme israelense de 2007 dirigido por Lior Shamriz, detentor de ideais estéticos muito próximos destes filmes exibidos no cineclube. Lembro de ter perdido o fôlego em algumas cenas de “Japan, Japan”.
Das 12 pessoas na 1ª sessão apenas uma pessoa ficou para a 2ª, completada com mais três espectadores que entraram apenas para ver “Sem essa Aranha”. O público se mostrou chocado com as imagens desses filmes e o que parecia uma brincadeira visto na tela pequena se transformou em algo perturbador na tela grande.
Cinema Moderno é para poucos
Aqui em Juiz de Fora existe o projeto “Cinema Para Todos”, que aos domingos exibe filmes gratuitamente no mesmo anfiteatro onde exibimos nossos filmes depravados neste final de semana. O público desse projeto é cativo e formado na sua maioria por senhores e senhoras, cidadãos comuns. Antes da 1ª sessão no domingo uma senhora me perguntou qual filme exibiríamos, eu respondi “O Bandido da Luz Vermelha” e fez cara feia ao saber que o filme seria: 1º) brasileiro, 2º) de 1968 e 3º) em preto e branco! “Que absurdo!” deve ter ela pensado. Foi a 1ª a deixar a sessão junto de sua amiga. Havia não mais de 10 pessoas na sala quando o filme começou, 13 se contando eu, o Daiverson e o Daniel.
O mais interessante foi que nenhuma das pessoas em que focamos nossa divulgação compareceu! Lembro que ao mesmo tempo das nossas sessões a cidade explodia em festas, shows, peças e apresentações culturais de todos o tipos, devido o “Corredor Cultural 2010”. Todos aqueles senhores que foram ver um filme domingo a noite são os mesmos senhores que sempre vão, aos domingos a noite, ver um filme gratuitamente no Anfiteatro João Carriço. Ao término de “O Bandido da Luz Vermelha” esses senhores foram embora, ficando na sala apenas nós, os 3 responsáveis. Após um bate papo enquanto esperávamos alguém chegar para a sessão das 21hs, e não chegou ninguém, decidimos passar não o filme que estava na programação (o pouco visto “Hitler IIIº Mundo”), mas sim “Bandalheira Infernal” de José Sette (que tinha entrado e saído da programação), filme que eu ainda não tinha visto e que tinha levado junto comigo já premeditando uma situação como esta. Posso dizer também que este era o único filme com licença para exibição pública, visto que o próprio diretor do longa tinha me presenteado com o dvd para tais finalidades.
Já começado o filme há uns 15 minutos entrou um casal (de amigos? namorados? irmãos? Gostaria de saber quem eram e como acabaram por entrar na sessão), ficaram uns 20 minutos e foram embora. As cenas que estavam passando eram fragmentadas e desprovidas de uma narrativa que privilegiasse o entendimento e a continuidade lógica. Cinema moderno é para poucos, mesmo! Durante a sessão de “Bandalheira Infernal” me senti dentro de um filme vendo um filme. Foi uma sensação metafísica, compartilhada também por Daiverson.
Difícil digerir facilmente o primeiro longa do Sr. Sette, não é o tipo de filme que você simplesmente vê e gosta, ou não gosta. Ele exige mais do espectador, exige discussão, diálogo interno, sei que preciso ver este filme mais vezes para poder assimilar com mais clareza as idéias, senti que ali há algo que me instiga e me deixa curioso. Muitos enquadramentos são esteticamente bem elaborados, mas não é a beleza plástica representada a finalidade do filme. Narrativamente caótico e esculhambado (no bom sentido), deflagra as incertezas e perseguições (real ou imaginária) vividas pelos brasileiros na década de 70 durante a ditadura militar.
Vida longa ao CineClube Bordel Sem Paredes!
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Viajo porque preciso, volto porque te amo
Ví ontem aqui em Juiz de Fora e gostei muito, achei bem menos pretensioso e hermético do que diziam por aí. Vou começar a escrever um texto sobre ele agora.
ps: deu vontade de roubar o poster do cinema, ele é lindo!
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