sexta-feira, 26 de novembro de 2010

RECIFE: CAPITAL MUNDIAL DO CINECLUBISMO









Pelos Direitos do Público!


Na próxima semana, estaremos participando de um evento marcante para a história do cineclubismo no Brasil

Celebrar a consolidação da rearticulação do movimento cineclubista brasileiro, sua reconhecida
liderança e protagonismo no cenário mundial nas lutas pela democratização do acesso à cultura audiovisual, pelo fortalecimento das diversidades e identidades culturais e pelos direitos do público. Estes são os principais objetivos da 28ª Jornada Nacional de Cineclubes, da 3ª Conferência Mundial de Cineclubismo e da Assembléia Geral da FICC - Federação Internacional de Cineclubes que serão realizadas entre 5 e 11 de dezembro em Recife (PE).
Organizados pelo CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros em parceria com a FEPEC - Federação Pernambucana de Cineclubes e com a FICC - Federação Internacional de Cineclubes, os eventos já tem confirmadas as participações de delegados de mais de 250 cineclubes que
desenvolvem atividades de difusão audiovisual em todos os 27 estados brasileiros, de representantes
de federações nacionais cineclubistas filiadas à FICC - Federação Internacional de Cineclubes em mais 50 países do mundo, de lideranças das principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e das mais importantes autoridades governamentais da cultura do brasileiros.

Segundo Antonio Claudino de Jesus, presidente do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros e Vice Presidente da FICC - Federação Internacional de Cineclubes “neste período, Recife será momentaneamente a capital mundial do movimento cineclubista e neste sentido, todas as milhares de pessoas que no mundo inteiro lutam e militam pela democratização do acesso à informação, aos meios de acesso e aos instrumentos do fazer cultural, pelo respeito e fortalecimento das identidades e diversidades culturais e pelos direitos do público, estejam ou não presentes, estarão antenados e acompanhando os debates que acontecerão na capital pernambucana”.

Ainda segundo Claudino de Jesus, a realização destes eventos em Recife além de marcar a consolidação da rearticulação do movimento cineclubista brasileiro iniciada em 2003, fortalecerá ainda mais a liderança e protagonismo que vêm sendo desenvolvidos pelos cineclubistas brasileiros nos últimos anos, quer no cenários dos movimentos do audiovisual nacional ou internacional.

“Estaremos em Recife comemorando os resultados alcançados por um processo iniciado em 2003, numa situação na qual o movimento cineclubista brasileiro se encontrava completamente desorganizado e desarticulado nacional e internacionalmente. Lembro-me bem. Na primeira reunião que foi articulada com o objetivo de resgatar e reorganizar o movimento cineclubista brasileiro, organizada pelo companheiro Leopoldo Nunes, que na época era chefe de Gabinete do Ministro Gilberto Gil, éramos menos que uma dezena de cineclubistas. Tal reunião resultou na realização da 24ª Jornada Nacional de Cineclubes que aconteceu em 2004 durante o Festival de Brasília e que contou com a participação de representantes de cerca de 60 cineclubes brasileiros. Pois bem, sete anos depois, graças a militância de centenas de novos
militantes, do apoio e das políticas públicas implantadas pelo Governo Federal (e também de alguns governos estaduais e municipais) fico extremamente feliz em anunciar ao Brasil e ao mundo todo de que hoje o movimento cineclubista brasileiro está vivo e mais atuante como nunca se verificou na história. Prova disso é que nacionalmente, o CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros conta hoje com cerca de 500 cineclubes filiados e está presente em todos os 27 estados da federação, dentre os quais em pelo menos 5 já conseguimos nos rearticular institucionalmente em nível estadual. E isso ainda é pouco já que sabemos que
existem atualmente mais de 1000 cineclubes em atividade no país. Já do ponto de vista da participação e representação institucional junto às instâncias nacionais e internacionais do setor audiovisual temos também muito a comemorar, afinal, restabelecemos, fortalecemos e avançamos muito dentro da proposta inicial que era de apenas recuperar os espaços que tínhamos perdido. Prova disso é que hoje, através do CNC, o movimento cineclubista brasileiro ocupa a vice presidência da FICC - Federação Internacional de Cineclubes, vários cargos na Diretoria Executiva e no Conselho do CBC - Congresso Brasileiro de Cinema, restabeleceu parcerias com as principais entidades não governamentais do audiovisual brasileiro e participa
de vários instâncias consultivas e deliberativas governamentais federais, estaduais e municipais.”

Finalizando, o Presidente do CNC declarou: “Temos sim muito a comemorar, mas sabemos que a luta continua e que portanto, precisamos nos manter unidos e molilizados. E este é o sentido e o objetivo maior destes eventos que realizaremos em Recife.”

Política Cineclubista


Já o secretário geral e diretor de comunicação do CNC, João Baptista Pimentel Neto destacou a importância política das atividades que serão realizadas em Recife. “É verdade. Teremos muito a comemorar e celebrar em Recife. É importante porém que seja registrado que durante os eventos acontecerão as eleições para as novas diretorias do CNC - Conselho Nacional deCineclubes Brasileiros e da FICC - Federação Internacional de Cineclubes.”

Segundo Pimentel, apesar de tratarem-se de assuntos aparentemente de ordem interna no movimento, o resultado destas eleições são da maior importância para o cineclubismo brasileiro e mundial. “A escolha de novos dirigentes para o CNC e para FICC serão certamente um dos temas mais importantes dos eventos, já que serão determinantes para que o processo atual tenha continuidade. Acredito que diante dos resultados que serão apresentados, não encontraremos problemas quanto a continuidade e assim, o movimento cineclubista brasileiro acabará certamente consolidando sua liderança mundial, alicerçada na continuidade do processo que vêm sendo desenvolvido nacionalmente.”

Ainda segundo Pimentel, o maior indicativo disso é que pela primeira vez na história a FICC - Federação Internacional de Cineclubes realiza uma Assembléia Geral na América do Sul, sendo que durante seus 60 anos de existência, tal atividade aconteceu uma única vez fora da Europa. “A Assembléia Geral da FICC só aconteceu fora da Europa há 25 anos atrás, em Cuba. E isso é também um mote comemorativo. E indica que finalmente o Brasil e o movimento cineclubista brasileiro estão prontos e aptos para exercer a lidença mundial.”

Homenagens e atividades paralelas


Durante o evento acontecerão ainda várias atividades paralelas, dentre as quais merecem destaque a realização de várias mostras de cinema nacional e internacional. Como por exemplo a Mostra que reunirá os principais filmes do premiado cineasta iraniano Kamran Shirdel, praticamente inédita no Brasil.

Serão ainda prestadas várias homenagens a personalidades nacionais e internacionais que receberão do CNC o Prêmio “Paulo Emílio Salles Gomes e certificados de reconhecimento aos serviços prestados à cultura, ao audiovisual e ao cineclubismo.


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cidade dos Sonhos



Por Juliana Fausto

Ao assistir a Cidade dos Sonhos, tem-se a impressão de que tudo ali já foi visto antes, no cinema do próprio David Lynch; referências a Twin Peaks, Veludo Azul, Coração Selvagem e Estrada Perdida aparecem a todo momento e com uma tal profusão que, à primeira vista, pode-se pensar que o cineasta não fez senão repetir-se, reciclar seus próprios temas sem sair do lugar. Mas uma segunda olhada pode nos mostrar que Lynch sabia bem o que estava a fazer e que, ainda que seu ponto de partida seja o diálogo com a sua própria obra, que esse diálogo não é nunca estático.

Cidade dos Sonhos começa com um acidente de carro que salva uma mulher (Laura Elena Harring) de ser assassinada; com amnésia total, ela vaga por entre casas até resolver se alojar na residência de uma senhora que parte naquele momento para viajar. Acontece que a tal senhora havia emprestado seu apartamento para uma sobrinha vinda do interior para tentar a sorte como atriz ali, em Hollywood. Essa sobrinha, Betty (Naomi Watts), exemplo de boa moça, encontra a acidentada e, ao saber de sua história – isto é, daquilo que a outra se recorda, de que esteve envolvida em uma batida de carros – resolve ajudá-la a descobrir a sua verdadeira identidade. Uma cena antes, aparentemente desconectada do resto da ação, dá já o tom do filme: dois homens conversam em uma coffee shop; o primeiro narra ao segundo um sonho horrível que teve. Ali, naquela mesma lanchonete, ele via o amigo nervosíssimo a fitar o horizonte e acabava por se apavorar ele mesmo, ao descobrir a razão do sofrimento do outro: um homem horrível atrás de uma parede. Como que para se purgar de tal pesadelo, ele pede ao amigo que o acompanhe até essa parede, que fica do lado de fora da coffee shop; o amigo vai. Eles seguem lentamente até que surge, por detrás do muro, um rosto horrendo, que olha o homem do sonho. Esse olhar é suficiente para que ele caia no chão, terrificado. Alguns momentos antes, dizia ao amigo: "Espero não ver nunca aquela face fora do sonho". Cidade dos Sonhos é um sonho. E um pesadelo.

O filme como que se divide em duas partes - à maneira de Estrada Perdida: na primeira, a história da amnésica; na segunda, uma espécie de variação da primeira história, com as personagens em outros papéis. Em ambas, trata-se de um sonho. Mas não um sonho do tipo que pode ser explicado pela psicologia. Como sempre, em Lynch, os signos não fazem referência nunca a algo externo, mas existem em si, como signos, fundamentalmente; o sonho lynchiano não revela nenhum desejo oculto de personagem, não se baseia em experiência psicológica ou remete a algo fora de si mesmo. Para realizar esse tipo de sonho, neste filme, o cineasta se vale do superlativo: atuações exageradas e cores fortes dão o tom de seu sonho/pesadelo, que não é em relação com a realidade, mas funciona como um certo tipo de percepção. O seu exagero não faz de Mulholland Drive, porém, uma caricatura risível; antes, ele busca seriedade em cada clichê que lança – e são muitos, sendo esse mesmo o motivo pelo qual se pensa que o filme é somente uma repetição vazia do que o cineasta realizou até aqui, quando, em verdade, o diálogo que se trava é com todo um sentido de cinema – desde o momento em que decide se utilizar deles no sentido fundante que os transformou a cada um em clichês.



Mas aqui, ao contrário de Estrada Perdida – em que primeira e segunda parte, por se localizarem em uma mesma dimensão, não faziam nenhum sentido juntas – é a segunda parte que, alterando totalmente o sentido da primeira, põe em cena o destino do qual não se pode fugir, tema tão caro a Lynch. A segunda parte é o pesadelo da primeira e, ao mesmo tempo, a primeira parte, a fantasia da segunda. Mas nas duas há um ponto comum: o amor que Betty/Diane sente por Rita/Camilla, a acidentada da primeira parte. Ou seja, estamos sempre em território lynchiano, o terreno da paixão, terreno em que, não importa o que se faça, há que se sempre cumprir seu destino. A paixão aqui, leva até aquilo que os franceses chamam de effondrement, um tipo de afundamento, de desmoronamento. É o duplo desmoronamento de Betty/Diane que presenciamos.

Em determinado momento do filme, as duas amantes vão assistir a um espetáculo; nele, o mestre de cerimônias fala: "Não há orquestra. Não há orquestra. Está tudo gravado". Isso resume a intenção do diretor porque diz: está tudo gravado, tudo determinado já de antemão. Não importa o que se faça, há de se eternamente chegar ao mesmo lugar. Nesse sentido, o que importa é muito menos a conseqüência da ação do que ela, como percepção e experiência, em si. E se esse é o tema que vem perpassando todo trabalho de Lynch, ele aqui atinge, talvez, seu ponto mais alto: porque cada elemento do seu Cidade dos Sonhos converge univocamente para um lugar, o cinema.


QUARTA- 24/11 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma história real
















Perturbante. É o que se pode dizer deste filme de David Lynch porque nos desarma com a sua simplicidade. Perturba essencialmente porque nos mostra a vida em todo o seu esplendor humano – algo a que não estamos realmente acostumados.
Baseada em fatos verídicos, esta é a história de um agricultor já idoso que atravessa, montado num cortador de grama, dois estados dos EUA para fazer as pazes com o seu irmão com quem já não falava há muitos anos. A sua determinação e coragem o levam a enfrentar e vencer todas as adversidades da viagem para concretizar o seu desejo. Simples e direto o confronto com a natureza humana: deixar para trás o orgulho ferido de um desentendimento antigo e dar o primeiro passo em busca da possível reconciliação.

QUARTA - 17/10/10 - 19H VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO 

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O "Coração Selvagem" de Lynch

A sessão do Cineclube Bordel Sem Paredes desta semana apresentou "Coração Selvagem", vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 1990, e reconhecido como um dos filmes mais acessíveis da carreira de David Lynch - nesse aspecto, talvez seja superado apenas por “O Homem Elefante”, de 1980, o qual foi exibido no dia 03/11 pelo Cineclube, iniciando a mostra "O belo mundo bizzaro de David Lynch".

Após "Coração Selvagem", foram sorteados o DVD do curta "O Móbile", e o livro “O Delírio de Apolo: sobre teatro e cinema” de Evandro Medeiros, ambos projetos patrocinados pela Lei Murilo Mendes de incentivo à cultura. O sorteio se deu através de uma ação promovida pelo twitter do cineclube.

Na próxima quarta, "Uma história real", longa de 1999 do belo bizarro cineasta americano, dando prosseguimento à mostra.


Siga o cineclube pelo twitter e acompanhe a programação e as promoções. http://twitter.com/cineclubebordel

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Coração Selvagem





















Vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 1990, o road movie “Coração Selvagem” (Wild at Heart, EUA, 1990) é reconhecido como um dos filmes mais acessíveis da carreira de David Lynch (nesse aspecto, talvez seja superado apenas por “O Homem Elefante”, de 1980). Na época do lançamento original nos cinemas, os fãs mais radicais da obra pregressa de Lynch comentavam que o filme poderia marcar a rendição do diretor, então considerado um dos mais herméticos em atividade nos EUA, ao cinema mais comercial. Para os mais incrédulos, o cineasta provaria depois, com longas-metragens intrincados e delirantes como “Cidade dos Sonhos” (2001), que não havia se vendido ou coisa parecida.

Na verdade, não é necessário conferir filmes mais recentes para comprovar que o olhar bizarro e a sensibilidade pós-moderna do cineasta continuam intactos. Basta uma olhada mais atenta ao próprio longa de 1990 para confirmar isto. Violento, visceral e repleto de imagens oníricas, com textura de pesadelo, “Coração Selvagem” concentra todas as obsessões de David Lynch em uma galeria inesquecível de personagens carregados de símbolos da cultura pop: o casaco de pele de cobra de Sailor Ripley (Nicolas Cage), o chiclete eterno de Lula (Laura Dern), os dentes podres de Bobby Peru (Willem Dafoe), os cabelos loiros desgrenhados das gêmeas más vestidas de preto (Grace Zabriskie e Isabella Rossellini), o assassino negro da moeda de prata que usa terno púrpura (Calvin Lockhart).

Ligando os personagens, outra série interminável de motivos caros ao cineasta, como citações a Elvis Presley e Marilyn Monroe, além de referências múltiplas ao clássico infanto-juvenil “O Mágico de Oz” (1939). A trilha sonora, com trechos incidentais compostos pelo próprio Lynch, resume com perfeição a qualidade pós-moderna do trabalho, pois mistura indistintamente estilos aparentemente inconciliáveis, como rockabilly, ópera, trechos clássicos orquestrados e heavy metal brutal. Apesar de parecer uma salada indigesta, a fusão de todos esses elementos do imaginário pop se revela coesa e bem amarrada, graças ao talento de narrador de David Lynch, que constrói um road movie violento, sensual e repleto de humor negro.



A história acompanha uma viagem de carro empreendida por um jovem casal. Sailor (Cage) e Lula (Dern) não estão em busca de algo em particular. Apenas fogem da mãe dela, Marietta (Diane Ladd, mãe verdadeira de Laura Dern), uma perua histérica que tem a mania de se vestir como atrizes famosas do passado. Na estrada para o Texas, eles são perseguidos por um detetive (Harry Dean Stanton) e um matador (J.E. Freeman), e encontram personagens aterrorizantes, como o assaltante Bobby Peru (Willem Dafoe) e a figura sinistra de Juana Durango (Grace Zabriskie). A imagem desta última, com o rosto vincado de rugas, o cabelo loiro mal pintado e a bengala de metal, é aparição garantida nos piores pesadelos do espectador desavisado. Material de provocar arrepios.


Divertindo-se a valer, o elenco numeroso oferece performances exageradas e deliciosas. Não foram poucos os atores que desenvolveram neste filme maneirismos que os acompanhariam para sempre, caso tanto de Cage quanto de Dern. Mas o maior destaque vai provavelmente para Willem Dafoe, que protagoniza a seqüência mais espetacular, uma visitinha ao quarto imundo do hotel vagabundo do casal, quando encontra Lula sozinha e enjoada. Trata-se de um exemplo perfeito de como uma montagem adequada pode alterar suavemente a atmosfera de uma mesma cena, várias vezes, indo do bem-humorado ao aterrorizante, e daí ao sensual, e ainda assim permanecer completamente acreditável. “Coração Selvagem” não é para todo mundo, mas admiradores do cinema impressionista de David Lynch, e fãs de filmes absurdos de modo geral, vão amar.

QUARTA - 10/10/10 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO 

O Belo Mundo Bizarro do Homem Elefante

O filme "O Homem Elefante" abriu a mostra "O Belo Mundo Bizarro de David Lynch". Cerca de 30 pessoas estiveram presentes para assistir ao segundo filme de David Lynch, que com esse filme passou a ficar conhecido do grande público, tendo inclusive sido indicado ao Oscar.  Ao mostrar o drama de John Merrick, um homem deformado por elefantíase que é atração de um circo de bizarrices, o filme faz referencias ao clássico "Freaks" de 1932. Ao mostrar um homem com aparência de monstro e alma sensível se transformando em uma celebridade às avessas, o filme faz pensar em algumas questões muito atuais, como o circo da mídia sensacionalista que explora pessoas e situações. Segundo a professora Manuela Martins, o cineclube é uma ótima oportunidade de conhecer a obra de David Lynch, identificando em cada filme a marca do diretor.
















quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Teaser David Lynch

Com filmes que deixam o convencional de lado e ultrapassam as barreiras da criatividade, David Lynch consegue causar medo com tomadas aparentemente banais e deixar dúvidas até onde não deveria

O Homem Elefante





































Por Emílio Franco Jr. 



O hoje consagrado diretor David Lynch dirigiu O Homem Elefante (The Elephant Man, 1980) no início de sua carreira. Com o filme indicado a oito prêmios Oscar, Lynch já se destacara desde então como um cineasta diferenciado. Filmada em preto-e-branco, a história real do homem de rosto e corpo desfigurados, que é usado como atração principal pelo dono de um circo na Inglaterra vitoriana, é uma bela lição sobre humanidade.

A trama é desenhada com clareza e a narrativa, simples e objetiva, contrasta com o Lynch de tramas complexas como o de Cidade dos Sonhos (Mullholand Drive, 2001). Contido, sem maneirismos inovadores, o diretor segue à risca a cartilha de filmagem do cinema clássico e se sai muito bem – anos mais tarde, pôde se arriscar com o abstrato que o consagrou entre os cinéfilos.

Logo de início, o circo apresenta seu show de bizarrices, no qual o homem elefante, interpretado por John Hurt, é a atração principal. Tratado como se fosse de fato um animal em razão de sua rara doença, o homem que posteriormente se apresenta como John Merrick sente-se coagido e parece não conseguir enxergar em si próprio um ser humano. Apenas quando o Dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) se revolta com a exploração que é feita de John e resolve tentar ajudá-lo de alguma forma, é que o próprio homem elefante começa a se descobrir com alguém tão normal como qualquer outro.

John Merrick pode parecer, a princípio, uma exceção em razão de seu físico, mas, na verdade, é a representação de algo/alguém que foge da normalidade cotidiana, daquilo que é classificado como comum, e por isso sente na pele o preconceito, já que tudo o que é diferente tende a ser visto com receio e medo pela sociedade. A situação enfrentada pelo homem elefante não difere de problemas pelos quais outras muitas pessoas com alguma deficiência ou diferença passam.

É assim, ao realizar essa identificação com o espectador, que a história se estabelece como uma narrativa atemporal – e faz sua mensagem ser compreendida e, acima de tudo, sentida. Sensível na construção do enredo, O Homem Elefante mostra a jornada de autodescobrimento de um homem que, por ser diferente, aceitava de forma passiva ser considerado uma aberração. O desenvolvimento do personagem e suas novas percepções de mundo emocionam.



Explorado durante muito tempo pelo responsável pelo circo, John sente-se sempre na defensiva e é incapaz de cometer um ato de maldade contra aqueles que ainda se aproveitam de sua imagem e o maltratam, justamente por ser, no fim das contas, um ser humano, expondo, ao mesmo tempo, o lado animal - e desumano - daqueles que se consideram normais. E é quando o próprio médico reflete sobre seu caráter, ao ponderar a hipótese de ter se tornado aquilo que condenava por ter alcançado fama e prestígio ao acolher e auxiliar John, que ele se diferencia dos demais. Esta é uma questão que o diretor entrega ao público, mas ao se questionar, o médico acaba mostrando que em seu ato nunca houve a intenção de se beneficiar da doença de John. A exposição que um dia foi maléfica para o homem passa a ser o que lhe garante o apoio da aristocracia inglesa e o resgata da condição de animal para a de um artista sensível sem condições físicas de demonstrar seu talento – e até por isso os minutos finais são tão emblemáticos.

O Homem Elefante marca o espectador com a construção de seu desfecho.  A cena da estação de trem, por exemplo, na qual John se sente acuado e intimado pelo olhar reprovador dos demais, proporciona frases clássicas que, pelo contexto, tornam-se emocionantes: “não sou um elefante”, “não sou um animal”, “sou um ser humano”, “sou...um homem”. John Merrick foi um homem que conviveu boa parte de sua vida cercado por animais.

HOJE - 03/11 - 19H NA VIDEOTECA JOÃO CARRIÇO 

O Belo Bizarro David Lynch





Com filmes que deixam o convencional de lado e ultrapassam as barreiras da criatividade, David Lynch consegue causar medo com tomadas aparentemente banais e deixar dúvidas até onde não deveria. O diretor gosta de personagens bizarros, seus encontros e desencontros são apresentados com um olhar vertiginoso, tenso. O experimentalismo sempre foi utilizado em sua obra, o lado obscuro do ser humano também. Pode-se gostar ou odiar, mas ficar indiferente, jamais. A estrada de Lynch é luminosa

Diz-se normalmente que Lynch transformou-se em um cineasta obscuro, destes que amam narrativas que se dissolvem em um emaranhado de labirintos e falsas pistas. Mas podemos dizer também que é alguém que deixa muito claras suas intenções. Preparem-se para sentir desconforto, rirem, chorarem ou sentirem repugnancia, o Cineclube Bordel sem Paredes te convida e adentrar pela mente sombria de um dos diretores mais originais do cinema moderno.


03/11 


















O Homem Elefante (1980)
118 minutos 
Baseado em fatos reais, "O Homem Elefante" reconstitui a vida de um rapaz que nasceu com uma terrível deformidade física. No filme, John Merrick (John Hurt) sofre uma horrível deformação de nascença, provocada por uma doença rara. Seu rosto, horrivelmente desfigurado, manifesta traços de um elefante. Encurralado num cruel show itinerante e explorado como uma bizarra atração circense, Merrick sofre o tormento da exclusão da sociedade, até que um jovem cirurgião de nome Frederick Treves (Anthony Hopkins) resolve salvá-lo. 
À medida em que o filme se desenvolve, vemos neste conto emocionante a descoberta que Treves faz da personalidade gentil e pacífica de Merrick, inerte sob sua desfigurada aparência. Contando com um ótimo elenco, "O Homem Elefante" é um filme comovente e tocante, considerado por muitos como um dos melhores trabalhos de David Lynch.

10/11 

















Coração Selvagem (1990)
98 minutos
Dois jovens amantes, Sailor e Lula, vivem uma intensa relação amorosa numa viagem cheia de surpresas. Lula tenta escapar da mãe louca e obsessiva. Sailor acaba de sair da prisão. não têm certeza para onde vão ou o que fazer. Seguem, estrada afora, numa exótica viagem pelo sul dos Estados Unidos, onde deparam-se com as mais estranhas pesonagens e com acontecimentos não menos curiosos. Um conto de fada contemporâneo em forma de filme de estrada.

17/11

















Uma história Real (1999)
Perturbante. É o que se pode dizer deste filme de David Lynch porque nos desarma com a sua simplicidade. Perturba essencialmente porque nos mostra a vida em todo o seu esplendor humano – algo a que não estamos realmente acostumados.
Baseada em fatos verídicos, esta é a história de um agricultor já idoso que atravessa, montado num cortador de grama, dois estados dos EUA para fazer as pazes com o seu irmão com quem já não falava há muitos anos. A sua determinação e coragem o levam a enfrentar e vencer todas as adversidades da viagem para concretizar o seu desejo. Simples e direto o confronto com a natureza humana: deixar para trás o orgulho ferido de um desentendimento antigo e dar o primeiro passo em busca da possível reconciliação. 

24/11

















Cidade dos Sonhos (2001)
140 minutos
Um acidente automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Harring) escapa da colisão, mas perde a memória e sai do local rastejando para se esconder em um edifício residencial que é administrado por Coco (Ann Miller). É nesse mesmo prédio que vai morar Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à cidade que conhece Rita e tenta ajudar a nova amiga a descobrir sua identidade. Em outra parte da cidade o cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), após ser espancado pelo amante da esposa, é roubado pelos sinistros irmãos Castigliane. 

01/12


















Veludo Azul (1986)
120 minutos 
Jeffrey Beaumont (MacLachlan) regressa da universidade à sua cidade natal para visitar o pai que está internado no hospital após um ataque cardíaco. Passeando pelo campo encontra uma orelha humana, que leva e entrega à polícia. Desejando saber mais pormenores sobre a sua lúgubre descoberta vai à casa do detective Williams (Dickerson), encarregue do caso, mas este mostra-se extremamente evasivo. A filha do polícia, Sandy (Dern) vem falar com ele, saindo das sombras, na rua. Mais tarde encontram-se e ambos combinam levar a curiosidade por diante, principalmente depois de Sandy referir um nome que ouviu o pai proferir: Dorothy Vallens (Rosselini), cantora num bar das proximidades e cujo marido foi raptado. A estratégia de ambos leva a que Jeffrey queira espiar a casa de Dorothy, e cedo se vê envolvido com um malfeitor da pior espécie - Frank Both (numa magnífica interpretação de Hopper), e poderá ser o destinatário de uma das suas "cartas de amor". 

08/12





















Eraserhead  (1977)
89 minutos 
Henry Spencer (Jack Nance) é um reservado operário de uma fábrica que se vê obrigado a casar com Mary X, uma antiga namorada que se diz grávida dele. O bebê nasce uma aberração, que faz com que Mary abandone Henry para ele cuidar da 'criatura' sozinho.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Sétimo Selo na tela grande

O filme de Ingmar Bergman, O Sétimo Selo foi atração da última quarta no Cineclube Bordel sem 
Paredes. A sessão foi seguida de um bate-papo informal onde os espectadores puderam expor suas opiniões sobre a obra que provoca a reflexão através de temas como a morte, a religião e a guerra.Segundo um dos presentes, o melhor do cineclube é poder discutir os filmes após as sessões e através das impressões de cada espectador poder pensar sobre os temas abordados no filme.